
Patrícia Ribeiro Rafael é natural de Salvador, vive em Brasília e atua no serviço público. É apaixonada por natureza, música e artes visuais. Ama descobrir novos lugares, mas também se encanta com o cotidiano. Escreve um diário desde criança, como forma de canalizar emoções, e encontrou na escrita sua melhor voz. “A curva que a água faz no meu corpo” é seu primeiro livro, lançado pela Editora Patuá em 2024. A autora participa da antologia Nós 2 (2024), do Selo Off Flip, e foi classificada em 2º lugar no Prêmio Internacional Pena de Ouro (2024), na categoria conto. Para acompanhar seu trabalho com a escrita, acesse o perfil @patriciarafael.escrita no Instagram.

ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Você é autora do livro “A curva que a água faz no meu corpo” (Editora Patuá), poderia comentar?
Patrícia Ribeiro Rafael: “A curva que a água faz no meu corpo” é um livro de contos regados de erotismo. São onze histórias narradas pela mesma protagonista. Em meio a viagens, encontros e mergulhos no corpo, ela tece suas percepções sobre a vida. É uma leitura sobre encaixes e desencaixes, sobre ir em busca dos próprios desejos, com uma visão dos sentimentos como bússola e do prazer como potencializador da conexão consigo e com o meio. Conforme a narrativa se desenvolve, a personagem ganha força. Um livro que exala poesia, liberdade e coragem.
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Patrícia Ribeiro Rafael: Desde pequena, gosto de ler e escrever sem pretensão. Na adolescência, quis escrever um livro, porém as tentativas não ultrapassaram as primeiras páginas. Não dei importância e coloquei o desejo debaixo do tapete. Mas os tapetes sempre dão um jeito de fazer a gente tropeçar. Já adulta, a vontade ressurgiu, porém com aquela mesma sensação de sonho inalcançável (“um dia, quem sabe”). De novo, não levei a sério e pus a ideia no cantinho do esquecimento. Até que em 2022 fiz um curso da Lua Menezes, que é escritora e terapeuta na área da sexualidade. Uma das tarefas sugeridas era a escrita de um conto erótico. Eu amei a experiência. Sempre me senti atraída pelo universo do erotismo e mergulhei com vontade na escrita do conto. Logo após, fiz uma viagem que me inspirou a escrever o segundo – e não parei mais. Sentia uma vontade imensa de continuar escrevendo contos. Lá pelas tantas, percebi que aquilo poderia virar livro. Terminei, revisei, mandei para leitura crítica, lapidei… Quantas vezes eu terminei esse livro… Até que soltei. Enviei para algumas editoras e logo tive o retorno da Patuá.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Patrícia Ribeiro Rafael: O impulso inicial é sempre intuitivo. Escrevo quando dá vontade. Então, quando percebo que aquilo está ganhando corpo e pode se tornar algo maior, escrevo também nos dias em que não me sinto inspirada. Geralmente flui. Minha avó adorava aquele ditado: “comer e coçar é só começar”. Acho que escrever também. E a delícia é justamente esta: perceber as conexões que surgem a partir da ideia inicial, a surpresa de ver a escrita trilhar rumos que eu não havia planejado. Dá trabalho, mas me divirto e me realizo quando ligo os pontos e consigo organizar a bagunça da minha cabeça. Quanto à inspiração, ela está em tudo que permeia meu cotidiano e, claro, em colegas de escrita. Gosto demais dos textos de Lorena Muniz, Lua Menezes, Morena Cardoso, Rupi Kaur, Ryane Leão, Cristina Rioto, Luiza Leão, Zack Magiezi, entre outros.
Conexão Literatura: Quais desafios você encarou no processo de escrita e publicação?
Patrícia Ribeiro Rafael: O primeiro desafio foi entender que meu livro era livro: achar que estava bom o suficiente, que tinha consistência. Depois, tive receio de publicá-lo e me sentir exposta perante a família, devido ao conteúdo erótico, e receio de ser julgada no ambiente de trabalho, por conta da visão de mundo da protagonista. Embora seja um livro de ficção, muito do que acredito está nesses escritos. Mas a vontade de lançar a obra era maior, então segui. Foi difícil também me assumir escritora, mesmo após publicada, pois essa palavra parecia estar sobre um pedestal de intelectualidade no qual nunca me vi. Levei tempo até internalizar que, sim, sou escritora. Agora o desafio é fazer o livro chegar às pessoas desconhecidas.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Patrícia Ribeiro Rafael: Vou citar uma passagem do conto Barco-pirata: “Ele nunca me disse de onde veio, mas eu soube ao lamber o céu da sua boca e sentir gosto de lar: o céu é nossa origem. Cavalos-marinhos nos trouxeram para experimentar a vida aqui embaixo (…). Ele me encontrou para me recordar de onde vim. Beliscou minhas nadadeiras enterradas nas pedras do aquário e me forçou ao movimento. Me fez lembrar que sou correnteza: posso quebrar o vidro e me derramar onde pertenço. Posso virar sereia e nunca mais vender minha voz para caber em lugares onde não respiro. Eu, que já fui mar, lago, cachoeira, até poço já fui, não mereço ficar domesticada num quadrado, comendo ração em vez de caçar o alimento do meu desejo. Ser aquário era pior que ser poço: no fundo do poço, a gente ainda sente.”
