Robert Silverberg é um dos mais importantes escritores de ficção
científica de todos os tempos. A antologia Outros tempos, outros mundos,
lançada pelo Círculo do Livro é um bom exemplo da habilidade do autor e se
tornou um clássico do gênero.
Silverberg mistura a ficção científica com biologia, psicologia,
filosofia, em um emaranhado instigante.
O primeiro conto do livro, “O homem que jamais esquecia”, mostra
as agruras de uma pessoa incapaz de esquecer. A maioria das pessoas considera,
ingenuamente, que a capacidade de se lembrar das coisas é uma benção, mas ela
pode ser um martírio. O protagonista é rejeitado pela sociedade e vive o tempo
todo viajando – tanto para evitar locais que já conhece nos mínimos detalhes
quando para evitar pessoas que o conheçam.
“Ismael apaixonado” é um dos contos mais curiosos do volume – e
certamente um dos mais interessantes já escritos por um autor de ficção
científica. Nele, um golfinho responsável por limpar as turbinas de um
mecanismo que desaliniza água do mar se apaixona por uma cientista. A grande
sacada: o conto é narrado pelo próprio golfinho, o que faz o escritor usar de
contorcionismos estilísticos para simular o modo de pensar e de se expressar de
um cetáceo.
“Viagem de ida sem volta” nos conta a história de um astronauta que
se apaixona por uma mulher de uma colônia terrestre – uma mulher monstruosa
para nossos padrões. É uma curiosa investigação psicológica que flerta com a
teoria freudiana.
“Nascer do sol em Mercúrio” mostra uma missão para espacial que
corre o risco de terminar com a morte de todos os tripulantes porque um dos
astronautas decide se matar. Uma interessante abordagem psicológica, inclusive
sobre inteligências alienígenas. Daria um ótimo filme de suspense.
“Os exógamos” traz uma interessante questão antropológica. Em um
planeta distante, colonizado por humanos, duas famílias se transformaram em
clãs que não se misturam por séculos: os Clingert (morenos) e os Baille
(loiros). Como tal, cada um cria uma cultura totalmente diferente – além das
diferenças exteriores. A inimizade entre eles é tão grande que famílias Baille
que tenham filhos morenos são apedrejadas. Tudo se complica quando um rapaz
Baille encontra uma moça do clã rival e se apaixona por ela. Silveberg usa esse
plot Romeu e Julieta como uma investigação antropológica. 
“Um descer suave” mostra um computador especializado em terapias
psicológicas que enlouquece graças ao contato com seus pacientes. O
interessante aí é que a história é narrada em primeira pessoa.  Da mesma forma que em “Ismael apaixonado”, o
destaque fica por conta da maneira como o escritor se coloca no lugar do
personagem, um golfinho no outro conto, um computador aqui.
Enfim, uma coletânea obrigatória. Um único ponto negativo: a
horrível capa, com imagem que mostra o horrível robô filme Logan´s run e uma
fonte que deveria remeter à ficção científica, mas é apenas datada (e
provavelmente já era datada na época em que o livro foi publicado).

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