Advogada, Consultora Jurídica e Escritora. Pós-graduada em Direito Civil e Processo Civil.

Além do exercício cotidiano da advocacia, gosta de trabalhar com processos criativos, multimidia e narrativas diversas.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Mayra Matuck Sarak: Desde pequena sempre gostei de livros e histórias como forma de estimular a imaginação. Na adolescência lia revistas e gibis de bancas de jornais, livros de bibliotecas públicas que frequentava e da biblioteca da escola que estudei. Sempre interagi com isso de alguma forma, fazia anotações e desenhava alguns rabiscos.

No começo da vida adulta decidi escolher uma profissão que pudesse estar em contato com a leitura e a escrita para “vender” meu tempo com algo que possuo afinidade. Nesse meio tempo escrevi artigos, reportagens e produzi conteúdos de diferentes segmentos no mercado editorial.

Meu início como escritora (de livros) foi primeiro com o livro: Tecla Sapiens: Neurociências para Todos, publicado pela Editora Curt Nimuendajú, em coautoria com demais colegas. Essa publicação traz a escrita no formato de reportagem e artigos voltados para as áreas da saúde e da neurociência.

O segundo livro que escrevi foi voltado para o direito: uma escrita dissertativa/argumentativa sobre vulnerabilidades na internet e o crime de stalking: “A Tutela dos Direitos nas Infrações Cibernéticas: Lacunas de Impunidade entre o Tecnológico e o Jurídico”, publicado pela editora Lumen Juris.

Meu terceiro livro é essa HQ e envolve uma história de ficção.

Sou participante e mediadora de clubes de leitura. Leio assuntos da área jurídica e livros diversos, o que me coloca em contato com vários autores. Então, creio que meu início na literatura é um processo contínuo como leitora e autora.

Conexão Literatura: Você é autora do livro “Um relato póstumo de uma vida breve”. Poderia comentar?

Mayra Matuck Sarak: Claro. O livro “Um Relato Póstumo de Uma Vida Breve” é uma História em Quadrinhos (HQ), pois acredito que tem certas coisas que além do texto ganham algo mais com desenhos: principalmente conteúdos sérios ou críticas sociais. Esse é meu primeiro livro de ficção. Como gosto de HQ´s, escolhi seguir nesse sentido.

A narrativa se enquadra mais no gênero conto, pois a ideia foi oferecer uma leitura mais dinâmica. Assim, desenvolvi o roteiro considerando que nossa espécie (Sapiens) se comunica por símbolos desde a pré-história, os primeiros quadrinhos surgiram nas pinturas das cavernas quando o homem esboçava suas caças, desenhava sua comida e sua casa, rubricava em pedras e tentava esculpir seus desejos, medos ou segredos.

O narrador-personagem é um cachorro rebelde que vive fora de seu habitat natural, em uma cidade e expressa seu ponto de vista sobre viver em sociedade, com humanos e seus costumes.

Segundo o ponto de partida, influenciado por seu amigo de “purgatório cósmico” Machado de Assis, nobre escritor e criador do “emplasto Brás Cubas”, antídoto da melancolia da humanidade, o narrador-personagem resolve abordar postumamente suas memórias caninas de seu legado na Terra.

É uma história sem super-heróis, porém com uma dose de crítica, bom humor e criatividade nesse mundo “esculhambado” sobre a classe de mamíferos/humanos que pertencemos. Também quis homenagear os escritores brasileiros Machado de Assis e Luis Fernando Veríssimo: dois grandes autores, o personagem Wally da série interativa de livros infanto-juvenis criada pelo ilustrador britânico Martin Handford na década de 90 e fiz uma brincadeira com os ensinamentos básicos de Freud e Chico Xavier, que certamente estão no imaginário do leitor atento.

Mayra Matuck Sarak – Foto divulgação

Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?

Mayra Matuck Sarak: Isso é difícil de definir, mas acredito que como qualquer pessoa, ele depende de estímulos internos, externos e como elaboramos isso. Fico atenta em como uma ideia surge, reflito e analiso.  

Mas em resumo: tenho muitas ideias e na hora que sento para organizá-las, procuro agrupar de modo sistemático fazendo anotações físicas em um caderno. Estabeleço uma rotina para dar continuidade segmentada e desenvolver um assunto com começo, meio e fim.

Minhas inspirações são diversas: autores decorrentes de leituras que faço como leitora, projetos transmídia e plataformas de streaming que temos todos como consumidores Netflix, Amazon, etc, música, chuveiro, estrada, algum start repentino, algum stress do cotidiano, sentimentos diversos, um sono reparador, uma conversa despretensiosa, uma experiência inesperada … enfim: acredito que qualquer inspiração é um processo que uma pessoa experimenta pelo simples fato de estar viva.

