Biblioteca Dona Edite, a magia literária da ponte pra cá
Localizada próximo ao Parque Guarapiranga, a Biblioteca Dona Edite, com mais de dois mil títulos, conta com um acervo especial de autores autores contemporâneos frequentadores do movimento dos saraus e slams
Os moradores e trabalhadores que vivem ou passam pelas imediações da Avenida Guarapiranga, na periferia da zona sul paulistana, agora contam com mais uma opção no cardápio cultural da região, a Biblioteca Dona Edite, instalada na Casa Baderna, espaço de cultura e sede de alguns coletivos que atuam no território.
Com uma coleção de quase dois mil títulos, a biblioteca mistura autores contemporâneos, que protagonizam o movimento da literatura periférica, como Sergio Vaz, Luz Ribeiro, Elizandra Souza, Ferréz, King Abraba, Santos Drummond, Mel Duarte; com autores clássicos, cânones da literatura brasileira e internacional, como Machado de Assis, Maria Firmina dos Reis, Oswald de Andrade, Clarice Lispector, Dostoiévisk, Franz Kafka, entre outros que compõem um rico acervo, que conta também com uma sessão infantil com centenas de livros, almanaques, revistas e gibis. “A biblioteca tem sido pensada com muito carinho para que as pessoas queiram estar aqui, gostem de literatura e sintam-se pertencentes a esse universo, inclusive as crianças. O acervo, o espaço e a programação estão sendo construídos com todo amor e respeito que temos por esse movimento que estamos ajudando a construir há mais de uma década”, ressalta Carolina Peixoto, pedagoga e coordenadora editorial da Baderna.
Batizada com o nome da poeta Dona Edite, referência para o movimento da literatura periférica, mulher negra, mineira, apaixonada por leitura, que perdeu a visão com pouco mais de 50 anos de idade e, atualmente, do alto dos seus 82 anos, encanta e emociona a todos com um longo repertório de poesias, de autores contemporâneos e clássicos, que ela recita de cor no sarau da Cooperifa e em outros que frequenta, pelas quebradas de São Paulo. “Não encontro nem palavras, entre as vogais e consoantes, para colocar a alegria que eu sinto; isso aqui na nossa periferia é de uma grandeza tão imensa”, afirma Dona Edite, emocionada com a homenagem. Recentemente ela recebeu uma outra, dentro da Assembleia Legislativa de São Paulo, o Título de Cidadã Paulistana, “é fruto da nossa luta aqui nessa periferia, é tudo que nós plantamos ao longo de muitos dias, meses e anos” destaca orgulhosa.
Além do material físico da biblioteca, disponível para empréstimo ou leitura no local, existe também uma coleção de audiolivros, de algumas obras do acervo narradas pelos próprios autores, um conteúdo muito especial que reverencia a cultura da oralidade, tão importante para o desenvolvimento da literatura periférica. “Algumas escritas precisam ser ditas e ouvidas, os audiolivros nos proporcionam uma experiência diferente, ainda mais quando é a voz do próprio escritor. Podemos dizer que as possibilidades da literatura são infinitas, sejam lidas, ouvidas ou tateadas como nos livros em braille que também temos no nosso acervo”, explica Pam Araujo, escritora e produtora cultural da Baderna.
A biblioteca ficará aberta de quarta a sábado e será inaugurada no dia 17 de agosto, com um evento especial reunindo a própria Dona Edite, a poeta Jenyffer Nascimento e o gestor e produtor cultural, Gil Marçal, nomes importantes da cultura periférica para debaterem sobre “Literatura na Quebrada: Espaços de Respiro e Resistência”, a atividade é totalmente gratuita, a casa abre a partir das 19h.

Biblioteca Dona Edite – Casa BadernaInauguração: 17 de agosto, as 19hEndereço: Av. Guarapiranga 2376 – sobreloja
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