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Guilherme Fostek – Foto divulgação |
Olá, leitores da Conexão Literatura! Meu nome é Guilherme Fostek de Oliveira e lancei o meu primeiro livro intitulado “A Canção de Um Pássaro Quebrado” pela Editora Uirapuru. Bom, sou natural da longínqua cidade de Pariquera-Açu, no interior do estado de São Paulo. Ao contrário da sua tradução da língua tupi (Pariquera-Açu significa Cercado de Peixe Grande) a cidade em si não é lá muito grande, mas tem os seus atrativos. Eu tive uma infância típica de um garoto do interior de São Paulo e não escrevo isto com demérito, pois é nesta fase que geralmente formamos nosso caráter. E em particular, devo muito ao meio social de família e amigos da qual tive o prazer de participar. Fui criado apenas pela minha mãe, Elisa da Silva. Ela é o alicerce moral da qual minha vida se fundamenta e observando em retrocesso, a agradeço imensamente pela educação que tive e por ela ter me aturado durante todos estes vinte e quatro anos e sete meses e mais alguns dias. Eu sou geólogo e atualmente estou terminando meu mestrado em geologia na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), na área de Geologia Estrutural e Geocronologia. Eu sei, você deve estar se perguntando “O que geologia tem em comum com a história do livro?” Bom, de fato não tem nada mesmo. Mas criar uma história do zero tem um poder absurdamente apaziguador sobre você e te tira muitas vezes das obrigações rotineiras que uma graduação te exige, como entrega de relatórios, trabalhos e pesquisas etc. A Canção de Um Pássaro Quebrado nasceu dessa forma, enquanto em uma aba do Word estava a história de Benn e na outra aba estava algum relatório que eu deveria entregar até o fim da semana, e que com certeza eu estava atrasado. E em 2015, fiquei sabendo de um concurso para a Editora Uirapuru que buscava novos autores e, assim, decidi mandar o livro para o concurso. Criança que não chora, acaba não mamando. E para minha surpresa o livro foi selecionado para a publicação.
ENTREVISTA:
Fale-nos sobre o seu livro.
O que o motivou a escrevê-lo?
Estou muito feliz em responder esta pergunta. O livro nasceu de um pedaço de um poema de George Ripley que foi um importante alquimista do séc. XV. A parte em questão é: The Bird of the Hermes is my name. Eating my wings to make me tame. Que em tradução livre seria: O Pássaro de Hermes é o meu nome. Devorando minhas asas para assim me domar. Esta frase também é ilustrada no excelente anime japonês, Hellsing. Há muitos debates em fóruns sobre o que Ripley gostaria de dizer com esta frase. A minha interpretação sobre ela é uma alegoria relacionada a desejos e a psique humana da qual eu tento representar neste conto. O livro até tem um capítulo chamado Devorando suas asas para assim se domar (E a frase inteira eu tenho tatuada nas costas, aliás). Muitas vezes, temos desejos dentro de nós que não são muito benéficos. Um emprego que você almeja, por exemplo. Você o quer, mas para isto, talvez você tenha de perder a formatura da sua filha. A apresentação de teatro do seu filho. Isto sem falar no caso clássico em que você sabe que para chegar a um determinado emprego, talvez você tenha que passar por cima de alguém ou mesmo fazer algo não muito lícito e moral. Aí vem a pergunta: “Isto que você acha que deseja é realmente aquilo que você quer?” Muitas vezes, eu acredito que devamos devorar nossas asas para assim domar algo que esteja dentro de nós. É uma ótica diferente daquela que o saudoso Chorão do Charlie Brown Jr. retratava: O Impossível é só questão de opinião. Apesar de eu gostar muito desta ótica, que ajuda as pessoas a tomarem as rédeas da própria vida, eu creio também que a precaução é sempre uma boa amiga. Um amigo me perguntou uma vez se eu era budista, após ele ler o meu livro, devido ao fato de que os ensinamentos de Buda falam exatamente sobre isto. O nirvana está logo ali, é só controlarmos nossos desejos que o alcançamos, dizia Buda. Segundo o próprio Siddhartha Gautama, este anseio em ser feliz, em ter uma vida equilibrada, em ser respeitado e quando estamos tristes, o anseio que a tristeza acabe é o que nos prejudica em sermos de fato… felizes. E o livro A Canção de Um Pássaro Quebrado retrata isto ao extremo. Um pássaro que tinha tudo para alcançar voos altos e quem saber ser feliz, se quebra devido ao não controle de suas emoções e desejos.
