Leo trabalha como mensageiro no Emperor Park Hotel. No segundo andar, no apartamento 222 está hospedado Barão, que pede para que Leo compre um jornal. Nessa ocasião o mensageiro vê um homem no quarto: “um homem pequeno, com pinta de índio, vestindo roupas civilizadas” e que “lavava concentradamente as mãos na pia do banheiro”. Uma cena aparentemente corriqueira, mas que chama a atenção do jovem, dado que o hóspede daquele quarto o habitava sozinho. A presença daquele homem, por si só, já ensejaria certo mistério para o novo funcionário do hotel.

Depois, quando Leo volta ao quarto para entregar o jornal que fora solicitado, ele vê dois pés sob a cama. Notou ainda que havia uma mancha vermelha no robe do conhecido benemérito e protetor de instituições sociais, Barão – o hóspede do quarto 222. Temos então o início de uma trama de investigação.

“O Barão muito pálido, como um doente, teimava em sorrir, mas não devia estar bem porque suas mãos trêmulas, deixaram cair os jornais. Leo abaixou-se para apanhá-los quando viu, sob a cama, dois pés calçados, apontando para a porta.”

Leo, para provar que não está enganado em relação ao fato de ter visto o corpo de um homem no quarto do hotel, sob a cama, passa a investigar o caso com apoio de seu primo e de Guima – também funcionário do hotel em que acontece o sinistro episódio.

A trama da obra se concentra na investigação do caso. Os personagens criados por Marcos Rey são bem delineados. Veja-se o exemplo de Leo, que apesar de jovem e de se lançar numa investigação sobre um crime (pelo menos é o que se supõe), mantém as características de sua idade (ingenuidade e certa ousadia em não prever riscos, por exemplo). Leo não aparece como um adulto, mas como o jovem que é.

Outro ponto que vale a pena mencionarmos é que antes de escritores passarem a  abordar personagens inclusivos, Marcos Rey, já o fazia. Gino, primo de Leo, que o auxilia na investigação do caso, é cadeirante em decorrência de uma paraplegia. Tal característica do personagem, contudo, não aparece de forma panfletária, mas com naturalidade dentro da trama, fazendo de Gino um personagem como outro qualquer.

Interessante notar o descrédito que Leo tem pela maioria dos personagens, exceto aqueles que o auxiliam na investigação. Muitos não acreditam que ele possa ter visto de fato um cadáver. O que de fato é uma situação incomum e que despertaria a descrença e a curiosidade de quem ouvisse tal história.

Aqueles a quem ele atribui a prática do crime são ricos e poderosos. Temos aqui, de pano de fundo, uma luta baseada no poder aquisitivo. Leo é o pobre funcionário, desacreditado, sem recursos, que se torna o lado mais frágil dessa relação, sendo contestado e tendo que fazer um trabalho hercúleo para ser ouvido. Do outro lado, temos gente com dinheiro e posição social abastada. Alguma similaridade com a realidade vivida pelos jovens da periferia? Marcos Rey sabe fazer a leitura da sociedade de seu tempo e, ainda, podemos dizer que os temas que trata em sua obra, embora estejam em camadas secundárias – como é o caso desse livro – se tornam atemporais.

Além de embarcar na jornada de desvendar o crime, Leo se depara com uma série de situações. Se vê apaixonado por uma menina que não é de sua classe social – o que gera desconforto, se depara com um homem rico e respeitado pela sua conta bancária e ainda tem que lidar com a desconfiança que a polícia tem sobre ele. A jornada do personagem durante a investigação é instigante e não há como não querer ler mais e saber mais sobre cada passo dado pelo personagem até que tenhamos a elucidação do problema que ele tem de resolver.

Ler O Mistério do 5 Estrelas traz um gosto de saudade para quem já teve a oportunidade de ler o livro em edição que outrora fora publicada pela Coleção Vaga-Lume. O direitos de publicação do autor agora são da Global Editora, que lançou essa nova edição. 

Trata-se de um livro voltado para o público infantojuvenil, mas que tem todos os elementos que não podem faltar numa boa trama policial: a ocorrência de um crime, alguém que investigue o caso, pistas que vão sendo deixadas ao longo da história, motivação para o crime e a revelação do criminoso; tudo isso com aquele gosto de aventura que Marcos Rey sabe imprimir nos seus livros.

O Mistério do 5 Estrelas é um livro excelente, de narrativa fluída, fácil de ler e que ainda conta com ilustrações de Alê Abreu. A obra de Marcos Rey pode parecer inicialmente uma história policial despretensiosa, mas revela-se uma trama bem arquitetada e que surpreende pela trajetória do protagonista e pelo caso que se propõe a solucionar, além das subcamadas que aparecem tênues, mas que podem reverberar pela interpretação e olhar aguçado do leitor.

Sobre o autor:


Marcos Rey, pseudônimo de Edmundo Donato, nasceu em São Paulo em 1925, cidade que sempre foi o cenário de seus contos e romances. Estreou em 1953 com a novela Um Gato no Triângulo. O Mistério do 5 Estrelas, O Rapto do Garoto de Ouro e Dinheiro do Céu, entre outros, além de toda a produção voltada ao público adulto, estão sendo reeditados pela Global Editora.

Ficha Técnica:

Título: O Mistério do 5 Estrelas
Escritor: Marcos Rey
Ilustrações: Alê Abreu
Editora: Global
Edição: 21ª
Ano: 2005
ISBN: 978-85-260-0998-1
Número de Páginas: 125
Assunto: Literatura infantojuvenil
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