Era início da década de 1990 e celulares, desktops e notebooks pareciam mais objetos de outros mundos, encontrados em filmes de ficção científica produzidos por Hollywood. Qualquer novidade tecnológica que surgisse no Brasil, nessa época, era motivo de alvoroço, ainda mais quando se tratava de um brinquedo num país cheio de crianças resultado de uma alta natalidade. Numa época de inflação galopante e crise econômica, a criança cujo pai abastado conseguisse adquirir um brinquedo tecnológico, já era o motivo para ela sair a rua exibindo-o para a tristeza de muitos que tinham que se contentar com carrinhos fabricados com restos de embalagens de margarina, por exemplo.

Uma dessas novidades que abalou o Brasil e tirou o sono de muitas crianças por muito tempo foi a venda de uma espécie de computador desenvolvido pela TecToy (aquela mesma marca dona do Master System e do Mega Drive) chamado de “Pense Bem”. Era bonito, funcional, colorido, fazia contas, ajudava aprender geografia, história e matemática, fora outras utilidades. Nada havia sido criado antes na indústria de brinquedos. Tais atributos, aliado a uma pesada ação publicitária bastaram para que a paz entre mim e meus pais fosse tirada. Para o meu espanto, certo dia, o meu pai chegou com um embrulho. Tinha o formato de um “Pense Bem”. Não me contive de alegria. Saí rasgando o papel colorido até que… Era um monte de livros! Quis me chatear na hora, mas os livros eram tão bonitos, com capas chamativas, papéis especiais, gravuras que me levariam a outros planetas, reinos, florestas… a outros mundos! Foram semanas de leitura e assim que o meu pai percebia que eu terminava de ler, ele ia me presenteando com novos títulos. Apesar de todo o barulho provocado pelo “Pense Bem”, ele não duraria muito no mercado e nem a sua criadora TecToy (que nos últimos meses ressuscitou o Mega Drive e cogita fazer o mesmo com o Atari), já os livros e a leitura ficaram.
Esse é um exemplo de como a ação dos pais é importante para despertar nas crianças o gosto pela leitura. Felizmente tive a sorte de ter um pai leitor e um amante dos livros. Além disso, na escola em que eu estudava havia uma bela biblioteca e os professores eram leitores, em sua maioria. Uma combinação perfeita para que as crianças lessem cada vez mais, hábito que me acompanha até hoje.
O incentivo dos pais e da escola são ingredientes indispensáveis para formarmos uma geração de leitores e, por conseguinte um país de leitores. Já temos 98,6% de crianças entre 6 e 14 anos presentes na escola, mas infelizmente, na maioria das vezes, são escolas sem biblioteca, professores malformados e não leitores e pais com baixa escolaridade, quando não, analfabetos ou analfabetos funcionais. Se nada for feito continuaremos a ser um país de não leitores, algo que provoca graves consequências, mas isso é assunto para outro artigo.




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