Entre 27 e 28 de agosto, encontro será realizado na Casa Firjan e irá refletir sobre a cidade do Rio de Janeiro 30 anos depois do lançamento do livro icônico de um dos escritores e jornalistas mais reconhecidos do Brasil. São seis mesas de debates, com 25 palestrantes. Entre eles, Itamar Silva, Eliana Sousa Silva, Tainá de Paula, Silvia Ramos, Rubem César Fernandes, Caio Fábio e Caio Ferraz. O evento ainda marcará o lançamento de um livro de autoria coletiva com artigos de importantes pensadores da cidade, entrevistas com personagens que fizeram parte do livro “Cidade Partida” e uma conversa inédita com Zuenir Ventura. As inscrições para o seminário são gratuitas e podem ser realizadas até 27 de agosto.
O Seminário “Cidade Partida – 30 Anos Depois” está com inscrições gratuitas abertas até 27/08. Iniciativa da Firjan SESI, da Blooks Projetos e da Mina Comunicação e Arte, o evento acontece na Casa Firjan nos dias 27 e 28 de agosto e propõe um diálogo sobre temas e fatos reportados por Zuenir Ventura no livro “Cidade Partida”. Lançado em 1994 pela Companhia das Letras, a obra é um mergulho do escritor por dez meses na favela de Vigário Geral, após as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, ocorridas em 1993.
A proposta do seminário, que contará com seis mesas e 25 palestrantes, é olhar para o Rio de Janeiro nesse tempo que passou e dialogar com jornalistas, escritores(as), historiadores(as), ativistas, lideranças comunitárias, especialistas em segurança pública, arquitetos(as) e urbanistas, pesquisadores(as), professores(as) e estudantes de áreas afins que queiram pensar e cuidar da cidade. A curadoria do encontro é de Elisa Ventura e Isabella Rosado Nunes, juntamente com o Comitê Consultivo do projeto, formado por Itamar Silva, Eliana Sousa Silva, Mauro Ventura e Silvia Ramos.
No seminário “Cidade Partida – 30 Anos Depois”, a pauta é sugerida por Zuenir Ventura e compreende temas como mobilização social, comunicação, cultura, violência, territórios, preconceitos, religião e poder, discussões que seguem atuais. Questões vivenciadas pela cidade há 30 anos e que continuam presentes no cotidiano do carioca.
“Como jornalista e escritor, me sinto feliz que o livro não tenha ficado datado e continue estimulando debates e provocando discussões. E que tenha apresentado ao leitor uma cidade dentro da cidade, desvelando um mundo riquíssimo de pessoas, eventos e acontecimentos. Mas, como cidadão, lamento que muitas das questões citadas em ‘Cidade Partida’ continuem atuais, como a desigualdade social, a discriminação, a ausência do poder público, a violência policial e o domínio de territórios por grupos criminosos. Eu preferia que, a essa altura, estivéssemos falando de Cidade Unida”, declara Zuenir Ventura, que completou 93 anos em junho deste ano.
O presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, faz questão de ressaltar a relevância de a Firjan SESI realizar um projeto como “Cidade Partida – 30 Anos Depois”, visto que esta é uma saudação a um dos maiores escritores e jornalistas brasileiros e a um livro de grande importância para o entendimento do Rio de Janeiro. “Quando ele produziu esta obra formidável, trouxe sua visão social que nos desperta ainda hoje para a injustiça social existente na cidade e, também, em todo o país. Trata-se de um livro escrito há 30 anos e que permanece absolutamente contemporâneo, que nos traz a reflexão e a provocação de que cada um de nós pode e deve trabalhar para uma sociedade mais inclusiva e participativa”, ressalta o presidente da Firjan.
Interrogações sobre passado e futuro
As mesas temáticas são inspiradas em capítulos do livro. Os títulos dos encontros são dados sempre em forma de indagação: “Onde estão as vozes do Rio?”, “Com a alma lavada?”, “Queremos viver e não sobreviver?”, “Cultura: a ponte entre os dois Rios?” e “Duas cidades se encontram?”.
Há ainda uma última mesa “O Rio tinha que ser um só?”, que reunirá importantes personagens do livro original: Caio Ferraz, sociólogo, que era o líder do Mocovige, Movimento Comunitário de Vigário Geral, e que acompanhou Zuenir durante os dez meses em que ele visitou a favela; Caio Fábio, escritor, psicanalista, ex-pastor presbiteriano e ativista de uma reforma no cenário evangélico atual; Manoel Ribeiro, arquiteto, autor de projetos do programa Favela-Bairro; Rubem César Fernandes, antropólogo, diretor-executivo do Viva Rio; e DJ Marlboro, DJ, produtor musical, compositor e criador do estilo musical “funk das favelas” ou “funk carioca”.
