Foi através de uma postagem de Ademir Pascale, editor-chefe da revista “Conexão Literatura”, no Facebook em 06/04/2024, que eu soube do falecimento do ficcionista Rubens Francisco Lucchetti (29/01/1930 – 04/04/2024), mais conhecido como R.F.Lucchetti, embora eu, carinhosamente, o tenha apelidado (somente para os meus ouvidos e de minha esposa) de “Tio Vampiro”. A postagem em questão divulgava o link de um artigo do blog “Coletive em Movimento”, intitulado “Morre R.F. Lucchetti, ícone do terror e da literatura pulp brasileira”, de autoria de Paulo Kobielski[1].
Embora a notícia já fosse esperada para qualquer momento, face à saúde debilitada e a idade avançada, não deixou de entristecer-me, afinal, suas histórias me acompanharam desde 1975, quando eu tinha quatorze anos e adquiria em sebos os livros de bolso da série Trevo Negro, publicados pela Cedibra: “A maldição do sangue de lobo”, “Sete ventres para o demônio”, “No domínio do mistério”, “A volta de Frankenstein”, “Nos domínios de Drácula”, “Os Olhos do Vampiro” etc. Talvez conhecesse seus trabalhos até antes, a considerar as leituras que eu fazia de gibis de terror da Editora Taika (ex: “Seleções de Terror”, “Drácula” etc.), entre outros. Some-se a isso o fato do Sr. Lucchetti utilizar-se de inúmeros pseudônimos. Ah, outra obra que me ficou na memória foi o livro “Legião de Vampiros”, da Editora Edrel, adquirido em uma banca de jornal em São Vicente. Infelizmente, perdi e nunca mais vi. Trazia o conto de uma vampira que se transformava em borboleta ou mariposa, cujo fim foi ser empalada por um palito de madeira e adicionada aos espécimes de um colecionador. A história ficou marcada na memória do garoto que fui, e adoraria relê-la, aliás, quem dera ter novamente um exemplar em mãos… Entretanto, segundo o Sr. Lucchetti, a tiragem foi pequena.
Em 26/03/1976, adquiri o primeiro volume da “Coleção Terror Nostalgia”, Editora Taika. Tratava-se de uma parceria do Sr. Lucchetti com o ilustre artista Nico Rosso, autor de dezenas de capas de livros da Coleção Saraiva. A temática girava em torno do conde Drácula, e trazia várias histórias em quadrinhos desenhadas por Rosso, além de textos tratando do vampiro e de seu criador, o irlandês Abraham Stoker. Cheguei a adquirir o segundo volume, todavia, ignoro se houve continuidade. Infelizmente, as publicações na época tendiam a ser interrompidas bruscamente. Em 1989, enviei pelo correio os exemplares para Ribeirão Preto, a fim de tentar conseguir o autógrafo do Sr. Lucchetti. Gentilmente, atendeu-me, fazendo-o em 13/05/1989 e devolvendo os volumes da mesma forma. Escreveu:
“Para Roberto Schima. Obrigado pela oportunidade de rever os magníficos desenhos do meu amigo Nico Rosso. Um abraço do Rubens Francisco Lucchetti. Ribeirão Preto, 13-5-89”.
Como não poderia deixar de ser, fiquei todo abobalhado como qualquer fã ficaria. Claro que, ao menos essas obras consegui preservar!
Sobre Nico Rosso, o Sr. Lucchetti assim se manifestou em nossas mensagens:
“Trabalhei muito com o Nico, criando os gibis A Cripta e O Estranho Mundo de Zé do Caixão. (…) Nós nos encontrávamos todas as segundas-feiras, pela manhã, na casa dele. Discutíamos os argumentos das histórias, o Nico fazia alguns esboços de páginas e, a partir desses esboçoss, eu escrevia os roteiros, colocando os diálogos. Era um gentleman. Conhecia como poucos a arte do Desenho e de como dar dinamismo a esses desenhos.”
