No dia 29 de março deste ano, o escritor gaúcho Gustavo Melo Czekster
lançou seu segundo livro de contos. Autor também de O Homem Despedaçado (2011), Czekster escreve narrativas que
misturam visões realistas e fantásticas do mundo, entrelaçando sonhos e
realidade. Por meio de metáforas líricas e repletas de referências literárias,
os contos do autor evidenciam as questões mais essenciais e profundas da
existência, principalmente seu aspecto efêmero (tanto é que quatro dos vinte
contos desta obra são chamados Efemeridade
e todos eles completam uns aos outros, apesar de poderem ser lidos
individualmente).
O livro é uma incrível viagem lírica ao subconsciente, ideal para
leitores vorazes que gostam de ver como a literatura é um universo
incessantemente expansível, pois as citações a clássicos literários, tanto
direta quanto indiretamente, são um dos diferenciais destes contos, como por
exemplo, no conto “Mercúrio deve Morrer”, narrativa esta que só pode ser
considerada uma obra prima da literatura contemporânea nacional: o conto
trata-se de uma criativa reflexão sobre as motivações existenciais humanas, ao
mesmo tempo em que reúne em uma peça fictícia diversos ícones literários os
quais morrem em suas respectivas obras.
Diversos são os contos deste livro os quais podem ser mencionados como
destaques, mas se eu fosse mencionar todos eles, acabaria tendo que listar
todos, pois a obra é impressionante pelo conjunto completo. Porém, os contos
que mais me marcaram, particularmente, foram Os que se arremessam, uma das
melhores narrativas da literatura mundial, que é uma reflexão sobre viver no
limite, se arremessar, de maneira a tornar-se eterno, ter a experiência
completa da existência através do ato de quase destruí-la, e também A Passionalidade dos Crimes, o qual mostra o
poder de um texto.
Enfim, leia abaixo uma lista com 20 citações das mais marcantes
encontradas em Não há amanhã (seleção difícil de fazer para chegar a somente
20!) e, caso você também já tenha lido o livro, comente sugerindo mais citações
dele. Caso ainda não tenha lido-o, estas citações podem dar alguma ideia do que
esperar quando ler a obra (ou não, pois a leitura dos contos completos surpreende muito mais!).
“Pesadelos
caminham nos limites não traçados do absurdo.” – página 13
“Os
demônios estavam fugindo pelo buraco aberto na sua cabeça.” – página 14
 “[…] sua obsessão: a última palavra. O
gatilho. Aquilo que algumas pessoas iluminadas conseguem descobrir, mas não
suplantar. O nome secreto que cada alma possui.”  p.31
“Não
existe texto inocente, o que implica em dizer que todo texto é um crime
passional. Escrevemos procurando a vítima, procurando a morte que desliza entre
as linhas, sempre próxima, sempre neblina.” – p.33
“Da tristeza
nasce um sentido possível para a vida. A música nunca me deixa só, é quem me
acompanha nos prados infinitos, é quem preenche meus passos com ruídos
invisíveis, é minha amiga nas noites repletas de parafina escorrendo.” – p.37
“Não
sei o motivo pelo qual faço isso. Não sei o motivo de tanta dor. Seria tão
simples não criar, sufocar a voz que nunca se cala, manter a música presa
dentro do corpo.” – p. 39
“A música toma
forma na minha frente, e sei, no meu mais íntimo, que hoje todos irão entender.
Que eu não sou um homem, mas uma música que anda.” P.39
“Quando
falo em se arremessar, estou falando sobre o correr e se jogar, impulsionar-se,
perder os limites e, por breves, inebriantes segundos, tornar-se eterno. […]
Engana-se quem pensa que arremesso é sinônimo de morte. O grande objetivo é
chegar perto e não morrer, apesar de acidentes acontecerem.” – p. 43
“Palavras são
ervas daninhas capazes de derrubarem a mais resistente das sanidades.” – p.45
“O
mundo é formado por um sem-fim de eventos apavorantes” – Efemeridade, várias
páginas.
“[…] talvez o
ato de buscar algo seja inerente a todo ser humano[…].” – p. 67
“É
divertido imaginar-se anônimo, sem cargas, sem experiências, sem temores ou
paixões, uma tábua em branco a ser preenchida pelo mundo.” – p.79
“Somos nada que
um dia retorna ao nada, e o sentido final de tudo é desaparecer no vazio.
Afinal, se um livro pode morrer, qualquer coisa pode morrer.” – p.83
“O
desejo de destruição pelo simples prazer de destruir é o mais humano de todos.”
– p.113
“Andaríamos no
meio de indefinições e incertezas, rodeados por um mundo que se constrói e se
desvanece dentro de cada olhar.” – p.114
“A
cidade sonhava os homens no seu interior. Não éramos reais, somente partes
minúsculas de um tudo que não compreendemos.” – p.115
“O autor é
falível e frágil, o texto não, e o sonho de cada escritor deveria ser morrer
tão logo a obra venha ao mundo, pois nada mais deveria ser dito.” – p. 118
“O
único sentido da existência é esperar o fim; somos meras vírgulas, nunca pontos
finais.” – p.119
“Assim como a
borboleta, a vida inteira não passa de um prenúncio da morte. O personagem só
existiu para deixar de existir […].” – p.130
“Quando
se entra em harmonia, o Tempo desaparece, transformando o passado, presente e
futuro em um amálgama de sensações.” – p.145

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