Kiko Ferreira – Foto divulgação |
O mineiro Kiko Ferreira é
poeta, jornalista, radialista e letrista. Está comemorando quatro décadas com a
antologia Tempo Diverso (1982-2022)
(editora Scriptum/www.livrariascriptum.com.br). O volume traz o obra inédita Pós-Calypso,
mas como o próprio nome indica reúne vários livros lançados por Kiko nesses 40
anos como, por exemplo, Cordiana
(1982), Beijo Noir (1996), e Manual de Berros (2020).
Tempo
Diverso mostra a poesia de Kiko, que, como diz o também poeta e acadêmico
mineiro Anelito de Oliveira traz “musicalidade própria, mesclando lirismo
e bom humor, erotismo e uma visão de mundo otimista e crítica. Um trabalho
atemporal que vale como retrato de um tempo de muitas mudanças, humanas e
tecnológicas, que ele registra com uma linguagem elaborada e fluente”.
O inédito Pós-Calypso
tem poemas criados durante os anos de 2020/22 e, como pano de fundo a pandemia.
Surgiu a partir do poema Pós-Calypso,
que foi premiado no edital Arte como
Respiro, do Instituto Itaú Cultural (São Paulo), e tem versos assim:
“como nada sabia ao certo/ pulei xadrez/ dancei squash/ lutei vôlei de
praia/ fiz buquê de brotos de samambaia /fiz macumba pro Vaticano/ na última
hora hora/ do último dia do ano”.
Kiko Ferreira
é atuante na área cultural de Belo Horizonte desde os anos 1970. Tem trajetória
extensa na comunicação, com atuações no jornal Estado de Minas e nas rádios
Inconfidência e Geraes, por exemplo, além da TV Horizonte. Nascido em Belo Horizonte,
foi criado no interior, em Ipatinga, no Vale do Aço. Começou escrevendo poemas
em pequenas edições em xerox, que distribuía entre amigos e clientes da loja
Gramophone, em BH, onde trabalhava. Tem poemas musicados por compositores como
Gilvan de Oliveira, Affonsinho, Ronaldo Gino, Danny Calixto e Zeca Baleiro.
Conexão
Literatura – Como você
definiria sua poesia? Ela segue algum ‘eixo’ dentro dos vários ramos da poesia?
Kiko Ferreira – Minha poesia tem alma de
música e busca ângulos, cores e movimentos diversos pra (re)ler ideias, fatos e
personagens. Não me sinto membro de nenhum movimento ou grupo literário. Sou
parte da cena contemporânea de Belo Horizonte e estou em constante diálogo com
a cidade e seus horizontes.
Conexão Literatura – Como é lançar Tempo Diverso (1982-2022), que cobre sua
trajetória como poeta? Que saldo você faz dessa caminhada?
KF – Tempo
Diverso reúne dez livros e quarenta anos de literatura, e serve como um
álbum de fotografias que procuram ângulos inéditos e visão pessoal do real e do
imaginário, do que tenho visto, narrado e imaginado.
Conexão Literatura – Até que ponto o
jornalismo tem a ver com a poesia? Ou são coisas independentes? No caso, usando
de sua experiência, como foi ir praticando as duas até aqui?
KF – O jornalismo cultural me permitiu
diálogos constantes e múltiplos que sempre influenciaram meus modos de ver e
pensar.
Conexão Literatura – Ao mesmo tempo que Tempo Diverso reúne toda sua obra,
também apresenta o inédito Pós-Calypso?
O que te inspirou a chegar no nesse trabalho?
KF – O livro Pós-Calypso começou com o poema, de mesmo nome, que fiz para um
concurso do Instituto Itaú Cultural, de São Paulo, para poemas escritos durante
a pandemia. Enquanto o livro Manual de
Berros, de 2020, refletia minha inquietação diária com a polarização
política que se deu de 2017 pra cá, no Brasil, o Pós-Calypso mostra idéias e formas de lidar com a quarentena e seus
desafios à sanidade.
Conexão Literatura – Você também tem
atuação na música, com parcerias com Gilvan de Oliveira, Danny Calixto e Zeca
Baleiro, por exemplo. Qual é a diferença entre fazer um poema e uma letra? E
qual o barato de ouvir um poema musicado?
KF – Minhas letras são poemas musicados.
Cada pessoa quando lê um poema encontra sua própria melodia a cada leitura. É o
que acontece com meus parceiros. E é sempre um prazer ouvir as melodias que
eles criam. Falando da música popular, nem toda letra se sustenta como poema,
mas a música é uma forma bem sucedida que o público tem para ter contato com a
poesia.
Conexão Literatura – Você indica novos
nomes ou movimentos da poesia nacional hoje?
KF – Me surpreende a quantidade de novos
autores que surgem o tempo todo. E se a internet multiplicou por mil o número
de obras e autores, também permitiu publicações equivocadas ou imaturas. Mas o
saldo é positivo. Com bons exemplos de novos, cito Maurício Guilherme e Rafael
Belúzio, indicados pelo poeta e editor Mário Alex Rosa, sempre antenado.
Conexão Literatura – Quem foram (e são)
suas influências em termos de poesia no Brasil e no mundo?
KF – Foram e são muitas, principalmente os
autores dos anos 1970 e 1980. Paulo Leminski, Leonard Cohen, Antônio Barreto,
Hilda Hilst, Charles Bukowski, Mário Quintana, Marcelo Dolabela, Ricardo Aleixo
e muitos outros.
Conexão Literatura: Existem novos projetos
em pauta?
KF – O próximo projeto é um álbum musical
com pelo menos 15 poemas musicados por parceiros
como Sérgio Moreira, Affonsinho, Chico de Paula, Túlio Rangel e Zeca Baleiro.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com
mais algum comentário?
KF – Gosto de usar em meus projetos um
verso de Gilberto Gil: “o povo sabe o que quer. Mas também quer o que não
sabe.” Sempre apostei e aposto na sensibilidade de leitores, ouvintes,
telespectadores e platéias.
Rápidas:
Um livro: Caprichos e Relaxos (lançado em 1983) do Paulo Leminski (1934/1989)
Um autor: Leonard Cohen (1934/2016)
Ator ou atriz? Fernanda Montenegro
Filme: Solaris,
filme soviético de drama e ficção científica, dirigido por Andrei Tarkovski, em
1972.
Um dia especial – A entrevista coletiva da
cantora Nina Simone (1933/2003), no Free Jazz Festival, no Rio de Janeiro, em
1988. Quando ela entrou na sala todos os jornalistas se levantaram e aplaudiram
de pé. Antes de qualquer palavra.