(Abrindo um parênteses, é digno de nota mencionar — ao menos para mim — que o Drácula de Nico Rosso foi a minha versão favorita do conde nos gibis, chegando a imitar seus traços em meus rabiscos juvenis. De quebra, ainda na adolescência, inspirei a criação de minha própria assinatura na assinatura dele… Fecha parênteses.)
Os trabalhos do Sr. Lucchetti enriqueceram a vida do garoto que eu fui e que amava os monstros, por mais assustadores que fossem.
Minhas primeiras informações sobre o autor vieram da revista “O Grande Livro do Terror!” nº 1, de 1978, publicado pela Editora Argos, na matéria intitulada “Theodore Field? Terence Gray? Não! Rubens Francisco Lucchetti!”. Um exemplar que, afortunadamente, também sobreviveu às desventuras da vida e conservo até os dias atuais.
Não acompanhei todos os seus trabalhos e tampouco sou um especialista do conjunto de sua obra ou de sua vida. Sou apenas alguém que gostou do pouco que conheceu a ponto disso ter deixado suas marcas pelo restante da vida. Assim, a minha pretensão é menos a de compor um artigo e mais a de me ater ao lado pessoal em relação ao trabalho dele.
Além da perda do Sr. Lucchetti em si, entristeceu-me constatar que ele — não obstante tudo o quanto realizou —, provavelmente, partiu desgostoso. Digo isso a considerar uma entrevista concedida ao canal SescTV (Youtube), cujo vídeo ostentou o título: “R. F. Lucchetti – Episódio completo: Lugar de livro é na banca de jornal”[2], postado há quatro anos. Em dado momento (cerca de 14min 20s), sentado num estreito corredor formado por cerca de mil e quinhentos livros, foi questionado pelo entrevistador sobre o que pensaria ao observar ao redor e refletir sobre tantas histórias que escreveu. Respondeu:
“Perdi tempo… Perdi meu tempo fazendo bobagem! Eu queria escrever… Olha, no máximo dez livros. Eu faria tudo quanto queria f(azer?). O que eu queria fazer, eu não consegui porque eles me obrigavam… Você fica bitolado. A pior coisa do bolsilivro é você ficar bitolado. É você escrever aquela… Ficar condicionado àquilo lá. Isso é terrível! É massacrante! Então… é… Eu fui culpado. Não culpo ninguém. Eu fui culpado. Agora… mas eu acho que foi perda de tempo. Porque a maioria nem como papel velho serve. É lixo! É lixo editorial! A maioria. Pode… Não dá para escapar, não dá para sobrar nada…”
A partir de 23/01/2016 eu trocara algumas mensagens com o Sr. Lucchetti através do Facebook. Então, bastante incomodado com tal declaração, escrevi-lhe em 17/01/2024:
“Senti-me não na obrigação, mas no dever de escrever ao senhor. Concordei quando o senhor mencionou: ‘… Nunca pensei em escrever para grande quantidade de pessoas (…) O verdadeiro autor mesmo, aquele que é artista, ele não está preocupado com o leitor, ele está preocupado com ele mesmo, em fazer algo que satisfaça a ele. Se satisfizer o leitor, muito bem! Eu, pelo menos, não estou ligando…’ Como o senhor, escrevo aquilo que me agrada e da forma que me agrada. Se mais alguém gostar, maravilha, todavia, não é esse o objetivo principal e, talvez, nem seja sequer o objetivo. A partir do momento em que a gente escreve porque gosta e para agradar a nós próprios, teremos dado o melhor de nós. Se o leitor não gostar, terá milhares de outros autores a quem recorrer. Mas não mudarei meu modo de escrever para satisfazer o gosto de fulano, beltrano ou sicrano. Por outro lado, estou ciente de que o senhor, por necessidade de sobrevivência, acaba