A catedral
de Notre Dame é o destino turístico mais visitado não só na França, mas em toda
a Europa. Boa parte desssa popularidade se deve ao romance O corcunda de Notre
Dame, de Victor Hugo. De fato, a catedral é tão importante na trama que o
título original era apenas
Notre-Dame
de Paris
(o corcunda
só entrou no título a partir das edições inglesas).
O livro
ajudou não só a popularizar a catedral, mas também a preservá-la. Segundo
relato do próprio autor, na época em que escreveu a história, Notre Dame sofria
com abondono e descaracterização, já que naquela época a arquitetura medieval
era considerada de mau-gosto. O livro foi uma das primeiras obras a resgatar a
beleza da catedral, que hoje deslumbra turistas do mundo inteiro.
A história é
centrada em dois personagens, a cigana esmeralda e o corcunda e caolho
Quasímodo.
Ambos
parecem opostos absolutos, de maneira que descrição de ambos é uma pérola da
antítese.
Quasímodo é
assim descrito: “Sua pessoa inteira era uma careta só. Uma cabeçorra espetada
de cabelos ruivos. Entre os dois ombros, uma enorme corcunda cujo peso se
compensava à frente. Um sistema de coxas e pernas tão estranhamente disposto
que elas só se encostavam à altura do joelho e, vistas de frente, pareciam dois
arcos de foice que se juntassem pelo cabo. Pés grandes, mãos monstruosas, e,
completando toda essa deformidade, uma atitude de aterrorizante vigor, agilidade
e coragem”.
As
qualidades de Esmeralda são opostas: “o pezinho era também andaluz, pois se
mostrava simultaneamente tolhido e à vontade na graciosa sapatilha (…) Ao
redor, todas as atenções estavam fixas, todas as bocas abertas, e, de fato,
enquanto ela assim dançava – ao som do pandeiro que seus dois braços roliços e
puros erguiam acima da cabeça delicada, frágil e viva como uma vespa, vestindo
um corpete dourado sem dobradura, os ombros nus, a saia colorida que inflava e
deixava às vezes que se vissem as pernas finas, os cabelos pretos, os olhos
ardentes – , era uma criatura sobrenatural”.
Mas essas
descrições, puramente objetivas, escondem o que realmente importa. Conservador
na juventude, Victor Hugo foi aos poucos se tornando um progressista, preocupado
com o povo miserável da França e os problemas sociais.  Assim, seu romance investiga a questão por
trás da aparência e a essência e sobre a questão do preconceito. Quasímodo,
feio, monstruoso, é um espírito muito mais bondoso e nobre que o frívolo capitão
Phœbus de Châteaupers, pelo qual Esmeralda se apaixona, e muito mais cristão
que o arquidiácono Claude Frollo, que, apaixonado por Esmeralda, a denuncia à
inquisição.
Aliás, a
questão do preconceito já transparece logo após a descrição de Esmeralda. A
imagem é descrita pelo poeta e filósofo Gringoire, que a avista dançando em
frente à catedral e a considera uma ninfa, uma deusa. Mas quando descobre que
se trata de uma cigana, toda a ilusão desaparece.
Na história,
todos se apaixonam por Esmeralda: o corcunda, o capitão da guarda, o arquidiácono
da catedral de Notre Dame. O capitão, belo e bem posicionado na sociedade
representa os nobres. O arqudiácono a religião. E o pobre Quasímodo é apenas um
rejeitado pela sociedade. No entanto, é o único que demonstra amor verdadeiro
pela cigana. O capitão quer apenas se aproveitar dela (e no momento em que
poderia salvá-la, faz que não a conhece) e o religioso, em seu amor possessivo,
chega ao ponto de denunciá-la para a inquisição. E mesmo Esmeralda, em sua visão
juvenil e ingênua, parece entender muito pouco sobre o que é o amor.
A história é
uma grande tragédia de fazer inveja a George Martin. Mas é, acima de tudo, uma
investigação sobre como as pessoas se deixam levar pela aparência, poucas vezes
indo além da mesma.
Victor Hugo
constrói uma trama bem elaborada, com reviravoltas sensacionais e texto
primoroso. Um único porém, que pode afastar alguns leitores: o autor tende a
digressões. Em determinados momentos paralisa a trama, para explicar, por
exemplo, como era Paris na época da história, ou como a imprensa matou a
arquitetura gótica.   

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