Cinema e literatura costumam andar juntos com frequência, já que muitos dos filmes que vemos são adaptações de livros. Portanto, não poderia ser diferente na obra de Tim Burton, um dos maiores diretores da atualidade. Quem já viu seus filmes, ou ao menos ouviu falar de Burton, sabe de seu estilo peculiar, de seu gosto por elementos góticos, cenários sombrios e personagens que, em geral, não se encaixam muito bem na sociedade. Além disso, há um detalhe a mais que chama atenção nos filmes do diretor: as influências literárias em seus filmes, as quais podemos notar algumas vezes de forma bem óbvia, como filmes inteiros baseados ou inspirados em livros, e, outras vezes, como pequenas referências que fazem toda a diferença. Segue, então, uma lista com algumas destas referências na obra do diretor.
Shakespeare – em O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare before Christmas)
Em uma cena do filme, o carismático e melancólico esqueleto diz que pode tirar sua cabeça e citar Shakespeare, uma óbvia referência a Hamlet, na cena do cemitério, na qual o jovem príncipe segura a caveira de Yorick.
Tal referência nos lembra de que há um realmente paralelo entre os questionamentos exustenciais do personagem de Burton e o confuso príncipe da Dinamarca, o qual já foi assunto de um artigo no Literatortura.
Charles Dickens – Jack lê Um Conto de Natal (A Christmas Carol)
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Ainda no mesmo filme há ainda outra referência literária, talvez menos notável por aparecer rapidamente em uma cena onde o esqueleto lê livros sobre o natal, com o objetivo de compreender o significado de tal feriado que tanto o encantou. E claro que um dos livros que vemos Jack lendo é o clássico de Dickens Um Conto de Natal, que consegue retratar de forma única o espírito de Natal. E pensar que, mesmo lendo Dickens para entender o Natal ou se inspirar, Jack não conseguiu fazer um Natal como queria, pobre Jack!
Poe – no curta-metragem Vincent
Em 1984, Burton produziu um curta sobre um menino um tanto peculiar que vive isolado em seu mundo, no mundo de imaginação sombria de sua mente (nem um pouco similar ao próprio Burton, né?). Esse menino é Vincent, que tem sete anos e cujo autor preferido é Edgar Allan Poe. O curta faz referência a contos de Poe quando o narrador conta que Vincent, em sua imaginação, vivia a lamentar a perda de sua bela noiva que havia sido enterrada viva, e, inclusive, no final, é recitado um trecho do poema O Corvo de Poe.
Frankenstein de Mary Shelley – em Frankenweenie
Não é preciso ser o maior fã de literatura gótica para notar a referência aqui, certo? A animação de Burton de 2012, baseada em seu curta liveaction filmado em 1984, conta a história de um menino chamado Victor Frankenstein que, através da ciência, consegue ressuscitar o seu cão morto, chamado Sparky. De onde será que Burton tirou tal ideia? Obviamente do clássico de Mary Shelley, Frankenstein, pois, além da referência mais do que direta no nome do protagonista e do filme, a história também segue uma linha semelhante, contendo o tema de trazer mortos de volta à vida através da ciência.Porém, diferentemente do cientista de Mary Shelley, que constrói uma criatura com a junção de vários pedaços de humanos mortos, o cientista mirim de Burton apenas traz seu cãozinho morto de volta. O que não deixa de trazer muitos problemas para a vida do pequeno, entretanto, com consequências um pouco menos letais.
Alice – Lewis Carroll (no filme Alice in wonderland!)
Não podia faltar nesta lista a mais recente adaptação do clássico de Lewis Carroll para os cinemas, em que Burton recria a Wonderland, dando ao mundo de Alice um ar um pouco mais sombrio (mas, ainda assim, menos sombrios que muitos fãs de Burton esperavam que fosse) e nos mostrando uma Alice adulta, retornando à Wonderland. Lá ela encontra uma guerra entre uma Rainha Vermelha de cabeça gigante e uma delicada Rainha Branca, um CheshireCat computadorizado com o seu marcante sorriso perturbador e um Chapeleiro Maluco interpretado por um Johnny Depp de cabelos laranja, entre outras coisas. Ou seja, imagine o mundo de Carroll misturado com o de Burton em uma versão em que Alice cresceu e precisa decidir o que fazer com sua vida enquanto quase perde a cabeça em Wonderland.
Washington Irving – A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (The Legend of Sleepy Hollow,  inspirado no conto de Washington Irving)

O clássico trabalho de um dos primeiros escritores americanos contando a famosa lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, ou A Lenda de Sleepy Hollow, como é realmente o título em tradução literal, ganhou uma versão para os cinemas. Neste filme, que é uma das melhores adaptações de Burton de obras literárias, o personagem Ichabod Crane, originalmente um professor, torna-se um excêntrico investigador interpretado por Johnny Depp. A lenda do conto de Irving ganha maiores proporções no filme, sendo a identidade do cavaleiro sem cabeça revelada no final junto a um mistério envolvendo todos os protagonistas. A fotografia sombria do filme, em cores sóbrias, com muita neblina e, é claro, muito sangue, junto a uma perfeita trilha sonora, cria uma atmosfera de mistério que consegue superar aquela criada pelo conto, apesar de o roteiro tomar caminhos bem distintos daquele traçado pelo trabalho de Irving.
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2 respostas

  1. Adorei o artigo! Tim Burton tem uma mente única, mas sabe misturar elementos como poucos 🙂
    "Sleepy Hollow" é um dos meus filmes favoritos tanto pela direção do Burton quanto pela atuação do Johnny Depp – já assisti umas 10 vezes e nunca me canso! O curta "Vincent" é outro que revejo sempre que posso <3
    Enfim, parabéns pela matéria!

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