escrevendo mais por obrigação a fim de atender a exigência dos editores e cumprindo prazos apertados. Nisso vem o meu segundo parecer em relação à entrevista. Não pude deixar de me sentir entristecido quando — no estreito corredor de sua biblioteca, entre os mais de mil e quinhentos títulos que escreveu — foi indagado pelo entrevistador sobre o que pensava quando olhava ao redor e refletia sobre tantas histórias criadas. Ao que o senhor respondeu: ‘Perdi tempo… Perdi meu tempo fazendo bobagem! (…) Porque a maioria nem como papel velho serve. É lixo! É lixo editorial!…’ Decerto, não foi a reposta que o entrevistador esperava. Nem eu, confesso. Pode-se questionar as virtudes literárias de textos escritos por obrigação, sob pressão, sucessivamente tal qual em uma linha de montagem, pela básica necessidade de pagar as contas e colocar comida no prato. CONTUDO, para milhares leitores — entre os quais me incluo — foram momentos preciosos e gratificantes de entretenimento. Suas histórias deixaram marcas nas histórias de cada um. Fez e faz parte da vida de muita gente. NÃO FOI PERDA DE TEMPO PARA NÓS! Pensei no ator Richard Basehart, protagonista de ‘Viagem ao Fundo do Mar’. Dizia-se que ele, um ator de origem teatral e shakespereana, protagonista de ‘Moby Dick’, de John Huston, sentia-se frustrado por ter chegado ao ponto de trabalhar num seriado de TV que, se começara promissor com histórias de espionagem, terminara por se tornar infantilóide, limitando a tripulação a enfrentar os ‘monstros da semana’: lobisomem, múmia, homem-lagosta, fantasma, pirata, homem-fóssil, palhaço, alienígenas etc. Parece que o ator até tomava uns porres a fim de desabafar as mágoas. Entretanto, quão importante foi o seriado para milhares de crianças! Gerações inteiras se empolgaram e se divertiram com aquelas aventuras deliciosamente absurdas. Quantos adultos de hoje (agora pais e avós) não se recordam com carinho daquelas personagens, de suas vozes, dos efeitos sonoros e dos monstros? Assim, Sr. Lucchetti, faço votos de que, desde a realização da entrevista, sua consideração pelos textos que escreveu naqueles anos difíceis tenha amenizado, quiçá revertido, mormente por estar relançando parte das histórias da forma como o senhor deseja, em versões definitivas. Repito: NÃO FOI PERDA DE TEMPO! O senhor e os mundos que criou fazem parte da história e da vida de muita gente. E o garoto que eu fui em meados dos anos 70 agradece por haver enriquecido a minha adolescência. Abraço.”
Ao que ele respondeu em 18/01/2024:
“Olá. Não, infelizmente, ainda não mudei minha ideia quanto à maioria daquilo que escrevi. Escrevi por necessidade, para sobreviver, num país em que uma enorme parcela da população não lê ou não tem condições de ler nem uma bula de remédio. Apenas umas cem obras se salvam. São aquelas que estão sendo relançadas ou lançadas pela Editorial Corvo. Agradeço suas palavras. Forte abraço, meu caro amigo.”
Ainda sobre a questão, alguns anos antes, em 01/02/2020, ele escrevera:
“Olá, Roberto. Eu renego tudo o que foi lançado até 2013. Os livros foram adaptados, mutilados/cortados. Capítulos inteiros sumiram. Outros foram acrescentados, sem o meu conhecimento/consentimento. A minha obra é a que está sendo lançada a partir de Emir Ribeiro Ilustra Fantasmagorias de R. F. Lucchetti (Editora Devaneio, 2013). Todo o resto, pelo menos para mim, não tem valor algum. Nem sentimental nem nada. Grande abraço.”