Como analisa a questão da literatura no país?
Eu não gosto muito de ser pessimista e na realidade, creio que não o sou. E não gosto também de começar frases com infelizmente…, mas, infelizmente, não vejo uma luz no fim do túnel. Se ela existir, talvez esteja tão fraca que precise trocar a bateria. Ou quem sabe, o túnel não tenha fim. A falta de leitura no Brasil é um problema endêmico e todo mundo conhece o diagnóstico e a cura para isto. Apesar de ela ser trabalhosa, esta eventual cura é muito simples: Incentivar a leitura. Não somente em crianças, mas também no público adulto. A falta disto ainda tem como resultado manchetes como: O povo brasileiro é um dos povos com menor noção da própria realidade. Sinceramente, acho isto assustador, pois isso reflete diretamente na vida de todos, desde a escolha de governantes até mesmo um espancamento de um rapaz por sua orientação sexual e/ou política. Com este cenário, o mais desolador, no que tange à literatura, é ainda ver livros e manuais de respostas fáceis, sem embasamento acadêmico algum, ganhando o aceite da população. Ou ainda textos que trazem revisionismos históricos com “novas” ideias que não são novas e muito menos têm embasamento teórico para tal. Eu, honestamente, gostaria que livros que trouxessem questionamentos ao invés de respostas fáceis, pudessem ter mais espaço nas vitrines. Em A Canção de Um Pássaro Quebrado eu tento trazer estes questionamentos da psique humana relacionada a desejos como um plano de fundo para uma história de fantasia. Talvez, seja esse o caminho, para atrair a atenção do público. Trazer questões que possam abranger o espectro humano através de histórias sobre ficção, fantasia, romances… E esta não é nem uma tática nova. Isaac Asimov fazia isso de forma assustadora em seus contos. George Orwel, Aldows Huxley e mais recentemente Patrick Rothfuss (do qual sou imensamente fã) já traziam esta temática há tempos. Em suma, era isso que eu gostaria de ver mais na literatura brasileira. Livros que trazem mais questionamentos ao invés de respostas. Pois se não houvesse uma pergunta, talvez ainda estivéssemos caçando alces como as antigas tribos de caçadores coletores que existiam no mundo Pré-Neolítico.
Quais os seus próximos projetos?
Primeiro, terminar a minha dissertação. Quanto aos livros, o final um tanto “maluco” de A Canção de Um Pássaro Quebrado deu brecha para uma continuação. A qual, eu ainda estou trabalhando nela. O segundo livro apesar de ainda não ter nome, é onde eu tento aprofundar um pouco mais a mitologia do mundo em que apresento no primeiro livro e ampliando um pouco mais os horizontes.
*Sérgio Simka é professor universitário desde 1999. Autor de cinco dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a Série Mistério, publicada pela Editora Uirapuru. Organizador dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Membro do Conselho Editorial da Editora Pumpkin e integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.
Cida Simka é licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Coautora do livro Ética como substantivo concreto (Wak, 2014) e autora dos livros O acordo ortográfico da língua portuguesa na prática (Wak, 2016), O enigma da velha casa (Uirapuru, 2016) e “Nóis sabe português” (Wak, 2017). Organizadora dos livros Uma noite no castelo (Selo Jovem, 2019) e Contos para um mundo melhor (Xeque-Matte, 2019). Integrante do Núcleo de Escritores do Grande ABC.