Conexão Literatura: Você criou uma playlist no Spotify para cada conto do seu livro, caso o leitor prefira ler com música. Fale mais a respeito.
Patrícia Ribeiro Rafael: A música tem o poder de transformar meu dia. Às vezes leio com música para tornar a leitura mais sensorial, então pensei em trazer essa experiência ao leitor. Em “A curva que a água faz no meu corpo”, as canções das playlists conversam de alguma maneira com o conteúdo dos contos, ainda que não sejam necessariamente as mesmas citadas nas histórias. Algumas pessoas me contaram que não conseguiram ler com a trilha sonora porque acabavam perdendo o foco. Outras conseguiram e gostaram. Vai de cada um.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Patrícia Ribeiro Rafael: O livro está à venda no site da editora Patuá, na Amazon ou diretamente comigo. Para adquiri-lo, basta acessar https://linktr.ee/patriciaribeirorafael e escolher a forma de preferência. Lembrando que os exemplares enviados por mim podem ir com dedicatória nominal. Os leitores também podem me seguir no Instagram @patriciarafael.escrita, onde compartilho sobre meu trabalho literário, conteúdos que me inspiram e, eventualmente, meu cotidiano.
Conexão Literatura: Como você analisa a questão da leitura no Brasil?
Patrícia Ribeiro Rafael: As pesquisas apontam que mais da metade dos brasileiros não lê livros, e a literatura contemporânea nacional (de ficção) não costuma se destacar entre os mais vendidos. Muita gente compreende a ficção como algo supérfluo, mero entretenimento, mas é possível aprender com ela. A gente aprende de forma lúdica, por vezes inconsciente. Mergulha nos personagens, se encanta, se inspira, ama e sofre junto. A gente se sensibiliza, enxerga outros pontos de vista. Essa é a magia da ficção. E, mesmo que determinada leitura não resulte em lição, nem tudo precisa ser utilitário. O entretenimento saudável é vital. Conseguir desopilar atualmente é quase um milagre. Eu redescobri meu gosto pela leitura quando voltei a ler ficção e quando passei a ler poesia contemporânea, especialmente a produzida por mulheres. Me sinto feliz por incentivar a arte de pessoas vivas.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Patrícia Ribeiro Rafael: Eu acabei de escrever meu segundo livro e estou buscando um canal para publicação. É um livro de poesia, que trata de um relacionamento disfuncional, numa linguagem mais ácida. Tenho também um projeto mais antigo, que surgiu antes dos contos. Mas, naquela época, a ideia de escrever um livro ainda era etérea. Então comecei a escrever os contos e eles atropelaram tudo. Me reviraram. Nasceram. E vi que era possível. Em seguida, veio o segundo livro, que também me atropelou. Se nada mais me engolir no caminho, esse projeto será o terceiro livro. Ele está aqui me olhando desencantado. “Até quando a senhora vai me deixar na reserva, meu anjo?”. Melhor escrevê-lo antes que desista de mim. Ideias têm asas e, assim como vêm, vão embora atrás de alguém mais disposto. Aprendi isso com Liz Gilbert, no livro Grande Magia, e achei linda essa concepção das ideias como entidades vivas flutuando em busca de canal.
Perguntas rápidas:
Um livro: Manifesto Crisálida (Morena Cardoso)
Um filme: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain
Um hobby: fazer trilhas
Um dia especial: todo santo dia em que consigo sair do automático
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Patrícia Ribeiro Rafael: Ah, sim: aos que forem ler “A curva que a água faz no meu corpo”, sugiro que leiam os contos na ordem. Eles são independentes, porém existe uma cadência entre as histórias. No mais, agradeço pela oportunidade de compartilhar aqui.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Criador e Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Já foi Educador Social e também trabalhou por 18 anos no setor de Inclusão Digital na Cidade de S. Paulo, numa rede de solidariedade que desenvolve ações de promoção da vida em várias partes do país e do mundo, um trabalho desenvolvido para pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social. Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com