Nascido em 1984 em Irati,
interior do Paraná, onde ainda vive, Maygon André Molinari é graduado em Letras
e mestre em Filosofia. Publicou até o momento seis livros, tendo recebido
alguns prêmios literários (por poesias e peças teatrais), bem como foi
finalista do Prêmio SESC de Literatura, com o romance Bernardo, o escultor. Pai de dois filhos, além da escrita exerce
função de serventuário da justiça e também trabalha com agricultura
agroecológica, da qual é defensor. Seu livro
Do grito de sobrevivência ao último silêncio já foi resenhado na
revista
Filosofia, ciência & vida,
pela crítica literária Dra. Ana Maria Haddad Baptista. Recentemente publicou
uma novela, intitulada
Os espelhos. 

ENTREVISTA: 

Conexão Literatura: Poderia
contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
 

Maygon André Molinari: Comecei a ter pretensões um
pouco mais sérias em relação à literatura já em minha adolescência, mas cada
vez mais tenho pensado que é difícil delimitar o início da literatura em uma vida, pois os limites parecem borrados
e, de certa forma, começar a viver é também dar início a uma espécie de
“projeto literário” (ao menos no meu caso), e não digo isso num sentido de predestinação
ou algo do tipo, mas por entender que tudo
se torna escrita em uma vida, ainda que as mais das vezes tal escrita ocorra
sem palavras. Com esta concepção, quando ‘comecei’ a escrever, já havia escrito. Ou seja: apenas
comecei a dar forma textual para o que já existia livremente em minha história.
Escrever, portanto, talvez seja reescrever (ou reescrever-se).
 

Conexão Literatura: Você é autor do livro “Os
Espelhos”. Poderia comentar? 

Maygon André Molinari: Os espelhos é um livro cuja proposta é de fato a de um
espelhamento. Ou seja: eu compus o livro com dois capítulos 1, dois capítulos
2, até dois capítulos 11. Cada capítulo trata de um personagem, e ambos vão
sendo expostos (em vários sentidos) durante uma noite de outono, em uma cidade
do interior. O capítulo 12 é uma espécie de “espelhamento completo”, porque é
quando os personagens se encontram realmente, conversam, se percebem mais expostos
e portanto mais nus. Eu queria com esse livro atingir, quase que de modo
simultâneo, o interior e o exterior de cada personagem, mostrando suas vidas
como que de dentro e de fora, usando tanto uma voz de narrador como também desbancando tal voz em favor da voz dos
personagens. E faço isso sem delimitações, porque a ideia é mostrar que na verdade
o que serve de moldura para um espelho nunca lhe serve de limite.
 

Conexão Literatura: Como
foram as suas pesquisas e quanto tempo levou para concluir seu livro?
 

Maygon André Molinari: Na verdade a grande pesquisa,
por assim dizer, foi a do viver cotidiano. Sempre gostei de caminhar nas noites
e isso certamente me instigou a fazer esse livro em que a andança é, de algum
modo, um personagem também. Gosto disso, de pensar nos caminhos espiralados de
pessoas que não se conhecem, que se cruzam em esquinas e bares e praças sem que
haja um encontro de fato. E, caso se encontrem realmente, todo o caminho
anterior passa a ser revisto, redefinido e melhor apreciado. Isso ocorre em
todas as vidas… é só perceber que uma pessoa com quem cruzamos diversas vezes
e que não conhecíamos, um dia passa a fazer parte de nossa vida e então
dizemos: ah, então era você naquele dia!… O livro foi escrito nos dias 13 e
14 de março de 2020, bem próximo de ser decretado o estado de pandemia de
Covid-19.
 

Conexão Literatura: Poderia
destacar um trecho que você acha especial em seu livro? 
 

