O Aprendiz (Bertrand Brasil), de Joseph Delaney, é um bom exemplo de como é possível criar uma história simples sem ser simplória. E de como é possível criar um bom livro para o público infanto-juvenil capaz de agradar também os adultos.
Na obra, acompanhamos a história de Thomas Ward, o sétimo filho de um sétimo filho de uma família do campo. Para evitar dividir sua fazenda entre os filhos e acabar diminuindo o patrimônio da família a cada geração, o pai segue a tradição de dar todos os seus bens para o primogênito e encaminhar os demais filhos para diferentes profissões (um virou ferreiro, por exemplo). A Thomas é dada a incumbência de se tornar aprendiz de um mago.
Responsável por ser a obra que inseri o leitor na série As Aventuras do Caça-feitiço (que já conta com mais de 10 livros), O Aprendiz narra os momentos iniciais do aprendizado de Thomas, desde quando sai de casa até as confusões com uma bruxa, passando por viagens e testes para se provar digno de se tornar um mago.
A trama não explora muito o universo mágico em que é inserida, nem se preocupa em apresentar muitos personagens e localidades. Tudo é bem conciso, enxuto e redondo, o que proporciona mais leveza à leitura e dá a ideia da simplicidade já mencionada. Para explicar melhor essa simplicidade: considerando a grandiosidade de O Senhor dos Anéis, por exemplo, em O Aprendiz não encontramos batalhas de exércitos enormes, inúmeras raças com línguas próprias e a ameaça de um reino maligno tentando dominar o mundo. O que, é importante ressaltar, não torna a obra de Delaney inferior à de Tolkien, apenas com uma proposta diferente, e que dá muito certo.
O Aprendiz acerta ainda em apresentar Thomas como um garoto inocente. Praticamente todas os problemas enfrentados em sua jornada como aprendiz de mago são frutos de sua ingenuidade, o que é verossímil para um menino que mal tinha saído de casa até então. A informação também ajuda a entender sua personalidade ética e correta, ainda não corrompida pelas intempéries da vida adulta.
Um dos poucos problemas encontrados no livro é que a história demora um pouco a engatar. Por isso, nos capítulos iniciais, o leitor pode ter uma sensação de que a trama caminha sem rumo e se desinteressar pela continuação da leitura. A partir do momento em que o clímax começa a se organizar, o livro engata de vez e faz o tempo de espera valer a pena.
Outro ponto que pode incomodar são pequenas inconstâncias nos personagens, como a personalidade do mago mentor de Thomas. Inicialmente misterioso e nada cortês, de uma hora para outra ele fica mais próximo e compreensível. O detalhe deve passar desapercebido para a maioria dos leitores, mas poderia ter sido melhor trabalho.
De todo modo, o saldo ao ler O Aprendiz é muito positivo. A jornada de Thomas Ward para se tornar um mago é bem construída e vale a leitura. Recomendado!
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