Conexão Literatura: Como foi a escolha pelas ilustrações do livro?

Mayra Matuck Sarak: Forneci fotos como ponto de partida e no roteiro escrito delimitei cenas e o caminho que gostaria de seguir já indicando alguns elementos de imagem para compor com texto narrativo e cenas de cada página e personagens. Outros quadros apenas sinalizei: “desenho a critério do desenhista” e fiquei aberta para isso, pois considero importante saber como o outro (no caso o ilustrador) visualizava o texto.

Foi uma experiência rica, pois conversei bastante com o Flávio Soares (ilustrador), que queria expor suas percepções. Ajustamos tudo e ele deu vida desenhada ao texto escrito de forma bem competente.

Como somos chatos e teimosos (no bom sentido, espero), tinha algumas passagens que ele não queria abrir mão e eu também, como a tipografia, por exemplo. E isso faz parte de um processo de criação entre dois profissionais cada um em sua “arte”, pois são duas subjetividades tentando se ajustar e se expressar dentro de suas propostas.

Buscamos um equilíbrio narrativo entre o texto e a imagem. Por exemplo: no quadro do nascimento do personagem, destaquei no roteiro para incluir elementos de chuva e um semblante do Freud para expressar para ele o que passava na minha cabeça com o texto escrito sobre aquela cena.

Compartilho esse trecho do roteiro/gestação da criação para dar uma ideia prática de como o projeto se desenvolve:

Indicação no roteiro escrito:

Prévia do desenho:

Arte-final

Em outros quadros ele fez um esboço no lápis conforme ele pensava e me deu para aprovar ou não. Conseguimos um mínimo denominador comum para seguirmos com organização e liberdade. Foi uma experiência bem interessante.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores? 

Mayra Matuck Sarak: Claro. Segue:

Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?

Mayra Matuck Sarak: É uma pergunta complexa (e polêmica). Sinceramente eu sinto que o Brasil (que é um mini-universo multicultural com 27 Estados) é um país preguiçoso para a leitura, a escrita, atividades culturais e literárias. De um modo geral, há muitas outras necessidades antes dessa para os brasileiros e é compreensível, mas não deveria ser um limitador.

A busca por informação e conhecimento não é uma prioridade e talvez não seja um desejo. A cultura brasileira fomenta coisas mais imediatistas e materiais.

A leitura e o exercício da capacidade de pensamento não são prioridades e gera um nicho de “ET´s”. Acho uma pena porque a leitura e a escrita são armas bem poderosas e transformadoras.

Qualquer acesso ao livro ou algum conteúdo que foge um pouco de notícias pontuais e babados de fofoca, seja o que for, envolve algo mais analítico e reflexivo, e já faz bastante tempo que o mercado editorial está em crise, mas de alguma forma consegue manter um público que busca caminhos mais literários.

É algo complexo porque você encontra facilmente na internet críticas para a falta de interesse dos brasileiros por livros e isso começa na infância e no histórico de um país. Pode envolver políticas-públicas e uma falta de estrutura e comprometimento do Estado para educação de base, mas também é algo pessoal de cada um. Então, é um assunto que possui mais de uma resposta e talvez seja o caso de perguntar o que pode ser feito para a literatura atingir mais pessoas.

De forma muito rápida, a internet vem tirando a força do papel e ampliando o acesso de telas. A tecnologia no mesmo sentido e agora a AI. São processos de transformação para nos adaptarmos. Ao mesmo tempo, há um “universo paralelo” que consome livros físicos mesmo com a possibilidade dos E-Books. Enfim… há um ponto de encontro que valoriza a leitura, a escrita e a literatura.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Mayra Matuck Sarak: Por enquanto através da pré-venda no Catarse. O link de acesso é: https://www.catarse.me/um_relato_postumo_de_uma_vida_breve?ref=ctrse_explore

Na minha página no Instagram também tem um caminho: @digitalinretro e pode ser enviado um direct.

Posteriormente haverá um lançamento que não tenho a data ainda para meados de novembro. Pelo link do Catarse é possível enviar mensagem para saber maiores informações.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Mayra Matuck Sarak: Tenho, mas ainda está num forno à lenha.

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Mayra Matuck Sarak: Gostaria de parabenizar pelo lindo trabalho da Conexão Literatura, que faz mesmo uma conexão e gera espaço para a literatura, a escrita, a leitura e promove a interação entre autores nacionais e leitores. Agradeço pela oportunidade de estar aqui.

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