Maygon André Molinari: Vou destacar três: 

“…mas o que mais te irrita agora são os caras
naquela mesa, todos barbudos e com a barba sempre igual, e eu que uso barba
desde sempre, começo a me sentir como
um deles, ainda que não corte do mesmo jeito e deixe bagunçada e com aparência
de descuido, a pior sensação é quando você percebe que pessoas piores do que você gostam das mesmas
coisas que você, porque então você se obriga a perguntar se no fundo não é como
elas, e nessa hora você se levantou e foi ao banheiro, e por quê?, para se
olhar no espelho e comprovar que a
sua barba não é igual à deles, e por
isso saiu sorridente, orgulhoso, na verdade, pois o sentimento que tinha era de
ainda mais superioridade, e isso te permitiu sentar-se novamente à mesa, pedir
outra cerveja e considerar, filosoficamente, que as pessoas estão ficando todas
iguais, que os homens barbudos são iguais entre si e os sem barba também são
iguais, e que as mulheres são iguais e vão ficando cada vez mais iguais,
sobretudo depois das plásticas, e isso parece te provar que o sonho humano de
igualdade está se realizando e, oh, faça um brinde com você mesmo! (…)”
 

“(…) esse pai que arrota na mesa custeou tua
faculdade e os teus livros e tua roupa e tua comida nesse tempo, e essa mãe
grosseira e triste que resmunga enquanto lava a louça é por coincidência a
mulher que lavou tua roupa nesses anos e comprou jogos de cama novos e edredons
e até mesmo outras toalhas de banho para que você não se preocupasse com nada e
pudesse tranquilamente ficar no quarto lendo teorias dramáticas e se indignando
com textos para não ter de se sujar, veja bem, com a vida.”
 

“…acabarão os encontros ocasionais em tua casa,
nessa mesma casa que você desenhou para ser exatamente do teu tamanho, ou seja, para não caber uma família, para não caberem
crianças e nem uma mulher definitiva,
e muito menos visitas, então pense que se essa busca por você mesmo te levar a outra pessoa, será preciso que ela caiba
no teu chalé e, mais que isso, que você caiba dentro dela, pois se for pra
avaliar bem, em todos esses anos não foram as moças que não se encaixaram e não
couberam na tua vida, mas foi você que nunca coube na vida de ninguém. E nessa
hora ele se sentou mais para trás, encostando-se no outro degrau da
arquibancada. A vida então passou.”
 

Conexão Literatura: Como o
leitor interessado deverá proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco
mais sobre você e o seu trabalho literário?
 

Maygon André Molinari: É fácil adquirir o livro, está
disponível no site da Editora Simplíssimo e em lojas virtuais, como a Amazon.
Vou deixar alguns links:
 

https://simplissimo.com.br/onsales/os-espelhos/ 

https://www.amazon.com.br/Os-espelhos-MAYGON-ANDR%C3%89-MOLINARI/dp/6558902184/ref=sr_1_35?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=VMNDL8PUWYTC&keywords=os+espelhos&qid=1640086828&sprefix=os+espelho%2Caps%2C250&sr=8-35 

Conexão Literatura: Existem
novos projetos em pauta?
 

Maygon André Molinari: Os espelhos é um livro que faz parte de uma série de escritos que
nomeei como “Farsa”. Há outros que muito em breve pretendo publicar, sendo que
o próximo se chama “Não é hora de julgar flores”. Não que se trate de uma espécie
de sequência, mas há um propósito assemelhado em cada composição e em que (de
um modo bastante resumido) se pode dizer que existem buscas individuais por
alguma espécie de verdade (ainda que temporária). Também existe um romance que
será publicado em breve: Alvir (as duas
partes do tempo)
.
 

Perguntas rápidas: 

Um livro: Assim falou
Zaratustra

Um (a) autor (a):  Guimarães Rosa e Virginia Woolf

Um ator ou atriz: Sandra
Bullock e Marlon Brando

Um filme: O poderoso chefão

Um dia especial: o vivido 

Conexão Literatura: Deseja
encerrar com mais algum comentário?
 

Maygon André Molinari: Não sei bem fazer publicidade a
respeito dos meus escritos, mas se alguém estiver disposto a olhar para os
espelhos espalhados no meu livro, espero que sinta-se convidado por esta
entrevista.

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