Qual o teu pecado?

O Babylon Nighth Club, localizado em São Paulo, é uma casa em que se apresentam strippers. Entre elas há a jovem Amanda Fortes. Essa garota, no entanto, é assassinada e seu corpo é encontrado boiando no lago do Parque do Ibirapuera. Quem teria matado Amanda? Quais os motivos?

É a partir do assassinato de Amanda que o leitor vai adentrar a vida dela e dos outros personagens. A morte de Amanda traz também a ressurreição de um passado nem tão distante e que outros personagens teimam em esconder. Nas partes íntimas da vítima um bilhete com uma letra e um número  (R67) se torna um enigma a ser desvendado pela Polícia. O que isso quer dizer? 

Amanda teria sofrido violência sexual de seu padrasto. Por que ele nega? Por que  a mãe nunca aceitou tal hipótese? Qual a relação da jovem com uma enfermeira chamada Vitória casada com o delegado que assume a investigação de seu assassinato? O que Maria, que trabalha no Babylon, sabe sobre Amanda e sobre sua família? Qual o segredo que o proprietário do clube noturno esconde? O pai de Vitória tem alguma ligação com o passado de outros personagens?

Tantas são as questões que para o leitor não vai faltar surpresas e reviravoltas ao longo de Teu Pecado, livro de estreia do escritor Wellington Budim, publicado pela Constelação Editorial em 2018. Uma trama irresistível que nos envolve pela narrativa, pelos acontecimentos que vão em escalada criando um clima de tensão e suspense digno dos melhores suspenses policiais que a gente encontra por aí.

O romance policial brasileiro ganha um novo nome: Wellington Budim. O autor consegue apresentar cenas bem detalhadas, conjugando perfeitamente com seus personagens e com a ambientação. A estrutura alterna capítulos que apresentam ora cenas de um personagem e ora de outros. Essa alternância não deixa a fluidez ser interrompida e ainda garante o jogo de dubiedade e segredos que os personagens carregam.

Amanda, a vítima, também tem um passado que provoca questionamentos no leitor. Os outros personagens tem medos, traumas e conflitos passados que precisam ser solucionados. São personagens que para além da “brincadeira” que criam com o leitor, sobre o que sabem acerca de Amanda e qual a ligação com a morte dela, revelam-se humanos. São figuras criveis, com ações cotidianas, com traços psicológicos bem delineados. Encanta o fato de que não temos o super-herói, são todos pessoas que poderíamos cruzar pela rua, encontrar num bar, nos atender no hospital, passar ao nosso lado numa praça.

Um personagem que pode ser visto como o criminoso revela que tem um mandado de Deus. Ele queria redimir Amanda de seus pecados. Salvar a sua alma.

Na primeira parte do livro seguimos os rastros de mentira dos personagens. Todos são suspeitos, todos parecem inocentes, todos tem seus segredos trancafiados no calabouço de sua alma. Mas, aos poucos, os leitores vão tendo tais segredos revelados. Há um clima enigmático na obra que paira sobre os personagens. 

“A mente humana é de todas as armas a de maior poder de destruição.”

Cinzas do Passado é a segunda parte do livro. Temos uma volta no tempo, para elucidar acontecimentos de quando Amanda estava viva. Aqui o leitor vai conhecer um pouco mais as nuances dessa personagem e conhecer a teia de relações que é desnudada para o leitor. Essa volta ao passado que vai num crescente até os seis meses que antecederam a morte de Amanda Fortes permite ao leitor compreender uma série de fatos que são apresentados na primeira parte do livro. 

Inegável, caro leitor, que você será o tempo todo ludibriado, no bom sentido. Todos os personagens parecem ter motivo para ter eliminado Amanda. Todos os personagens carregam um passado nebuloso e atuam mentindo no presente. Aliás, a mentira percorre a vida deles, formando uma sucessão de fatos que vão a sobrepondo. Mentirosos! Exclamei quando cheguei ao desfecho.

As subtramas criadas pelo autor são bem desenvolvidas e tem conexão com a trama principal, que é o crime que tem como vítima a stripper do Babylon Night Club. Temos nas subtramas as relações familiares, o uso da mentira como forma de preservar alguém ou uma situação, o abuso sexual, os conflitos travados entre o ser e o parecer ser, a ligação religiosa do assassino, a religiosidade de outros personagens, a visão da constituição familiar, as relações como um todo. 

O livro tem uma história centrada no assassinato e na sua revelação. Mas, mais do que focar na busca do causador do crime, com uma pessoa investigando a ocorrência do caso, o livro se baseia nos personagens. Destaco esse ponto, pois são eles os atores que nos levam a compreender a trama e a elucidar o caso.

A maioria dos romances policiais usa um investigador para nos conduzir até a solução do crime apresentado. Em Teu Pecado, a história dos personagens criados por Wellington Budim, é que vai levar o leitor pela elucidação dos fatos, usando as revelações das relações e fatos passados para dar a tônica do crime. Portanto, é a história em si que conduz o leitor e não um personagem que centraliza a investigação e que direciona quem lê. 

A polícia intermedia,  mas as pistas que são deixadas ao longo da trama e os personagens revelam muito (logicamente que não está tudo tão fácil assim para o leitor). As reviravoltas são surpreendentes e nos deixa de queixo caído. Quando o caso parece solucionado surge algo novo que complementa o que imaginávamos, mas será que o que imaginamos é de fato a conclusão? Você se surpreenderá. 

Sobre o autor

Wellington Budim nasceu em São Paulo. Graduou-se em Letras e cursou Roteiro no Senac. Trabalhou no acervo do jornal O Estado de São Paulo e hoje atua como pesquisador iconográfico na Editora Abril. Descobriu muito cedo a paixão pelos livros e familiarizando-se à leitura, sentiu a necessidade de construir suas próprias histórias. Decidiu então que era o momento de compartilhá-las, apresentando-nos seu suspense policial de estreia: Teu Pecado.

Ficha Técnica

Título: Teu Pecado
Escritor: Wellington Budim
Editora: Constelação Editorial
Edição: 1ª
ISBN: 978-859-406-711-1
Número de Páginas: 402
Ano: 2018
Assunto: Literatura brasileira

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