Ele se foi amargurado, seja por ter escrito muita coisa apenas por obrigação, pressionado por prazos a cumprir, limites de números de páginas, temas com os quais não se identificava, seja pelas mutilações e acréscimos referidos, seja por, segundo o referido artigo de Paulo Kobielski, não receber nenhum centavo a título de direitos autorais, seja pela falta do devido reconhecimento, a ponto de, na velhice, ter que vender seus livros pessoalmente pela Internet. Sob esse pormenor, para quem adquiriu as obras foi um privilégio e um presente, pois os livros vinham com dedicatória e autógrafo do autor (depois, apenas autógrafo, na medida em que a saúde deteriorava.) Todavia, é um disparate nenhuma grande editora ter lançado as obras do Sr. Lucchetti, divulgado adequadamente e distribuído nas principais livrarias do país. Eu sei, eu sei… A Internet gerou uma crise no mercado editorial, enterrou as bancas de jornais e fez muitas livrarias fecharem. Sem mencionar a ausência de uma tradição de leitura no eterno “pais do futuro” alardeado por Stefan Zweig em obra homônima. Mas deixa eu choramingar. Uma lástima também que suas histórias não tenham sido traduzidas para outros idiomas e, se o foram — repito, não sou especialista em R. F. Lucchetti como, de resto, em coisa alguma —, não tenham tido o merecido respaldo. Afinal, se até Joe Coffin acabou sendo conhecido pelos gringos…
Tenho cá comigo que ainda se está a dever a publicação de um ou mais livros em capa dura, papel couché e ricamente ilustrada de todas as suas histórias ou, pelo menos, daquelas que ele considerava mais relevantes. Quem sabe, incluindo até suas ilustrações, pois, para quem não sabe, ele foi um hábil desenhista também, além de poeta.
Não vou nem mencionar a falta de reconhecimento por parte daqueles que se dizem ater à literatura “séria”, acadêmica ou coisa que o valha. Ora, não me digam que não cresceram lendo histórias em quadrinhos!
Recentemente, fiz o seguinte comentário no Facebook, ao saber de uma postagem de Marco Aurélio Lucchetti, seu filho, sobre a gravidade do estado de saúde do pai:
“Em outra realidade, poderia ter sido tão reconhecido quanto Stephen King o é para os americanos. As histórias de R. F. Lucchetti enriqueceram a vida do adolescente que fui e que amava os monstros, seja através dos enredos para os quadrinhos de terror, seja atráves das noveletas da série de livros de bolso ‘Trevo Negro’ (Ex. ‘A Maldição do Sangue de Lobo’). Ele produziu muita coisa e continuava a fazê-lo até há pouco tempo, interrompendo as atividades devido a saúde debilitada. Foi triste assistir a uma entrevista dele, disponível no YouTube, na qual disse ter perdido tempo e que a maior parte do que escreveu não serviria nem como papel velho. Discordo veementemente! Não somente eu, mas, tenho certeza, todo um pequeno, porém seleto círculo de admiradores os quais compartilharam e viveram os inúmeros mundos por ele criados. O tempo cuidará de sedimentar essa verdade. Muito obrigado, ‘tio vampiro’!”
Desculpem-me se certos trechos soam repetitivos.
Eu acabei perdendo os exemplares da série Trevo Negro adquiridos quando garoto. Em anos posteriores, consegui achar quatro: “Sete ventres para o demônio”, “A maldição do sangue de lobo”, “À meia-noite levarei sua alma” e “O demônio exorcista”. Felizmente, o Sr. Lucchetti me avisou em nosso primeiro contato pelo Facebook:
“Algumas das histórias publicadas na Trevo Negro serão republicadas, com acréscimos, revisadas e reescritas, na Coleção R. F. Lucchetti, que está sendo publicada pela Editorial Corvo. Os dois primeiros volumes já foram lançados: ‘As Máscaras do Pavor’ e ‘O Museu dos Horrores’. (…) Aqueles livros foram mutilados. Muitas histórias saíram incompletas. (…) Agora, estou restaurando-as e lançando-as como deveriam ter sido publicadas na época. (…) De várias foram cortadas capítulos inteiros. Tudo para adequar ao tamanho dos livros da Cedibra (128 páginas).”
