Otávio Bastos Couto – Foto divulgação

Natural de São José dos Campos (SP), Otávio Bastos Couto é músico, poeta e escritor. Sempre em contato com a literatura, começou a escrever contos e poesias como uma forma de explorar caminhos para manifestar e expressar reflexões, ideias e pensamentos acerca da vida, explorando temas diversos. Através de seus textos, busca trazer aos leitores caminhos para percepções e transformações. Iniciou sua carreira na literatura em 2023 com seu primeiro livro de poemas, Arquétipos Inconscientes de Versos Anônimos. Participou da Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro (2023), de concursos literários e participou de inúmeras antologias, vindo a ter menções honrosas.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Otávio Bastos Couto: Com toda certeza! Minha história com a literatura começou quando eu ainda era criança, através da minha família. Em casa, tanto meus pais quanto meus avós sempre gostaram de música e literatura. Minha mãe trabalhou como professora de literatura e meu avô era um entusiasta da poesia. Cresci ouvindo o meu avô declamar poemas de Vinícius de Moraes e Augusto dos Anjos, e minha mãe falar sobre as mais diversas obras literárias. Durante o ensino médio, depois de ler Memórias Póstumas de Brás Cubas, meu amor pela literatura foi consagrado! O livro e seu autor, Machado de Assis, vieram a ser minha obra e autor favoritos. Em algum momento do ensino fundamental — na sétima série, acredito — escrevi alguns poemas, os primeiros, mas, infelizmente, esses escritos foram perdidos. Posteriormente, quando estava no período pré-vestibular, retomei a escrita. Eu tinha entre 17 e 18 anos, e havia começado a escrever poemas como uma forma de lidar com os conflitos mais diversos possíveis da vida, principalmente os emocionais. Diante da tensão de estar me preparando para o vestibular e sentir todos os medos possíveis desse processo, foi a poesia que me acolheu, revelando-se um caminho para conseguir externalizar aquilo que me consumia e aliviando o peso que estava no peito. Os anos foram passando e a escrita poética prevaleceu. Durante pouco mais de dez anos, entre 2012 e 2023, escrevi poemas de forma esporádica. Sempre levei mais como um hobby, um divertimento, um passatempo, porém todos os meus amigos que liam alguns de meus versos diziam que eu deveria publicar um livro. Eu não levava muito a sério, achava que não tinha esse potencial (risos). Até que, no ano passado (2023), uma grande amiga minha, após ler um poema meu, disse exatamente isso: “Otávio, você devia muito publicar um livro. Pensa com carinho!”. Exatamente no dia seguinte, essa mesma amiga me mandou uma publicação no Instagram de uma editora que estava recebendo originais de gêneros literários diversos, inclusive poesia. Parei por um momento e refleti. Então, falei comigo mesmo: “O que eu tenho a perder?”. Peguei todos os poemas que havia escrito nesse intervalo de 10 anos e montei o que veio a ser meu primeiro livro, Arquétipos Inconscientes de Versos Anônimo (2023). Mandei para a editora e, depois de uma semana, eles me responderam avisando que haviam gostado do livro e que queriam publicá-lo. Assim se iniciou a minha jornada literária. Depois da publicação do primeiro livro, participei também de antologias literárias, comecei a explorar minhas habilidades de escrita através de contos e crônicas, participei da Bienal do Livro do Rio de Janeiro de 2023, algumas feiras aqui na minha cidade e, também, uma exposição de poemas em uma galeria de arte, também na minha cidade. Atualmente, estou atuando como autor independente e dando vida à novas obras literárias.

Conexão Literatura: Você é autor do livro “Sonetos de Padaria e Rimas do Cotidiano”. Poderia comentar?

Otávio Bastos Couto: A obra, que é a minha segunda, começou a ser escrita pouco depois da publicação do primeiro livro, movido por um boom criativo muito espontâneo. Sempre gostei muito da forma poética do soneto e queria compreender melhor como ela funciona. Decidi estudar a sua estrutura e comecei a escrever poemas com os temas mais diversos e cotidianos possíveis como uma forma de praticar e brincar com essa forma poética. Eu atuo como professor de música dando aulas particulares e, entre um aluno e outro, eu tinha um grande intervalo de tempo. Então, sempre parava em uma padaria para tomar um café antes de seguir para a próxima aula. Foi nesse intervalo que comecei a escrever os sonetos. Eu usava qualquer elemento como tema para elaborar e desenvolver cada poema. O café, a xícara, o pão-de-queijo, o pão na chapa, as pessoas na padaria, o balcão, a paisagem pela janela, a movimentação na rua ou mesmo as reflexões mais curiosas — e quase aleatórias (risos) — que temos durante uma pausa para o café. Quem nunca teve um dilema existencial enquanto tomava um cappuccino? (risos). Foi dessa forma que escrevi o segundo livro: observando os elementos mais diversos e simples do cotidiano, do dia a dia. Ao mesmo tempo, a perspectiva sobre os sonetos é algo contemporâneo, inclusive trazendo, também, muita desconstrução e brincadeiras sobre essa estrutura. Dessa forma, a obra traz consigo uma aproximação da poesia ao cotidiano, buscando justamente aproximar os leitores desse gênero literário ao mesmo tempo em que traz um acolhimento. Basicamente, Sonetos de Padaria e Rimas do Cotidiano é um convite para os leitores pegarem uma xícara de café e se juntarem a mim para um bate-papo poético, despertando contemplação e reflexão sobre a vida e a simplicidade do cotidiano.

Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?

Otávio Bastos Couto: O meu processo de criação é literalmente uma coisa muito doida! Costumo definir que é um processo tão natural quanto respirar. (risos) O estímulo pode vir dos elementos mais simples e singelos do cotidiano, ou das ideias mais complexas e profundas. Às vezes vem como um trocadilho em cima de alguma palavra ou texto, ou sobre uma reflexão acerca da sociedade e do momento de mundo em que vivemos. Às vezes vem como uma brincadeira, algo para descontrair, como um desejo de me conectar com minha essência, com o Universo, com algo maior. Na maioria das vezes, como descreveria Rainer Maria Rilke, a criação vem como um ímpeto, algo que emerge do fundo da alma como uma necessidade de simplesmente escrever. As inspirações, da mesma forma, vêm dos campos mais diversos da vida e das artes. Uma música, uma escultura, um livro, um poema… Um filme! Amo cinema, amo filmes, e, por vezes, muitas ideias vêm dos filmes que assisto. Além desse processo mais etéreo, muitas ideias também surgem do estudo e da prática, da técnica, por assim dizer. Praticar a escrita de sonetos, por exemplo, me trouxe outras ideias que me levaram à outras ideias e que foram desde reflexões e contemplações até brincadeiras através das palavras. Então, basicamente é isso: uma doideira! (risos)

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?   

Otávio Bastos Couto: Com o maior prazer! Trago um dos poemas do livro que mais gostei de escrever.

Da Xícara | Otávio Bastos Couto

Por que açúcar ou adoçante

Numa xícara envolta por sorrisos

Se o elixir da sincera essência

É o doce dos triunfos vividos?

Por que mascarar o amargor

Das estações que se manifestam

Se por cada contraste disperso

Os doces paladares contestam?

O amargo e azedo duma xícara

É o doce e ameno duma caneca,

Anunciando os ventos em festa.

Do elixir se faz sincera a essência

Que desmascara todo amargor,

Num doce desfazer-se de toda dor.

O que eu mais gostei nesse poema foi trabalhar a ideia de xícara como os acontecimentos da vida. O contraste entre doce e amargo representando justamente os momentos de felicidade e realização diante dos momentos de tristeza e frustração, posto que fazem parte da vida. As nuances entre cada momento é que nos dá movimento ao longo da existência.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Otávio Bastos Couto: O livro está disponível em formato físico na Uiclap e em formato digital na Amazon. Se digitarem o meu nome, “Otávio Bastos Couto”, tanto na Uiclap (https://loja.uiclap.com/) quanto na Amazon (https://www.amazon.com.br/), irão encontrar os meus livros, inclusive o Sonetos de Padaria e Rimas do Cotidiano. Para os leitores que tiverem o Kindle Unlimited, conseguem ler gratuitamente todas as minhas obras. Acessando o meu site, www.otaviobcescritor.com.br, é possível encontrar mais informações sobre a minha carreira e o meu trabalho, e, também, sobre os meus livros e os próprios links de compra. Também posto muitos materiais e novidade no meu Instagram (@taviobc), principalmente com relação a eventos e projetos.

Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?

