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Frank R. Stockton – Foto divulgação |
No Natal, decidi comprar um presente para Mildred, inteligente, bela e que, desde os meus quatorze ou quinze anos, era minha companhia favorita. Procurei nas lojas de minha cidade algo que simbolizasse não o calor de uma paixão, mas justamente o contrário. E, em uma lojinha situada em um porão de uma casa, encontrei um peso para papéis feito de “sidrac”, ou seja, o pedaço de ferro que, nas fundições, ao ser queimado, não é afetado pelo calor. Isso remete à antiga história do rei Nabucodonosor que, tendo lançado a um forno fumegante alguns jovens hebreus, um deles conseguiu sair ileso. E baseado nesses dois fatos é que se criou a lenda de que um “sidrac” teria poderes mágicos para arrefecer a ira, ou o nervosismo de quem o possuísse. Ou ainda, pensava eu, poderia acalmar os ânimos ardentes de uma pessoa em relação a outra, no que se refere à paixão amorosa.
Dei o pedaço de metal a Mildred, que passou a me tratar com cada vez maior indiferença. Isso não foi o que eu planejara. Essa indiferença poderia acabar em animosidade. Pensava em manter a amizade de Mildred e ter o amor de Janet, com seus olhos profundamente negros e atraentes como nenhum outro, para mim. Havia no vilarejo em que nós vivíamos, um clínico, o Dr. Gilbert, velho amigo meu, que estava “arrastando as asas” para Janet. Isso não era absolutamente de meu agrado e decidi “arrefecer seus ânimos” para com ela. Peguei o “sidrac” de Mildred, com sua permissão, dando a desculpa de que iria fazer estudos com ele, e dei-o ao Dr. Gilbert. Nos dias que se seguiram, ele pareceu não se interessar mais por Janet.
Janet, que iria passear com o médico até a colina dos rododendros, decidiu, porém, fazê-lo ao invés, comigo, e era nessa hora que eu iria abrir meu coração a ela. Mas chovia sem parar, por dias a fio, o que impediu minha saída com Janet. Nisso, as intenções de Mildred para comigo, mudaram. Passou a tratar-me com indiferença completa. Quando fu i visitar Mildred, vi que o “sidrac” estava em sua biblioteca. Ela disse que fora visitar Janet Clinton, uma tarde, e vira o pedaço de metal com ela. Descobriu que um cavalheiro havia dado ele a Janet. Mildred afirmou a ela que o “sidrac” havia sido um presente que ganhara de uma pessoa que ela muito bem conhecia. Não disse, porém, o meu nome. E Janet devolveu-o a Mildred. Assim, o “sidrac” estava de volta à biblioteca de Mildred. O feitiço do metal se dava, mais uma vez, afetando o relacionamento dela para comigo.
Pedi que desse o metal a mim, novamente. Era muito importante para mim que o fizesse. Ela concordou e eu levei-o aos fundos da propriedade dos Bronce, onde havia um lago. Lancei o maldito “sidrac” às águas. Mas, encontrando o pai de Mildred na cidade, dias depois, em conversa descobri que o sistema de fornecimento de água da família Bronce estava sendo feito através do bombeamento de água do lago em que eu havia jogado o metal. Então, vi que essa era a razão pela qual, nesses últimos dias, não só Mildred, mas toda a família dela, haviam se tornado frios para comigo. A magia do “sidrac” se espalhara por toda água do lago!
Uma noite, entrei no lago, pé ante pé, para não acordar ninguém, e consegui reaver o sidrac. Saindo do lago, vi-me perante uma ameaça terrível. O touro, que pertencia aos Bronce, trotava de cabeça baixa em minha direção. Ele me ouvira saindo do lago e estava furioso por eu ter invadido a propriedade dos Bronce.
Não me fiz de covarde: ou melhor, estava tão apavorado, que não fugi, mesmo porque me encontrava encharcado de água e não poderia escapar. Joguei o “sidrac” na cabeça do touro que, provavelmente devido aos poderes calmantes do metal, estacou e começou a pastar. Fui salvo por um pedaço de metal que só me prejudicara, a partir do momento em que o dera a Mildred, no Natal. O “sidrac” ficara, a partir de então, perdido no campo, e seria enterrado, assim que o solo fosse arado.
E assim, o Dr. Gilbert casou-se com Janet, e minha afeição por Mildred transformou-se em paixão tórrida. A Natureza seguiu seu curso. Casei-me com ela, logo. Em uma viagem às montanhas, eu e Mildred nos deparamos com uma região mineradora de ferro. Ela perguntou a um dos trabalhadores o que era aquele pedaço de metal tão estranho, que vira no solo. Ele disse-lhe que era um “sidrac”. Imediatamente, arrastei minha esposa para longe dali, ao que ela retrucou, dizendo que o trem partiria somente em uma hora.
Eu redargui, falando que o melhor era nos apressarmos, para apanharmos o trem que partiria em dez minutos.