Adquiri os dezesseis primeiros volumes. Desse modo, pude minimizar a perda. Contudo, quem sabe, algum dia eu reencontre os originais da Trevo Negro, nem que seja a título de nostalgia, por mais que o Sr. Lucchetti não os apreciasse. Afortunadamente, em 2020, também pela Editorial Corvo, ele lançou a série “Reminiscências”, onde compartilhou parte de suas memórias e rica bagagem, dos quais adquiri os cinco primeiros volumes. Relevante mencionar, ainda, a obra biográfica “Os três mundos de R. F. Lucchetti”, da Editora Criativo, também de 2020. Um tributo rico em imagens e informações.
Ainda sobre “O demônio exorcista”, ao mencioná-lo para o Sr. Lucchetti, ele acabou fazendo um comentário em sua página no Facebook em 31/08/2016:
“O Demônio Exorcista! Um comentário do Roberto Schima fez eu me lembrar desse livro. Foi um volume extra da coleção Trevo Negro. Ele me foi encomendado pelo diretor geral do Departamento Editorial da Cedibra, o Jaime Rodrigues, devido ao sucesso de O Exorcista, do William Peter Blatty, que fora publicado em 1973 pela Editora Nova Fronteira (confesso que nunca li o livro do Blatty). Achei o título ridículo. Assim como o pseudônimo que me deram: Peter L. Brady. Devido ao título e ao pseudônimo, que lembravam o título e o nome do autor de O Exorcista, a Nova fronteira pediu que o livro fosse recolhido. A Cedibra acatou a recomendação da Nova Fronteira, e pouquíssimos exemplares de O Demônio Exorcista foram efetivamente vendidos. Escrevi essa história no começo de 1974 na própria redação da Cedibra. Devo tê-la escrito em uma semana. E intitulei-a A Possuída. Para escrevê-la, tive de ler alguns livros sobre Demonologia, incluindo Da Demonialidade, que fora publicado pela Editorial Bruguera (antigo nome da Cedibra), com o título de Íncubos e Súcubos. Escrito no século 17 pelo padre franciscano Louis Marie Sinistrari d’Ameno, a publicação de Da Demonialidade em Português foi sugerida pelo jornalista, escritor e tradutor T. G. Novais (muitos pensam que é um pseudônimo meu, mas não é. Foi, certamente, a pessoa mais estranha e enigmática que já conheci), que encontrou em suas andanças pelo mundo um exemplar publicado em Paris em 1876. Para terminar este meu comentário, informo que O Demônio Exorcista será o sexto volume da Coleção R. F. Lucchetti. Então, receberá de volta seu título original: A Possuída.”
Apesar dos desfalques e perdas sofridas pelo caminho, ao menos folgo-me por saber que, por força das circunstâncias acima citadas, disponho de um dos raros exemplares de “O demônio exorcista”, ao lado da sua versão definitiva e com o título original, “A possuída”!
Quanto a série “Reminiscências”, em 13/09/2016, escrevi para ele:
“Ah, uma pequena sugestão: Quem sabe o senhor poderia reunir os seus textos escritos no facebook e, após revisões, complementações ou adaptações que achasse necessário, lançá-los em livro, como uma série de crônicas, retalhos de memória ou algo assim?”
Ao que ele respondeu:
“Vou pensar a respeito.”
Tornei a mencionar o assunto outras vezes. Não estou dizendo que a série surgiu a partir disso, e com certeza, tampouco fui o primeiro ou o último a pensar a respeito. Obviamente, jamais tive a petulância de perguntar tal coisa a ele. Entrementes, não custa nada fantasiar… Se houve a mínima possibilidade do meus comentários terem se juntado a outros semelhantes a ponto de estimular o surgimento de “Reminiscências”, que grande honra seria! Só exponho o fato ao público agora, a título de curiosidade. Fica também a dica de que, caso a página do Sr. Lucchetti seja mantida, o leitor contará com um farto material dessa natureza, onde poderá compartilhar a vasta experiência dele, recordações e opiniões.
