Rosamares da Maia, nascida em Pendotiba, Niterói – RJ é Bacharel em Direito, com Pós-Graduação na área do Conhecimento Humano, autora de contos, crônicas, poemas, infanto-juvenis, com a Ed. Scortecci/ Bienal 2024- SP As Miscelâneas do Caldeirão da Bruxa, com a Ed. Andross. Finalista no Prêmio Strix-anos 2020/21/22. Com a Ed. Litteris: Ludmila a Lagartinha Maratonista, As Aventuras de um Barquinho de Papel, Retalhos de Vida, Amores Cores e Sabores, Haicais à Brasileira e Tempo de Contradições, Contos: Não Sei se Devo, Mas VouCONTAR. Certificada pela Revista Conexão Literatura, por participação em Antologias. Coletâneas Selo OF FLIP, em 2020/21/22/23.com a D. Queiroz Ed. Literárias, em 2024, Poemas Tortos e A Ordem da Libélula.
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Rosamares: A minha iniciação no meio literário deu-se como leitor. Tão logo começamos, eu e meu irmão, a compreender os textos que liamos, o meu pai, passou a nos “municiar” com gibis, revistas em quadrinhos da nossa época de infância e logo foram chegando os livros, ganhamos em um Natal, uma coleção contendo 10 livros infantis, Coleção Madrigal. Os livros iam de Um Ianque na Corte do Rei Artur (Mark Twain) a Pinóquio (Carlo Collodi), dentre outros, depois Monteiro Lobato e um mundo de autores e histórias. Ler para nós não era uma obrigação, mas um prazer. Crescemos em uma época em que as escolas introduziam livros como atividades curriculares, muito além do “ler para fazer provas”, eram atividade lúdicas. Não haviam tecnologias de mídias, computadores, tablets ou celulares, tínhamos livros e com eles a possibilidade de viajar em suas histórias.
Comecei a escrever redações nas aulas de português e com a leitura veio a facilidade nas argumentações dos textos. Participei de inúmeros concursos escolares de redação, ganhei alguns, aprendi a contar histórias, primeiro através das poesias, a primeira que escrevi, aos 12 anos de idade, foi para a minha mãe que era Catarinense, e chamava-se “Saudades do Sul”, era um soneto cuja a última estrofe diz: Que dor se apodera do meu peito / Ai! Minha boa terra de céu azul / É uma coisa estranha e sem jeito / Ai um Deus! Que saudades do sul. Herdei de avó portuguesa a boca tagarela e a imaginação para criar histórias. Sonhava com elas, escrevia, mas, ficavam nas gavetas e/ou nas rodas de conversa, até que um dia, contei uma delas para o David Queirós de Oliveira, que na época, fazia um trabalho de ilustração para os projetos da empresa em que trabalho. Enquanto eu contava a história da Pita Pitanga e a Abóbora Moranga, ele embarcava no meu sonho e rabiscava em papel, com lápis os personagens, …. E aí, tudo começou, nasceu o primeiro dos 12 livros que tenho publicados hoje.
Conexão Literatura: Você é autora do livro “A Ordem das Libélulas – Organização Secreta de Mulheres”. Poderia comentar?
Rosamares : A Ordem da Libélula – Organização Secreta de Mulheres, é uma ficção criada para falar de uma realidade de violência existente num mundo corporativo, que é misógino, racista, sexista, etarista, homofóbico, dentre outras coisas, e que poucos conseguem vislumbrar a partir da expectativa de segmentos empresariais, pois as pessoas consideram que a violência contra os mais vulneráveis, acontecem somente a partir dos relacionamentos informais da sociedade, principalmente entre os segmentos mais pobres, e que em um mundo regido por regras trabalhistas, isto não acontece e por isso é minimizado, – doce ilusão, pois a própria regra é permissiva, se não fosse, não haveria a discrepância salarial entre homens e mulheres para uma mesma atividade, mas, esse é apenas um sintoma.
A história é uma catarse emocional, que pontua a capacidade de se indignar diante de uma vivencia real. É um apelo para que as pessoas não percam esta capacidade, para que elas, protestem, denunciem e façam movimentos para mudar a vida de seus semelhantes e, mesmo que não concordem com a ficção, que se utiliza de métodos pouco ortodoxo para promover o “equilíbrio da balança”, não deixem de ler e refletir sobre o que se vive neste mundo corporativo, que parece apartado desse tipo de desvio de conduta.
Há um compromisso também, em demonstrar estatisticamente os índices da violência no Brasil, com dados trazidos do Anuário de Segurança Pública, até agosto de 2023, que contem, por exemplo, dados sobre crianças vítimas de estupros, algo aterrador. Trazemos ainda, um quadro que chamei de NÃO SE CALE! PEÇA SOCORRO, que contém os números de telefone e endereços para que as pessoas possam buscar a proteção e o amparo legal.