Frank Richard Stockton (1834-1902) foi um escritor e humorista americano, conhecido por seus contos de fadas, que o fizeram muito famoso. Seus personagens agiam como pessoas comuns e normais, em meio a mundos e realidades extraordinárias. Esta foi a característica de suas obras. Stockton estudou até o ensino médio, antigo colegial, e tornou-se entalhador de madeiras, não abandonando a arte da escrita. Com a prática nessa atividade, tornou-se um dos melhores contistas de sua época, o que não era pouco. Sua obra teve influências de Júlio Verne (como em seu conto “The Great Stone of Sardis”, ou “A Grande Rocha de Sardis”, de 1898) e de Edgar Allan Poe (como “The Lady in the Box”, ou “A Mulher na Caixa”, de 1902). Com a influência de Poe, suas obras adquirem elementos góticos.
Até que ponto um objeto exerceria influência mágica nos seres vivos? Cristais de rocha, ametistas, topázios, águas-marinhas, piritas, todas essas rochas e pedras semipreciosas, que muitos afirmam possuírem e passarem uma dita “energia” para quem as possui, realmente ajudariam na cura de doenças ou na disposição física e mental de quem as carrega?
Assim como na astrologia, em que a influência dos astros (situados a milhares de trilhões de quilômetros da Terra) atingiriam beneficamente (ou não) os seres humanos, pode-se crer que um mineral, como uma lasca de quartzo, poderia curar o câncer ou a doença de Alzheimer.
Visto que não há base científica para isso — a não ser se pensarmos que um cristal é um objeto dotado de massa, ou uma quantidade de energia compactada —, pode-se admitir que a vontade da pessoa que acredita nesses fatos é que a influencia de maneira psicológica. E essa pessoa tem, a partir de sua crença, ânimo para se vir “envolta” em um manto de energia mística, que a protegerá e a conservará com capacidade para resolver os problemas difíceis da vida diária. Seria como uma muleta.
Isso é a visão científica dos poderes que tais rochas possuiriam. Pretendo, aqui, não atacar, de forma alguma, a crença das pessoas na ciência das energias das pedras. Não sou capacitado para tal. Afirmo, sim — e quero reiterar isso da maneira mais ampla possível — que não há base para afirmar que tais efeitos das pedras não existam. Podem existir, até onde sabemos. O Universo é vasto demais para que sejamos absolutistas em relação a dogmas. O dogma é algo pertencente às religiões. Não deve ser discutido, pois pertence às crenças dos fiéis em algo superior. E quem sou eu para duvidar da palavra de um religioso, e ainda mais da palavra de uma pessoa que acredita na energia dos cristais e rochas?
É o mesmo que falar que tal pessoa é dotada de P. E. S. (Percepção Extra-Sensorial). A parapsicologia é tratada como ciência, hoje, mas há cem anos atrás, quando não se conhecia a fundo tal ciência, acreditava-se que não passava de misticismo. E a arte da energia dos cristais bem pode ser que seja real; não é porque muitos não acreditam nela, que ela não exista. Pode muito bem ser que traga felicidade; que a paz de espírito de muitos seja causada pela presença benéfica das pedras.
*Sobre Roberto Fiori:
atualmente em Vargem Grande Paulista, no Estado de São Paulo. Graduou-se
na FATEC – SP e trabalhou por anos como free-lancer em Informática.
Estudou pintura a óleo. Hoje, dedica-se somente à literatura, tendo como
hobby sua guitarra elétrica. Estudou literatura com o escritor, poeta,
cineasta e pintor André Carneiro, na Oficina da Palavra, em São Paulo.
Mas Roberto não é somente aficionado por Ficção Científica, Fantasia e
Horror. Admira toda forma de arte, arte que, segundo o escritor, quando
realizada com bom gosto e técnica apurada, torna-se uma manifestação do
espírito elevada e extremamente valiosa.
Sinopse: Contos instigantes, com o poder de tele transporte às mais remotas fronteiras de nosso Universo e diferentes dimensões.
Assim
é “Futuro! – contos fantásticos de outros lugares e outros tempos”, uma
celebração à humanidade, uma raça que, através de suas conquistas,
demonstra que deseja tudo, menos permanecer parada no tempo e espaço.
Dizem
que duas pessoas podem fazer a diferença, quando no espaço e na Terra
parece não haver mais nenhuma esperança de paz. Histórias de conquistas e
derrotas fenomenais. Do avanço inexorável de uma raça exótica que
jamais será derrotada… Ou a fantasia que conta a chegada de um povo
que, em tempos remotos, ameaçou o Homem e tinha tudo para destruí-lo.
Esses são relatos dos tempos em que o futuro do Homem se dispunha em um
xadrez interplanetário, onde Marte era uma potência econômica e militar,
e a Terra, um mero aprendiz neste jogo de vida e morte… Ou, em outro
mundo, permanece o aviso de que um dia o sistema solar não mais
existirá, morte e destruição esperando pelos habitantes da Terra.
Através
desta obra, será impossível o leitor não lembrar de quando o ser humano
enviou o primeiro satélite artificial para a órbita — o Sputnik —, o
primeiro cosmonauta a orbitar a Terra — Yuri Alekseievitch Gagarin — e
deu-se o primeiro pouso do Homem na Lua, na missão Apollo 11.
O livro traz à tona feitos gloriosos da Humanidade, que conseguirá tudo o que almeja, se o destino e os deuses permitirem.
Para adquirir o livro:
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