Otávio Bastos Couto: É uma pergunta muito interessante e curiosa. O que eu percebi ao longo da minha experiência e interagindo com o público é que, ao mesmo tempo em que existem muitos leitores ativos, também existem muitas pessoas não leem, mas que gostariam de ter o hábito da leitura. Curiosamente, esse público, em sua maioria, na realidade não sabe como desenvolver esse hábito, essa prática. Não sabem exatamente do que gostam de ler, qual tipo de texto chama a atenção, e acabam perdidos num mundo onde somos bombardeados com milhões de informações diárias. Provavelmente, esse bombardeio acaba contribuindo para que muitas pessoas fiquem ainda mais perdidas e dispersas nesse processo. De acordo com uma pesquisa de 2023 do Instituto Órizon, parceiro do Pró-Saber São Paulo, em 4 anos o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores. No ano de 2019, 100 milhões de brasileiros eram leitores ativos, número que consistia em 4,6 milhões de pessoas a menos do que o registrado em 2015. Ao mesmo tempo, talvez como um paradoxo, temos inúmeros eventos de literatura acontecendo ao longo de cada ano no país. Por exemplo, acabamos de ter a Bienal Internacional do Livro de São Paulo e logo menos teremos a FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty). Esses eventos estão sempre lotados. Inclusive, algumas editoras registraram recordes de vendas ao longo da Bienal de São Paulo. Parece uma grande ironia! (risos) Contudo, acredito que existem várias questões que afetam direta e drasticamente as estatísticas. Desde o incentivo à leitura dentro do ambiente familiar até a estrutura do ensino básico nas escolas, são inúmeras variantes que afetam diretamente as pesquisas, o que torna muito nebuloso afirmar algo com precisão. Um fator que particularmente acredito ter um grande impacto, principalmente nas escolas, é que somos cobrados a ler, mas não somos educados a ler. Ou seja, cobram-se metas de leitura, mas não existe uma sedimentação para que seja desenvolvido um trabalho ao ponto de se cumprir metas com qualidade. Inclusive, recentemente vi uma postagem no Instagram da Revista Conexão Literatura com uma fala que dizia o seguinte: “O leitor não lê apenas, mas recria a história, participa, interfere, discorda dela”. Isso se aplica não somente à literatura ficcional, mas também à literatura técnica, acadêmica, jornalística, entre outras. Ler não é somente ler por ler, mas sim se envolver com aquilo, com o texto, indagar se um autor realmente é convincente com o que está afirmando, ir a fundo, mergulhar neste universo. Com a prática da leitura, esse processo fica cada vez mais refinado, mas é fundamental termos a base para iniciar. Vejo, inclusive, leitores que se preocupam mais com a quantidade de leituras do que com a qualidade das leituras, e isso é algo que acredito ser uma consequência de se exigir tanto atingir as metas de leitura ao invés de sedimentar esse processo para que seja construída uma base sólida para seu desenvolvimento. Talvez eu só esteja delirando (risos), mas acho que é um ponto que vale uma grande reflexão.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Otávio Bastos Couto: Sem sombra de dúvidas! Na realidade, existem mais 3 livros que já foram publicados este ano, depois do Sonetos de Padaria e Rimas do Cotidiano. Dois deles são de contos e um é também de poemas. Além desses, existe um livro em andamento que são contos diversos que abordam ideias de sonhos numa perspectiva mais psicológica, por assim dizer. Fora este, no plano das ideias existem pelo menos mais uma meia dúzia de livros que já quero escrever… As ideias não param! (risos)

Perguntas rápidas:

Um livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas

Um ator ou atriz: Maryl Streep

Um filme: Interestelar

Um hobby: Compor músicas

Um dia especial: Quando fiquei até de madrugada escrevendo poesia com meu avô no quintal da casa dele.

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Otávio Bastos Couto: Primeiramente agradecer à Revista Conexão Literatura por este espaço tão especial e acolhedor e parabenizá-los pelo trabalho e contribuição com a literatura nacional. Gostaria também de convidar os leitores a se aventurarem nas leituras dos autores independentes. Existem muitos autores incríveis e talentosíssimos que, por vezes, acabam ficando sem espaço ou sem voz. Existem muitas ideias boas, incríveis sendo publicadas diariamente. Àqueles que escrevem, continuem! Não parem e não desistam! Àqueles que querem escrever, comecem com a primeira palavra. É ela que nos leva à segunda, à terceira, e assim por diante, até que um texto se mostra concluído diante de nós. Àqueles que procuram desenvolver o hábito da leitura, não tenham medo de se aventurar até encontrar aquilo que desperta interesse e prazer em ler. Vai valer a pena. Muito obrigado a todos pela atenção e carinho! Um grande abraço!

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5 respostas

  1. Otávio, você arrasou na entrevista! Sua confiança, clareza e conhecimento transparecem em cada resposta. Tenho certeza de que quem estava do outro lado viu o quão talentoso e preparado você é. Não é à toa que você é o meu melhor amigo, sempre me impressionando com sua dedicação e capacidade. Torcendo muito por você!

  2. O Otávio é uma alma sensível e iluminada, que nos ajuda a sair do coletivo desiquibrado, com suas obras.
    Parabéns pela carreira, pelas obras, pelo belo ser que você é!!

  3. Uma das melhores entrevistas que já li, e poderia facilmente ler inúmeras vezes. O Otávio é um artista com grande sensibilidade, muito atento às questões diversas do mundo. Ao mesmo tempo, fala com uma leveza única. Parabéns pela entrevista e carreira, e pelo novo livro, quer muito ler!

  4. O Otávio sempre foi um poeta de espírito, no jeito de ser e de levar a vida. Muito bom apreciar sua visão sobre as coisas do dia a dia de forma mais profunda

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