No evento, ainda será lançado o livro de autoria coletiva “Cidade Partida – 30 Anos Depois”, com organização de Elisa Ventura, Isabella Rosado Nunes e Mauro Ventura. A obra é composta por sete artigos assinados por Eliana Sousa Silva, Itamar Silva, Luciana Bezerra, Luiz Eduardo Soares, Silvia Ramos, Tainá de Paula e Viviane Costa. Além disso, a publicação conta com uma seção especial de entrevistas com pessoas/personagens da obra original: Caio Ferraz, José Júnior, Manoel Ribeiro, Rubem César Fernandes e DJ Marlboro. Este último, em uma entrevista/conversa com Juju Rude e Anderson Sá.
A capa e a contracapa contêm fotos de João Roberto Ripper e Bira Carvalho. O último capítulo traz uma entrevista com Ripper, que criou, há 20 anos, na Maré, a Escola de Fotógrafos Populares/Imagens do Povo, juntamente com o Observatório de Favelas. Nas capas internas, uma galeria de fotos de cinco profissionais formados pela escola: AF Rodrigues, Bira Carvalho, Elisangela Leite, Francisco Valdean e Ratão Diniz.
O projeto gráfico é da designer Sonia Barreto.
“O seminário é uma continuidade do que propusemos no livro, um diálogo com as percepções, temas, descobertas e espantos relatados por Zuenir em sua obra. No livro, convidamos pessoas com forte atuação na cidade, nesses 30 anos, para uma reflexão ampla, mas com um olhar individual e coletivo ao mesmo tempo. O seminário segue essa linha e teremos participantes que lideram iniciativas mais recentes na cidade, para estender o debate. Em resumo, buscamos fazer o que Zuenir fez, reunir as vozes diversas de um Rio que é plural”, explica uma das curadoras do projeto, Isabella Rosado Nunes.
O gerente de Cultura e Arte da Firjan, Antenor Oliveira, faz coro à fala de Isabella: “Quando pensamos no desenvolvimento de uma cidade, estamos falando de pessoas, das relações, dos afetos, de diferentes culturas e territórios. Por isso, reforçamos o papel da Firjan SESI no estímulo ao engajamento cívico e à participação ativa dos cidadãos na construção de uma sociedade mais democrática e participativa, com cultura e arte”, completa.
Documentário e edição comemorativa
O projeto reúne, além do lançamento do livro e da realização do seminário, um documentário, que será produzido em parceria com a TV Zero e que tem a direção de Luciano Vidigal e Roberto Berliner. Em outubro, a Companhia das Letras ainda lançará uma edição comemorativa de “Cidade Partida”, que, em 1995, recebeu o prêmio Jabuti na categoria livro-reportagem.
“O livro desfez estereótipos, mostrou a arte produzida na favela, revelou a força do movimento comunitário, expôs as estratégias de sobrevivência dos moradores em meio ao descaso do Estado e apontou o avanço vertiginoso das igrejas evangélicas nos morros e nas periferias. Meu pai teve a ousadia de trazer para dentro da reportagem o protagonista dos dramas da cidade: o criminoso. Ele queria justamente entender as motivações que levaram Flávio Negão ao mundo do crime, enquanto seu amigo de infância, Caio Ferraz, tomou o rumo contrário, tendo se tornado sociólogo e líder comunitário. E meu pai fez isso tendo todo o cuidado de não glorificar o traficante, não legitimar suas palavras, não aplaudir seus atos, não transformá-lo em vítima da sociedade, em celebridade, herói, bandido social ou jovem levado ao crime por força das circunstâncias”, exalta Mauro Ventura, filho de Zuenir.
SERVIÇOS – SEMINÁRIO CIDADE PARTIDA – 30 ANOS DEPOIS
Local: Casa Firjan – Rua Guilhermina Guinle, 211, Botafogo – Rio de Janeiro
Datas: 27 (terça-feira, das 9h30 às 18h) e 28 de agosto (quarta-feira, das 9h30 às 13h)
Entrada gratuita: retire seu ingresso e confira a programação completa em firjan.com.br/seminariocidadepartida.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com