Destino. 

Eis o sagaz manipulador de nossas vidas. Nunca sabemos quais são as
regras, intenções, desejos e objetivos que o cercam, a única certeza, é que
cedo ou tarde ele mostrará sua face e irá interferir em nossos caminhos. Para
ele, até os mais sombrios segredos que tentamos ocultar nos recônditos
profundos e secretos de nossa alma, nunca ficam verdadeiramente submersos.
Eram exatamente tais pensamentos que lhe afligiam a mente e o coração,
enquanto ela tentava se convencer de que o homem que se descortinava poucos
passos a sua frente, não era o mesmo que em um passado recente, ela de maneira
tão sublime amara.
Inicialmente buscou se persuadir de que com certeza se enganara, afinal,
mais de 13 anos se passaram desde a última vez em que se viram e após tanto
tempo era certo, que a fisionomia dele em sua mente deveria estar desgastada,
como uma foto antiga, de traços pálidos e contornos desbotados, entretanto,
perversa era a realidade que nele agora se personificara.
Ela passou a caminhar lentamente para poder observá-lo à distância, de
uma maneira discreta e indiscutivelmente afetuosa. Quase sem perceber, um forte
ímpeto foi apoderando-se de seus desejos e assim como outrora, sentiu uma
abrasadora vontade de lhe despentear os cabelos, tocar a nuca, acariciar a
linha forte do queixo e depositar um breve beijo no contorno de seus lábios.
Lembranças. 
Todas emergiram e lhe causaram um turbilhão venenoso de emoções. Seu
coração se tornou descompassado e assumiu um ritmo tenebroso como um Noturno de
Chopin. Neste momento porém, o cruel Destino que causara as desventuras e
fatalidades na vida de ambos, embevecido pela possibilidade de novamente
atormentar tão tristes almas, decidiu reencontrá-las e então, no instante em
que ele relanceou sobre os ombros, foi que seus olhares dois eternos amantes,
uniram-se de forma quase indissolúvel…
*Ilustração de Charlie Bowater


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