Warley Belo – Foto divulgação

Warley Belo é advogado criminalista há mais de 20
anos, Presidente da OAB/MG – Subseção Venda Nova em Belo Horizonte / MG, Mestre
em Ciências Penais / UFMG e Professor de Direito Penal. É também Presidente da
Associação Atlética Acadêmica Kennedy e Promove. Possui homenagens, dentre as
quais: Comenda Direito e Cidadania (Câmara Municipal de Belo Horizonte – MG), Comenda
Carlos Drummond de Andrade (Belo Horizonte, MG – Academia de Letras Artes e
Cultura do Brasil), Medalha Dom Serafim Fernandes de Araújo (Belo Horizonte –
MG – Faculdade de Direito/PUC). Possui prêmio literário e diversos contos,
artigos e livros de Direito. Esse é seu segundo romance “jurídico”. O primeiro
foi “O Segredo das Cartas” (2015). 

ENTREVISTA: 

Conexão Literatura: Poderia
contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
 

Warley Belo: Desde muito cedo, tenho na literatura um
refúgio para as agruras diárias. É um mundo encantado onde podemos adentrar e
sair enriquecidos com as experiências, visões, vivências e ensinamentos das
outras pessoas. Guardo com muito carinho a leitura de meus primeiros romances,
ainda criança, como O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon), Droga da Obediência
(Pedro Bandeira), O Menino no Espelho (Fernando Sabino), O Apanhador no Campo
de Centeio (Salinger) dentre tantos outros, foi quando me encantei e sempre
mantive o sonho vivo de escrever um romance também. Demorei muitos anos até
lançar o meu primeiro livro não-jurídico, mas que também envolve um caso
processual onde a própria vítima me deu a ideia de transformar o caso em um
livro. Assim foi feito “O Segredo das Cartas”, cujas duas edições de mil cada
uma, já se esgotaram. Depois de ter vencido um reclame literário de contos,
tomei coragem para encarar um desafio maior, cujo resultado é este: “O
Labirinto do Cravo”.
 

Conexão Literatura: Você é autor do livro “O
Labirinto do Cravo”. Poderia comentar? 

Warley Belo: “O Labirinto do Cravo” é fruto de muitos
processos envolvendo a violência entre casais: Lei Maria da Penha, homicídios
passionais, lesões corporais entre namorados etc. Depois de muitos anos – e
também aliado às minhas próprias experiências conjugais – passei a identificar
um padrão de comportamento tanto nas vítimas como nos algozes agressores. A
partir daí eu comecei a encaminhar os processos à psiquiatria do Estado a fim
de se estudar o comportamento dos envolvidos e – invariavelmente – o resultado
apontava transtorno de personalidade, principalmente CID-9, 301.81, CID-10, F
60.8, cujos significados me fugiam ao conhecimento. Em conversas com
psiquiatras e depois psicólogos fui me familiarizando com os termos o que me
levou ao estudo do DSM-5 da psiquiatria americana. A partir daí foi fácil
identificar que a maioria dos casos que atuei como advogado criminalista
envolvia um narcisista. O tema é fascinante e literalmente passei a ler tudo a
respeito. Com esse manancial de informações e experiências, foi um desafio
muito prazeroso construir o romance para servir de alerta e acordar as pessoas
para o real significado de um relacionamento abusivo ou tóxico antes do seu
invariável fim: cemitério, manicômio ou prisão.
 

Conexão Literatura: Como
foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?
 

Warley Belo: As pesquisas foram feitas no campos da
psiquiatria (DSM-5) e da psicologia, principalmente analítica de Jung. A base é
a filosofia de Gadamer (Verdade e Método). Fizemos uma varredura em filmes que
envolviam o tema narcisismo e crime passional, assim como outros romances.
Assistimos muitas palestras e fizemos várias entrevistas com médicos,
psicólogos e mesmo clientes vítimas ou homicidas passionais. Ao total foram
quase 5 anos de pesquisa e escrita.
 

Conexão Literatura: Poderia
destacar um trecho que você acha especial em seu livro? 
 

Warley Belo: Existe uma passagem que é mais explícita
no que tange aos jogos mentais que o narcisista faz com suas vítimas, sempre
sutis e dissimulados. São armadilhas psicológicas para prender e fazê-los o
“centro do universo”. Basicamente, o livro é sobre como se entra nesse
“labirinto” e qual o rumo para dele sair. Nessa passagem, há um descarte (assim
chamado o término repentino da relação) e a imediata construção da dúvida nos
pensamentos da vítima. Essa dúvida é que faz a vítima ficar perdida em seus
pensamentos e devaneios sem saber o que está se passando, como se estivesse
navegando por um mar envolto à um denso nevoeiro. É uma armadilha mental da
dúvida e funciona como nunca se a pessoa não tem o conhecimento para se
proteger:
 

“(…)
Ele vai atrás.

No
portão do restaurante, ele a indaga:


Narcilla, – ela se volta para ele – posso te ligar depois?

Ela
encosta a sua mão quente em seu peito como costumava fazer, dando-lhe carinho.
Percebeu complacentemente que ele a admirava como um cãozinho idolatra seu
dono. Com um olhar de cigana oblíqua
e dissimulada, fita-o languidamente
e lhe responde:


Tanto faz.

Vira-se
e vai embora.”

(BELO, Warley. O Labirinto do
Cravo. Joinville: Clube de Autores, 2021, p. 148).

Conexão Literatura: Como o
leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco
mais sobre você e o seu trabalho literário?
 

Warley Belo: O livro pode ser adquirido no site do
Clube de Autores (https://clubedeautores.com.br/livro/o-labirinto-do-cravo-5).
Convido todos a também seguirem e lerem a página do livro no Instagram @olabirintodocravo.
 

Conexão Literatura: Existem
novos projetos em pauta?
 

Warley Belo: Sempre! Mas no momento estou dedicado às
pesquisas jurídicas.
 

Perguntas rápidas: 

Um livro: “O Crime Passional”
do Professor de Direito polonês Léon Rabinowicz (Coimbra: Armênio Amado, 1961).

Um (a) autor (a): Shakespeare
inaugurou a virada literária do objetivismo para os subjetivismos. Sua
capacidade de penetrar na mente humana é realmente impressionante e não há como
não lhe prestar homenagem.    

Um ator ou atriz: Selton
Mello, pela versatilidade e entrega de seus trabalhos.

Um filme: Pink Floyd – The
Wall (Alan Parker, Reino Unido: MGM, 1982) onde se trabalha a força do luto em
vários viés e o caso de maneira genial com a música. É uma fina expressão da
sétima arte.

Um dia especial: o hoje e o
agora são sempre os momentos mais especiais.
 

Conexão Literatura: Deseja
encerrar com mais algum comentário?
 

Warley Belo: O conhecimento – e mais do que isso, o
autoconhecimento – é capaz de aliviar e encurtar muitas dores. O livro objetiva
a compreender esse processo, mas a verdadeira mudança é sempre de dentro para
fora.

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