Depois que uma banana comprada por 35 centavos de dólar foi arrematada na Sotheby’s por US$ 6.2 milhões, ninguém se sinta ofendido se receber uma unidade da fruta como presente de Natal, contanto que venha afixada numa tela em branco por meio de uma tira de fita adesiva. Transcorrida a data festiva, resista ao impulso de se desfazer do quadro; em vez disso, pendure-o na parede da sala, dizendo tratar-se de uma reprodução do original. As visitas ficarão impressionadas e indagarão quanto vale. “Não sei, foi presente, e presente não se pergunta o preço”, responderá você, entre a modéstia e a superioridade.
Receber de presente uma reprodução da banana da Sotheby’s, no entanto, traz dois inconvenientes. O primeiro, é que sempre haverá quem duvide da autenticidade da cópia, olhando a peça com desdém, dando a entender que não passa de uma fraude desprovida de qualquer valor. O segundo, é que esse tipo de presente requer manutenção periódica. Bananas apodrecem, o que significa que a sua necessitará ser trocada com regularidade, como também a tira de fita adesiva, para que não perca a aderência. Portanto, atenção: quando mosquinhas começarem a voejar em torno do quadro, será hora de realizar a troca.
Nessa mesma linha de presentear com objetos de arte contemporânea, haveria outras alternativas, de manutenção mais simples. No campo da literatura, por exemplo, por que não oferecer um livro jamais escrito? Vá na papelaria e compre um caderno de folhas sem pauta; a seguir, faça uma encadernação e na capa escreva o título: Mensagens do Silêncio. Quem receber o livro, todo feito de páginas em branco, ficará perplexo ante tamanha originalidade. Lembre-se de dizer ao agraciado para avisar se resolver fazer anotações no corpo da obra. Nesse caso, deverá ser acrescentada a palavra “Rompido” ao final do título.
No campo da arte escultórica, uma boa ideia seria adquirir um vaso comum, de vidro transparente. Em vez de flores, enfie nele um espanador de pó, com o cabo contra o fundo e as penas coloridas voltadas para cima. Além de decorativo, esse é um presente que encerra um potencial utilitário importante, aplicável a qualquer cômodo da casa.
No campo da música, uma ótima sugestão seria a de acoplar uma concha marinha à extremidade de uma flauta doce. O presente poderia levar o nome poético de “A Concha Doce Acústica”. Sabe-se lá quanto viria a render esse inusitado objeto numa casa de leilões de arte.
Mas…e se o seu Natal não tiver nada disso?
Então, simplesmente, erga as mãos para os céus e agradeça, pois você estará livre de presentes bananatalinos!
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Bert Jr. é gaúcho de Porto Alegre, formado em História (UFRGS) e Diplomacia (IRBr). Como diplomata, tem vivido em diferentes países. É autor de dois livros de contos, três de poesia, e do romance Antes do fim do riso. Lançou, também, Sem pé com cabeça – crônicas do século 21, coletânea de escritos humorísticos publicados na Revista Conexão Literatura.
Site: www.bertjr.com.br