Renata Neves Coelho – Foto divulgação

Fale-nos sobre você.

Renata Neves Coelho Barra nasceu em Resplendor (Minas Gerais), em 1996, mas reside em Itueta, também no interior do estado. Licenciada em pedagogia e letras/língua portuguesa, com experiência em educação básica e educação socioemocional, especialista em linguística aplicada na educação e ensino de filosofia. Como escritora, possui poemas, conto e artigos científicos publicados em antologias e periódicos acadêmicos.

Fale-nos sobre o livro. O que motivou a escrevê-lo?

Sou pedagoga desde 2017. No início de 2022, eu já havia realizado minhas duas especializações e tinha um pequeno caminho percorrido em minha jornada pedagógica. Decidi que era o momento de me aprofundar em mais uma das áreas de meu interesse. Ingressei na segunda graduação: letras/língua portuguesa.

Em 2023, cheguei em fase de TCC. Agora, além de pedagoga e estudante universitária, eu também era mãe de uma criança fantástica: meu pequeno Vicente.

Comecei a reflexão e pesquisa em busca de um tema que fosse atual, útil, e completamente fiel a meu modo de enxergar a educação. Era importante para mim que este assunto se tornasse um ponto de convergência entre as duas áreas de minha formação: a pedagogia e a língua portuguesa. Escrevo histórias infantis. (Inclusive, temos uma para sair brevemente, também pela Caravana Grupo Editorial, se Deus quiser.)

Tive certeza do assunto que abordaria, recordando um aspecto preconceituoso, algo cultural, que experienciei ainda na primeira faculdade: o ensino de crianças é depreciado em ambientes acadêmicos. Já ouvi declarações como: “Fazer pedagogia é fácil. Você tem que cantar umas musiquinhas, fazer umas gracinhas, pendurar enfeites e se pintar”. Já presenciei o momento destinado à literatura infantil passar tão rápido quanto um relâmpago, como se não tivesse tanta importância: “Faltam cinco minutinhos para o fim da aula, vamos aproveitar para contar uma historinha?” Percebo ainda, infelizmente, que os eventos escolares que são culturais, literários, muitas vezes se tornam uma competição de “quem sabe fazer mais bonito?”, uma pressão que acredito ser colocada sobre os educadores, muitas vezes.

Em meio a essas questões, indago: onde está a criança enquanto ser pensante? Aliás, crianças pensam? E mais: o que é, de fato, pensar? Creio que o anti-intelectualismo que circunda o ensino infantil, tem, com base nos estudos que realizei, uma herança secular: a inferiorização da própria criança. No livro, busco suscitar no leitor uma reflexão histórica que desemboca no real valor que damos à fase da infância e, consequentemente, a sua literatura.

Como analisa a literatura infantil produzida por brasileiros?

Tenho uma experiência bem curta. Há muitas vivências e livros para ter contato. Mas, pelo que observo e li até aqui, acredito firmemente que os autores infantis estão empenhados em mudar o cenário que mostra uma literatura infantil como um manual para enquadrar as crianças naquilo que satisfaz os adultos. Vejo que a criança tem sido vista como protagonista, cidadã ativa e crítica, na maioria dos livros brasileiros com os quais tive contato (lembrando sempre que há uma imensidão que ainda devo explorar). Cada vez mais se percebe a necessidade de incluir em obras para infância temas de relevância social, como educação sexual, tolerância, diversidade, consciência ecológica… Creio que estamos em um caminho próspero.

Como analisa a questão da leitura no país?

Costumo dizer, principalmente para estudantes, que comecem lendo sobre seu assunto favorito, para criarem o hábito. Uma vez que deverão ler vida afora algo com o qual talvez não tenham tanta afinidade, mas acrescentará em seu crescimento pessoal, profissional, espiritual etc. Não tenho uma visão tão abrangente, porém o que observo no público mais jovem presente em meu entorno, é a influência das mídias sociais e plataformas de streaming em seus hábitos de leitura. Destaco os e-books, que, a meu ver, parecem ter trazido à literatura mais popularidade diante desses jovens. De modo que o hábito de ler se moldou ao seu universo.

Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder.

Ouso pensar na seguinte: “Como analisa o que é ser criança?”. A criança é o maior cientista da Terra: sua vida se baseia na curiosidade e pesquisa incansáveis. Ser criança é pedir credibilidade; elas querem ser escutadas ativamente e não gostam de ser subestimadas. Elas têm perguntas e querem respostas. Respeitemos sua inteligência. As crianças sentem quando são ignoradas e recebem respostas pela metade ou inventadas. Ser criança não é viver em uma floresta com árvores de pirulito e nuvens de algodão-doce: o mundo em que vivem é o mesmo dos adultos. Real, cruel, perigoso e cheio de armadilhas. Peço, com todo meu coração, a quem ler esta entrevista: converse, ouça, valide, oriente a criança que está sob sua proteção. Seja você professor(a), pai, mãe, responsável de alguma maneira. Muitas crianças, em 4 anos de vida, já encontraram mais demônios que alguém com 80. Infância não é sinônimo de “felizes para sempre”. Inúmeras são as que têm experiências difíceis para um adulto digerir. Por isso, a ênfase em uma literatura infantil que trate respeitosamente a criança é necessária. Pela leitura de um livro infantil, todos os assuntos úteis para o bem-estar de uma criança podem ser abordados. Os livros são uma ponte direta que se estabelece entre as realidades do mundo e o cérebro proativo da criança. Não tratemos essa ferramenta como algo para entreter, controlar e aquietar a criança nos momentos em que elas causam desconforto. Usemos para cuidar, fortalecer laços, fazer pensar e libertar.

Link para o livro:

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024). 

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2 respostas

  1. Essa entrevista é uma leitura necessária para todos que de alguma forma tem contato direto com crianças. Parabéns Renata, por provocar essa reflexão a respeito do que é ser criança e dá importância da formação de quem trabalha institucionalmente com crianças.

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