ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Gisele Garcia: Eu sempre amei ler e sempre me saí bem em matérias e atividades que envolvem a escrita. Mas, com exceção de algumas brincadeiras quando ainda criança, a ideia de escrever um livro nunca havia passado pela minha cabeça. A guinada em direção ao meio literário se deu quando eu escrevi uma história para meu filho mais velho (O Menino que Tinha Medo de Criança). A ideia era presenteá-lo com um livro baseado em uma dificuldade vivenciada por ele na primeira infância. Era para ser só isso: um livro; exemplar único. Mas alguns amigos próximos, ao tomarem conhecimento da história, se encantaram e me convenceram a compartilhá-la com o mundo.
Publicar meu primeiro livro funcionou como o pontapé inicial para eu querer mais. De lá para cá, publiquei outras histórias infantis e comecei, também, a me aventurar na dramaturgia, área que sempre me atraiu muito, e na literatura voltada para adultos.
Conexão Literatura: Você é autora do livro “Toada da Terra de Lá”. Poderia comentar?
Gisele Garcia: Claro! Essa é uma obra muito especial para mim, porque ela mescla literatura e música, duas linguagens que me acompanharam vida afora, impactando a minha formação como indivíduo. O livro entrelaça uma narrativa literária infantojuvenil com canções clássicas da MPB. A ideia surgiu após a morte de Aldir Blanc e o projeto, inicialmente pensado como uma homenagem a este artista, acabou se tornando um tributo a vários compositores que marcaram a vida cultural dos brasileiros.
A história acompanha as desventuras de Beatriz, protagonista que vai parar na fantástica Terra de Lá. Nesse universo, a garota conhece o desolado e triste pedreiro Pedro e, comovida, embarca em uma jornada em busca da Esperança, para devolvê-la ao coração do pobre homem. O enredo, que aborda importantes temáticas como solidariedade, amizade, superação de medos e empatia, é um mergulho na necessidade humana do sonhar.
No decorrer da história, a narrativa vai brincando com as letras de algumas canções e com alguns personagens clássicos da MPB: Pedro Pedreiro, a Esperança Equilibrista, o Poetinha, Dona Ivone Lara… A obra é uma boa oportunidade para ampliação do repertório musical dos jovens leitores. O livro conduz a uma playlist disponibilizada em plataformas de áudio (Toada da Terra de Lá – o livro) e a playlist conduz o leitor de volta ao livro.
Enxergo Toada da Terra de Lá como uma obra para dois públicos: os jovens leitores, que se divertirão com uma boa história, e os pais desses leitores, que poderão se encantar com as referências musicais no decorrer do texto.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Gisele Garcia: Difícil descrever. É como se qualquer coisa pudesse ser uma inspiração: conversas, sentimentos, notícias, imagens. A ideia para Toada da Terra de Lá surgiu com a tristeza pela morte do Aldir. Em meio à minha consternação, imaginei uma “Esperança Equilibrista” em aquarela. Pensei em resgatar meus pinceis e desenhar essa imagem, mas minha imaginação logo se desviou para um diálogo de uma menina com essa Esperança. O livro surgiu a partir daí.
Em outras situações, criações surgiram a partir de uma memória, a partir de uma curiosidade contada por uma amiga em um bate-papo descontraído, a partir de uma charge recebida em um grupo de mensagens, a partir da tristeza com a desigualdade social, a partir da empatia com mulheres em situações de abuso. Como eu disse, qualquer coisa vira inspiração.
Meu problema é que eu tenho muito mais ideias do que eu dou conta de desenvolver. Assim, é comum eu registrar o esboço dessa ideia em um bloco de notas do celular, desenvolver uns dois ou três parágrafos e largá-la. Quando tenho tempo, resgato um desses esboços para desenvolver. Mas há vários na fila.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Gisele Garcia:
O carregador já vai saindo quando a garota lhe indaga:
— Espera, por favor. Que lugar é este?
Deixando a pressa temporariamente de lado, o homem para de súbito. Ele olha a jovem de alto a baixo, pela primeira vez prestando atenção naquela estranha criatura vestida para dormir.
— Não sabe? Aqui é onde o sol nasce amarelinho e queima de mansinho. É a terra onde o céu é sempre azul. Onde podemos sentir o sabor do sol e o cheiro azul do céu. Você consegue sentir?
Fechando os olhos, o carregador ergue a cabeça, estica os braços e respira fundo. Abrindo um divertido sorriso, encoraja a menina com uma piscadela:
— Tente, você consegue!
Curiosa, a garota o imita. De olhos fechados, Beatriz começa a sentir o céu azul, um azul infinito e denso que envolve seu corpo qual mar de águas paradas. Respira o cheiro do mar e das estrelas. Será esse o cheiro do azul? (…)
Quando a menina e o carregador abrem os olhos, ele lhe sussurra em segredo:
— Se você sentir bem, vai perceber que também o amor é azulzinho como o céu!
Estranhando o amor poder ter cor, Beatriz se põe a imaginar qual seria a cor da alegria ou da saudade. E a tristeza, que cor teria?
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Gisele Garcia: O livro está disponível na Amazon, na loja online da Editora Labrador e em algumas livrarias: Livraria da Vila, Livraria da Travessa, Livraria Martins Fontes e Livraria Loyola.
Quem quiser saber um pouco mais sobre mim e acompanhar meus trabalhos, pode me seguir na minha conta instagram – @giselegarcia.bsb – ou me enviar mensagem no e-mail giselegarcia.escritora@gmail.com
Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?
Gisele Garcia: Ler muito, interagir e conversar com pessoas diversas, ser criterioso e exigente com seu texto, estar aberto a críticas construtivas e ser persistente, pois publicar no Brasil não é algo fácil.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Gisele Garcia: Sim. Sempre! A Engolidora de Palavras, obra vencedora do Prêmio Cidade de Manaus – melhor livro infantil, está para ser publicada. Além desta, tenho mais uma obra infantil concluída e outra em andamento. Também estou com duas dramaturgias finalizadas: uma peça longa, ambientada no Rio de Janeiro e voltada a jovens adultos, e uma dramaturgia curta.
Perguntas rápidas:
Um livro: Apontarei um brasileiro contemporâneo: Via Ápia, de Geovani Martins
Um ator ou atriz: Fernanda Montenegro
Um filme: Cinema Paradiso
Um hobby: São tantos: ler, jogar tênis, capoeira, tocar violão, viajar…
Um dia especial: Muitos também. Destacarei os dias de nascimento dos meus filhos.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Gisele Garcia: Gostaria de deixar aqui um grande agradecimento aos escritores e compositores brasileiros que nos proporcionam uma base cultural/intelectual para o enfrentamento da vida.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Fã de Edgar Allan Poe. Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado De Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo” e outros. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com