Sobre o termo “Tio Vampiro”, trata-se do título de uma história que escrevi, publicada em duas partes na “Conexão Literatura”, edições nº 46[3] e 47[4], de abril e maio de 2019. Conforme expliquei ao Sr. Lucchetti em 26/04/2019:
“(…) Recentemente, compus uma história que faz uma ligeira referência ao senhor. É algo tosco de minha parte, mas expressa o meu agradecimento por suas histórias que enriqueceram a vida do garoto que fui. Ele está sendo publicado em duas partes na revista digital ‘Conexão Literatura’. A primeira saiu no nº 46 (abril) e a última sairá no próximo. Intitula-se “Tio Vampiro” (…). Não é nada demais, mas procurei expressar a meu modo o que significou seu trabalho a criança que eu fui. (…) No final da segunda parte da história há uma pequena ‘nota do autor’ que, espero, o editor Ademir Pascale irá publicar e que faz uma referência mais explícita de meu agradecimento ao senhor.”
Enviei os links das edições — cujo acesso e download são gratuitos — para ele, mas ignoro se chegou a baixar ou ler. Nem teria cabimento eu indagar. Contentei-me em saber que ele ficara ciente da existência dessa modesta homenagem. Cabe mencionar que o e-book “Tio Vampiro” será lançado em 18/04/2024 pela Editora Obook, cujo download estará igualmente livre de ônus. Eu tencionava enviar um exemplar do arquivo epub para o Sr. Lucchetti, Infelizmente, não houve tempo.
Ah, não posso deixar de mencionar a substancial entrevista concedida por ele para a edição nº 9[5] da “Conexão Literatura”, cujo download pode ser feito através do site da revista.
Uma das inúmeras perguntas que o Sr. Lucchetti devia estar farto de ouvir e responder foi a respeito de seu processo de trabalho, como, a partir de uma folha em branco, criava os enredos. Original que sou, não deixei de indagar também. Escreveu:
“Não faço sinopse, nem rascunho. Crio a cena inicial e sei o final da história. Daí, vou escrevendo. Às vezes, ao terminar a história, o final se tornou totalmente diferente daquele que imaginei a prinmcípio. São os personagens que vão conduzindo a narrativa.”
Em 04/06/2021, escrevi a ele:
“Olá, Sr. Lucchetti. Informo haver recebido o segundo volume de ‘Reminiscências’, bem como ‘Os Três Mundos de R. F. Lucchetti’. Obrigado. Preciosas e nescessárias obras a preservarem seus pensamentos, sua carreira, sua experiência e sua rica produção. Acabo de descobrir, por exemplo, que foi o senhor quem escreveu ‘Confissões de uma estrela’! Lembro-me de que, na adolescência (mais ou menos na mesma época que lia os pockets da coleção ‘Trevo Negro’) vi um exemplar do livro em casa, certamente que meu falecido pai havia adquirido. O moleque xereta que havia em mim pôs-se a lê-lo às escondidas. Anos mais tarde, fiquei imaginando se não seria uma biografia disfarçada da atriz francesa Catherine Deneuve. Agora, fico sabendo que o autor é o senhor. Pergunto-me em quantos trabalhos mais sob diferentes pseudônimos seus escritos não fizeram parte de minha vida. Essas obras, certamente, estão trazendo à tona várias surpresas.”
Em dado momento, mencionei a ele que, adquiria suas publicações aos quatorze anos, embora tivessem cenas de sexo e fossem destinadas ao público adulto. Ele chegou a se desculpar comigo! Claro que não era nenhuma responsabilidade dele se os donos de sebos não faziam questão de deixar de vender um livro ou revista proibidos para um moleque. O negócio era vender! E, convenhamos, tampouco o aborrecente maroto que eu fui, hormônios aflorados, abriria mão de adquirir tais narrativas ou os gibis desenhados por Nico Rosso a exibir donzelas nuas a mercê do conde vampiro…
Bem, aqui encerro minha pequena retrospectiva do que representou e representa R. F. Lucchetti para mim. Sei que saiu repetitivo, confuso, sem muita lógica, direção ou cronologia. Conforme escrevi, não pretendi compor um artigo e, muito menos, um tratado sobre o ficcionista. Há mãos de fato competentes que já fizeram ou farão. Somente quis expor o meu limitado parecer e deixar registrado o meu apreço e agradecimento, afinal, se desenhei monstros e escrevi contos de terror, ao menos parte da “culpa” foi dele.