Devo lembrar que A Ordem da Libélula, não é um livro sexista e/ou feminista – Mulheres contra homens, absolutamente, mas, é um grito de revolta, um pedido de socorro em nome de muitos vulneráveis, é um pedido de insurgência contra comportamentos absurdos, deploráveis em pleno século XXI, a era da AI (Inteligência Artificial), homens continuam matando e estuprando mulheres e crianças.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Rosamares: Normalmente o meu insight é precedido de uma inquietação, como uma água que vai aquecendo antes de ferver, e quando ferve, ela tem princípio meio e fim, dificilmente eu começo a escrever uma história em que eu não saiba onde quero chegar. Muitas vezes já levantei durante a madrugada para escrever. Já escrevi em pé na cômoda do quarto, fazendo o roteiro do que escreveria no conto ou versos de um poema. O que me inspira é o viver e os seus desdobramentos, as situações que me apontam que ali existe uma possibilidade de história para além dos olhos, por exemplo: Escrevi um poema de nome Acácia do Ténéré, baseado na história real de uma árvore de acácia que vivia há mais de 200 anos na Região do Ténéré, Deserto do Níger, sendo a única árvore sobrevivente, num raio de mais de 300km, essa arvore, serviu de “bússola” para as caravanas, o povo do deserto a venerava, suas ramas não foram pasto para nenhum animal, no entanto ela foi atropelada duas vezes, uma por um corredor do Rali Paris X Dakar e sobreviveu, e segunda vez, fatalmente atingida, por um bêbado ao volante – no Deserto! A capacidade de destruição do homem me inspira e me causa perplexidade.
Sou como a acácia do Ténéré / Solitária no deserto inclemente. / Olhos postos no impiedoso céu, /Resistindo ao passar dos séculos. (Primeira estrofe)
Atualmente lendo sobre a Fortaleza de Santa Cruz da Barra em Jurujuba – Niterói-RJ, palco de riquíssima história do Brasil, assim como de lendas fantásticas, comecei a escrever um conto sobre as pedras que choram em determinada data, e que ficam localizadas por de trás da Capela de Santa Barbara. O local segundo reza a lenda foi palco de uma triste história de um amor proibido.
A inspiração muitas vezes subverte a verdade, para contar de forma mais palatável, mas gosto de história com um bom trabalho de pesquisa e viés ancorado na realidade, principalmente se ela tem questões sociais pungentes, denuncias, causas necessárias. A Ordem da Libélula é um destes casos onde a inspiração cria todo um pano de fundo, mas não se descola do propósito maior que é o repúdio à violência de todas as formas, sofridas por mulheres, crianças e demais pessoas em situação de vulnerabilidade, trazendo inclusive dados estatísticos do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Certamente viver, ver e tentar traduzir o sentimento que a grandiosidade da vida causa é a minha fonte de inspiração.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Rosamares: Trecho do Livro a Ordem da Libélula. (Diálogo entre o Delegado Hamilton e a Delegada Adjunta Dra. Renata.)
“…. Neste exato momento ele explodia e sapateava no seu gabinete da DP de Homicídios da Região Leste do Estado.
– Ora Dra. Renata! Isto lá são horas das suas conclusões de “bolinhos de bacalhau”?
– Estes cretinos estão caindo como moscas nos meus jardins. São sete desde o Paducian. Todos em lugares inofensivos. Jardins, parques e até em floriculturas. Sete homens mortos, um para cada dia da semana e a Dra. concluiu que há uma “mulher aranha” matando todos eles? Está faltando uma teia também, não acha? – Bolinho, só bolinho!
– Dr. Hamilton, quantas mulheres foram vítimas destes crimes misteriosos? Casos de envenenamento claramente, mas para o qual não se acha um fio condutor?
– Cuidado porque se a Dra. achar vai levar choque! – Nem sabemos se na realidade há crime.
– Mas quanto aos locais, o Dr. Não acha que há uma estranha coincidência? No mínimo é inusitado.
– Dra. Renata, eu não sou pago para achar e sim para comprovar através das evidencias. …”
No trecho destacado fica caracterizada a relação desrespeitosa do titular da Delegacia de Homicídios, com os seus subordinados, principalmente com as funcionárias.
Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?
Rosamares: Existem diferentes aspectos de contextualização da questão da leitura e do leitor no País: Primeiro, a qualidade da educação, principalmente da educação pública, que não me parece ter o foco voltado para priorizar a formação do leitor, atualizado o projeto pedagógico literário, para o aluno em suas várias etapas do processo de aprendizagem e voltado para as regionalidades. O aluno acontece como leitor nas grandes Feiras Literária, as Bienais, com incentivo público para a aquisição de livros. São comprados os livros e escritores da moda (nada contra) e, nos pós eventos, nada se sabe, nada se avalia e nada se repercute, pelo menos publicamente, sobre o projeto pedagógico, alvo do investimento público (ai, nada a favor). Quanto aos alunos da rede privada, nada se sabe mesmo.
