“Quando a Inocência Morreu” é uma celebração da memória e da imaginação.
Todas as famílias têm suas lendas, suas histórias repassadas até parecerem uma grande invenção. Na família de Estrela Ruiz Leminski, uma das principais era a história de sua bisavó por parte de mãe. Era uma mulher cigana que, ao se casar com um homem rico, foi a motivação da tradicional família deserdá-lo e, com isso, começar a jornada que resultaria na vinda da família para o Brasil.
Dessa mulher, considerada uma ousadia em seu tempo, não se tinha nenhum registro além do causo que havia um quadro com a única imagem dela em um museu na Espanha. Essa lenda familiar foi comprovada ao ser encontrada em exposição no grandioso Museu do Prado, em Madrid. Revisitando e recriando a história de personagens como essa bisavó, Estrela faz ficção com histórias reais e traz realismo para casos dignos de realismo fantástico em seu romance de estreia “Quando a Inocência Morreu”. O livro busca na memória de uma família, o sentimento universal de querer saber de onde viemos.
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“Eu não conheci nenhum dos meus avós, eles faleceram antes de eu nascer. Então eu tinha uma relação muito curiosa com essa questão da ancestralidade. Eu consegui uma bolsa para mestrado na Espanha em 2009, e lá mergulhei fundo nas bases da pesquisa histórica. Enquanto estava pensando no meu trabalho acadêmico não parava de pensar que eu estava fazendo o caminho inverso da minha bisavó castelhana. Pesquisava Curitiba e me vinha a inquietude de ser um lugar com uma configuração étnica enorme de migrações distintas. Essa inquietude eu pensava que viraria um doutorado. Mas acabou virando literatura”, conta ela, que vai nesse livro muito além das raízes já conhecidas do público: seus pais Alice Ruiz e Paulo Leminski.
Sua pesquisa começou pelo lado polonês do pai, revelando informações imprecisas. Assim, ela se aprofundou na genealogia, acessando documentos internacionais da Polônia e da Ucrânia.
“Anos depois estava montando uma exposição sobre a polonicidade do lado do meu pai e quando fui construir a árvore genealógica descobri que tinham histórias pressupostas, mal contadas ou mal pesquisadas na família. Comecei a procurar os familiares, pesquisar em sites, fiz teste de saliva de ancestralidade e nesse caminho descobri diversos primos. Cada um deles ía me trazendo mais fragmentos de histórias”, que foi unindo os cacos de histórias e documentos esparsos em uma narrativa coesa.
Dividido em partes, o livro é segmentado pelas histórias de cada personagem e por perguntas base: “quem”, “quando”, “onde” e “por quê”, explorando personagens como Pedro, bisavô de Paulo Leminski, e Luíza, tataraneta no futuro de outra Luíza, avó de Alice Ruiz. A história ainda inclui Josefa, avó de Ruiz, e Inocência, avó de Leminski, que morreu jovem durante a gripe espanhola em Curitiba.
A pesquisa de Estrela revelou a invisibilidade feminina e as narrativas não contadas que frequentemente resultam no apagamento das histórias. Ela cita no livro que existem três mortes: a do corpo, a do esquecimento e a do nome não escrito. Determinada a preservar a memória de sua família, Estrela transformou sua pesquisa em quatro histórias independentes, onde curiosamente ela não aparece.
“Para mim, era muito importante trazer um fio condutor que me tirasse da pessoalidade”, afirma. “Na realidade eu parti da minha família mas em algum momento assumi a ideia que era ficção. Com isso, além da liberdade criativa, tomei liberdade de incorporar na minha história, causos da família de amigos. Além disso, eu parti de elementos narrativos universais, o medo da morte, o amor não correspondido, a busca por identidade. Eu nunca quis contar uma história monótona cheia de datas, e heróis do cotidiano. Minha intenção é que se alguém não faz ideia de que são histórias baseadas em fatos reais ela mergulhe da mesma forma. O curioso é que muitas das coisas que parecem invenção são reais, e muitas das coisas que parecem fatos foram criadas”.
Essa mistura, que a autora chamou de biografia fantástica, surge permeada por livros, baralhos, árvores e ciganos. Histórias sobre pertencimento, ancestralidade e identidade que se entrelaçam neste que é o terceiro livro de uma artista, que tem uma longa carreira dedicada à música.
Estrela lançou seu primeiro livro, “Cupido, cuspido, escarrado”, em 2004. Em 2010, publicou “Poesia é Não” pela editora Iluminuras, que foi contemplado pelo programa PNBE em 2012 e adotado por escolas em todo o país. Ela também participou de várias antologias de poesia, consolidando sua carreira literária e agora explorando novos territórios com seu romance “Quando a Inocência Morreu”, disponível pela editora Iluminuras.
Crédito: Carolina Bassani
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Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Fã de Edgar Allan Poe. Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado De Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo” e outros. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com