Quem desejar saber mais sobre R. F. Lucchetti, há várias fontes na Internet, a começar pela já citada página dele no Facebook, na Wikipédia, sites e blogs diversos. Mas, leitor, não se engane: é bem provável que, em algum momento de sua vida, já tenha lido algo de autoria dele sem o saber.
Meu obrigado a Ademir Pascale, Editor-Chefe da revista “Conexão Literatura”, pelo convite que resultou nesta matéria e a oportunidade de, assim, prestar minha singela homenagem e relutante despedida.
Gratidão, Tio Vampiro!
(R.Schima 07/04/2024)
BIOGRAFIA:
Paulistano e neto de japoneses nascido em 01/02/1961. Passei a infância imerso nos anos 60. Senti o clima de entusiasmo em relação a “Conquista do Espaço” que hoje não existe mais. Colecionei gibis de terror. Desenhei inúmeros monstros. Assisti aos filmes da Hammer, desenhos da Hanna-Barbera, seriados de Irwin Allen, Jornada nas Estrelas, Ultraman etc. Li os pockets da série Trevo Negro de R. F. Lucchetti e os gibis da Disney, Marvel e DC Comics. Apavorei-me com o episódio O Monstro Invisível, de Jonny Quest. Fascinei-me pelo lirismo de Ray Bradbury ao ler uma adaptação em quadrinhos de seu conto “O Lago”. Fui um garoto que amava os monstros: sobrenaturais, mitológicos, pré-históricos, abissais, dos quadrinhos ou do espaço, incluindo as criaturas de Ray Harryhausen. Apavoravam-me, mas eram meus amigos. Agraciado com o Prêmio Jerônymo Monteiro, promovido pela Isaac Asimov Magazine (Ed. Record), pela história Como a Neve de Maio. As histórias Abismo do Tempo e O Quinto Cavaleiro foram contempladas pela revista digital Conexão Literatura, de Ademir Pascale, da qual tornei-me colaborador a partir do nº 37. Colaboro também com as revistas digitais LiteraLivre, de Ana Rosenrot, e Obook, de Fernando Lima. O conto Ao Teu Dispor foi premiado na antologia Crocitar de Lenore (Ed. Morse). Escrevi: Limbographia, O Olhar de Hirosaki, Os Fantasmas de Vênus, Sob as Folhas do Ocaso, Tio Vampiro, Cinza no Céu, Era uma Vez um Outono, Vozes e Ecos, Caçada no Planeta Duplo, Através do Abismo, Imerso nas Sombras etc. Participei de mais de trezentas antologias. Contato: rschima@bol.com.br. Mais informações: Google ou nos links abaixo.
https://clubedeautores.com.br/livros/autores/roberto-schima
https://loja.uiclap.com/autor/roberto-schima
https://www.wattpad.com/user/RobertoSchima
[1] https://coletivearts.blogspot.com/2024/04/arte-e-cultura.html
[2] https://www.youtube.com/watch?v=XZK5QqTMv7g
[3] http://www.fabricadeebooks.com.br/conexao_literatura46.pdf
[4] http://www.fabricadeebooks.com.br/conexao_literatura47.pdf
[5] http://www.fabricadeebooks.com.br/conexao_literatura9.pdf
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com
Olá, excelente matéria sobre o mestre!
Parabéns ao Roberto Schima!
Saudações.
SS
Obrigado, Sr. Simka. O texto ficou bastante repetitivo e confuso. Eu poderia ter organizado melhor, particularmente na cronologia dos eventos. Foi tudo muito espontâneo, impulsivo, de supetão. Dependendo do ponto de vista, poderá ser considerado um mérito ou demérito. Eu poderia ter escrito mais, acrescentado outras reminiscências. No entanto, escrevi tomado por um sentimento de urgência no sentido de prestar o quanto antes essa pequena homenagem ao “tio vampiro”.