Muito embora a mídia volta e meia, fale de projetos fantásticos de leitura, financiados por empresas, grande parte tem o seu momento midiático e depois são pulverizados sem consolidação de resultados. A formação do leitor é ato perene, desenvolve necessidade de alimentação e de construir visão crítica.
Outro aspecto é o custo – no Brasil o livro é caro, dificultando o acesso, principalmente das populações com rendas menores, não há incentivo à cultura das bibliotecas públicas, próximas, nos bairros e até itinerantes. O livro também é muito caro para os autores, desconhecidos, aqueles que necessitam correr atrás dos seus sonhos de publicar e por isto, ficam à mercê do mercado editorial de médio e pequeno porte, que só se propõe a publicá-los, mediante o total custeio das obras pelo próprio autor, com lucros assegurados a editora. Ok. Afinal de contas é um negócio, mas, estes livros quando são colocados à venda no mercado tornam a gerar lucro para a editora e também para loja vendedora e o autor fica com a parcela mínima sobre o que conseguir vender. É muito difícil vender, pois há um investimento pífio ou nenhum em mídia divulgando a obra. É preciso quem se diga também, que há uma necessidade enorme de sorte, não é uma questão de talento ou de qualidade. Não! É questão de sorte ou do famoso QI – quem indique – para que um novo autor possa chegar as grandes editoras. Conheço projetos que por anos ficam sem qualquer resposta e na grande maioria das vezes, nem são analisados. Sob esta ótica a leitura é a maior prejudicada, uma vez que está em segundo plano, pois ninguém lê o que não conhece, nunca ouviu falar. Nos últimos três anos constatou-se através de pesquisas um decréscimo de 30% de leitores.
Felizmente, tenho a oportunidade de trabalhar, hoje, com ótimos editores, trabalho com pessoas que me são muito queridas e que tem me ensinado a trabalhar. Vendo pouco, mas não me sinto enganada.
As mídias digitais têm lá o seu efeito sobre o leitor, mas, ao mesmo tempo que ela coloca uma quantidade enorme de informações e possibilidades para a leitura e o leitor, eu particularmente, acho que elas não superam o fascínio de um livro físico, ainda não, até porque a variedade é tanta, que a qualidade de uma boa parcela é duvidosa. Minha outra teoria é que a utilização de uma mídia eletrônica é necessária e indispensável, nos dias atuais, mas, a sua utilização é sempre um momento tenso e não de relaxamento, como é o livro. Mesmo o livro mais denso e carregado de simbolismos e conceitos, trará ao leitor uma catarse emocional, uma imersão totalmente desligada das tomadas e da eletricidade e das urgências das realidades virtuais.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Rosamares: A Ordem da Libélula – Organização Secreta de Mulheres, e o livro Poemas Tortos, podem ser adquiridos, na loja da D.Queiroz Edições Literárias / www.dqueiroz-edicoesliterarias.com
Para saber sobre o meu trabalho e publicações em editoras como a Litteris Editora e a Editora Scortecci podem acessar o Instagram: maia_rosamaria e/ou o FaceBook: Rosa Maria Maia (Rosamares da Maia)
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Rosamares: Sim, tenho alguns projetos em andamento para o ano de 2025, pelo menos dois livros mais, pretendo que estejam finalizados para a publicação, um conto e um de poesias, mas, há também, dois livros infantis, que são a continuação de As Aventuras de Um Barquinho de Papel, prontos aguardando pela ilustração e orçamento para publicação.
Perguntas rápidas:
Um livro: Os Meninos da Rua Paulo (Ferenc Molnár)
Um ator ou atriz: Fernanda Montenegro e Anthony Hopkins
Um filme: Ensaio sobre a Cegueira (Baseado no livro de José Saramago)
Um hobby: Trabalhos Manuais (Bordado/ Crochê/ Macramê/ Costura)
Um dia especial: 30/09/1987 – quarta-feira (nascimento do meu filho)
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Rosamares: Gosto muito do projeto executado pela Revista Conexão Literatura, que dá oportunidade a publicação de novos autores, divulgando os seus trabalhos, de forma justa, tranquila, respeitando o texto do autor, gosto ainda do implemento cultural, do reforço nos conceitos de ortografia, com preciosas dicas para o uso correto da língua portuguesa, que é extremamente difícil, mas linda e doce e onde temos muitas palavras para um único objeto, situação ou fato. Complicada e maravilhosa. Gosto também, dos artigos e entrevistas; Da forma independente e leve como a Conexão Literatura chega ao público, pois realmente cria uma c o n e x ã o.
Muito obrigado pela oportunidade de divulgar o meu trabalho e parabéns a Revista Conexão Literatura pela qualidade de tudo que vocês têm feito em prol da literatura.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com