Publicado em 1890, O Cortiço, de Aluizio de Azevedo, é um
romance baseado na ideia equivocada do determinismo social, segundo o qual o
caráter de uma pessoa e seu comportamento é determinado pelo meio. E, para o
português Azevedo, um cortiço carioca era o pior dos meios, um local que
corrompia todos que entrassem em contato com o mesmo.
romance baseado na ideia equivocada do determinismo social, segundo o qual o
caráter de uma pessoa e seu comportamento é determinado pelo meio. E, para o
português Azevedo, um cortiço carioca era o pior dos meios, um local que
corrompia todos que entrassem em contato com o mesmo.
Assim, O Cortiço é uma história de degradação moral, em que
personagens desfilam diante do leitor, alguns até íntegros, como o português
Jerônimo, mas vão sendo aos poucos tomados pela lubricidade do local e acabam
contaminados.
personagens desfilam diante do leitor, alguns até íntegros, como o português
Jerônimo, mas vão sendo aos poucos tomados pela lubricidade do local e acabam
contaminados.
O romance guarda forte conteúdo racista certamente
influenciada por teorias em voga na época: o europeu é bom, íntegro, o
brasileiro é uma raça degradada.
influenciada por teorias em voga na época: o europeu é bom, íntegro, o
brasileiro é uma raça degradada.
É curioso e irônico, no entanto, que de todos os
personagens, o mais corrupto é justamente um português, João Romão, o dono do
Cortiço. Perto de suas maldades e de seu egoísmo os moradores do cortiço
parecem inocentes.
personagens, o mais corrupto é justamente um português, João Romão, o dono do
Cortiço. Perto de suas maldades e de seu egoísmo os moradores do cortiço
parecem inocentes.
Muito além de sua mensagem determinista, O Cortiço é um dos
melhores livros entre os clássicos da literatura brasileira. A forma como o
autor lida com uma infinidade de personagens, caracterizando-os perfeitamente,
dando a cada um deles uma uma história, um modo de reagir às alegrias e
adversidades, tudo isso é genial.
melhores livros entre os clássicos da literatura brasileira. A forma como o
autor lida com uma infinidade de personagens, caracterizando-os perfeitamente,
dando a cada um deles uma uma história, um modo de reagir às alegrias e
adversidades, tudo isso é genial.
É fácil aprofundar a personalidade de um único personagem.
Mas lidar com uma galeria tão grande sem perder a mão é coisa para grandes
autores.
Mas lidar com uma galeria tão grande sem perder a mão é coisa para grandes
autores.
Outro aspecto interessante é a inventividade na criação de
situações. No cortiço sempre está acontecendo algo numa espiral vertiginosa de
traições, brigas, intrigas.
situações. No cortiço sempre está acontecendo algo numa espiral vertiginosa de
traições, brigas, intrigas.
Acrescente-se a isso afinadas descrições da psicologia dos
personagens que lembram muito Eça de Queiros. Como exemplo, um trecho em que o
autor descreve a descoberta da inveja por parte de João Romão: “E em volta de
seu espírito, pela primeira vez alucinado, um turbilhão de grandezas, que ele
mal conhecia e mal podia imaginar, perpassou vertiginosamente, em ondas de
sedas e rendas, veludos e pérolas, colos e braços de mulheres seminuas, num
fremir de risos e espumar aljofrado de vinhos cor de ouro”.
personagens que lembram muito Eça de Queiros. Como exemplo, um trecho em que o
autor descreve a descoberta da inveja por parte de João Romão: “E em volta de
seu espírito, pela primeira vez alucinado, um turbilhão de grandezas, que ele
mal conhecia e mal podia imaginar, perpassou vertiginosamente, em ondas de
sedas e rendas, veludos e pérolas, colos e braços de mulheres seminuas, num
fremir de risos e espumar aljofrado de vinhos cor de ouro”.