Marcos Borba é professor, psicanalista, poeta e no seu segundo livro lançado em novembro desde ano fez sua estreia como cronista pela Editora Viseu. Com sensibilidade, objetividade e delicadeza a obra REFLEXÕES SOBBRE A VIDA E A MORTE convida o leitor a pensar sobre questões existenciais apresentando um olhar de ressignificação diante do sofrimento, da dor e do luto. Partindo da experiência de cuidador durante o tratamento de câncer de sua mãe, o autor consegue com sutiliza apresentar reflexões profundas do momento que vivia gerando no leitor uma empatia e solidariedade digna das grandes experiências de transformação que os seres humanos podem viver.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Marcos Borba: Em 2005 pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE) lancei minha primeira obra com 45 poemas que se chama “O Palco da Vida, Alegoria Frágil”. Lá se apresentava um Marcos pós-adolescente que encontrou nas palavras uma maneira de vivenciar e fantasiar o mundo que vivia. Desde então, outros poemas e pequenos textos foram escritos de maneira esporádica. 19 anos se passaram até o lançamento da segunda obra e nela podemos perceber um Marcos amadurecido, conciso e sensível que foi sendo modelado pelo tempo, pela filosofia, pela psicanálise e pelas experiências vividas.
Conexão Literatura: Você é autor do livro “Reflexões sobre a vida e a morte”. Poderia comentar?
Marcos Borba: A obra é resultado de um processo único. Em 2018 descobrimos que minha mãe tinha um câncer raro de tireoide e não teria cura. Sempre costumo dizer que começamos uma “guerra” sabendo que iríamos perder. Na verdade, todo o processo, que durou 6 meses, foi uma oportunidade única de me repensar como filho e ser humano e ajudou toda a família a se redesenhar como membros de uma comunidade afetiva.
Minha residência é em São Paulo e meus país moravam em Joinville/SC. Depois do diagnóstico, pedi licença do trabalho, fechei o apartamento e mudei para Joinville para acompanhar todo o processo. No início recebíamos ajuda de pessoas próximas, mas com o prolongamento do tratamento as pessoas seguiram suas vidas e ficamos praticamente sozinhos.
Minha rotina era de casa para o hospital e do hospital para casa. No terceiro mês de tratamento, nas vésperas do Natal comecei a sentir a necessidade de conversar, desabafar, de ter uma válvula de escape, porém a rotina de um hospital e a redução do meu ciclo social (visto que se encontrava em São Paulo) levou-me a escrever. No prefácio começo dizendo “que as palavras me salvaram” e foi isso mesmo.
Comecei a escrever para conseguir suportar a realidade que vivia. Meu pai, irmão, cunhada e sobrinhos também estavam saturados e buscavam seus meios para passar por tudo e o meio que consegui encontrar foi a escrita. As palavras me ajudaram transcender o que vivia. Foi pensando nos textos de filosofia que li na universidade, principalmente dos filósofos existencialistas e nos de psicanálise, sobretudo Freud e Jung que figurou a minha necessidade de externalizar os sentimentos, ou seja, encontrei na escrita minha válvula.
O conteúdo era a vivência, as conversas, as observações, as insatisfações, os medos, a revolta, a angústia, e esperança, a frustração e a impotência de viver tudo que estava vivendo sem uma perspectiva esperançosa do amanhã. O detalhe ao meu redor, a solidão do presente e a incerteza do futuro me levou a escrever.
No início não tinha pretensão de transformar os escritos em livro. Após o falecimento da mãe precisei de um tempo para me reencontrar, viver o meu luto e deixar no esquecimento tudo que vivi. Sei que esse esquecimento é fictício, mas foi necessário. Quando completou 5 anos de tudo que tinha acontecido, acordei no primeiro dia do mês do falecimento da mãe e pensei: “vou publicar os textos”.
Sem muitos critérios, ou melhor, sem nenhum critério estético e literário envie para 10 editoras os originais. Um pouco descrédito e sem grandes pretensões, fiquei surpreso quando 06 editoras retornaram com um aval positivo para publicação dos textos. Uma das análises literárias apontou que: “com sensibilidade e poesia o leitor se identifica com a obra pela coragem do autor de fazer de sua fragilidade a grandeza do momento que vivia”.
Conexão Literatura: Como essa obra pretende chegar aos leitores?
Marcos Borba: Diferente de escrever um romance, um poema ou uma ficção, este livro parte da experiência empírica e sensível do que foi se vivendo ao longo de 3 meses. Não existia uma inspiração, uma “iluminação divina” para escrever. O que existia era a fragilidade de um filho que cuidou se sua mãe até os últimos dias da sua vida. Apesar de ambientar as reflexões com temas delicados e espinhosos para muitos, o livro não tem um apelo ao emocional destrutivo, ao contrário, ele serve como estímulo, autoconhecimento e suporte para todos que passam por situações de fragilidades, independentemente da causa geradora.
Outra crítica literária me disse que “este é um livro que não serve apenas para quem teve um familiar com câncer, mas sim, para qualquer pessoa que busca entender a complexidade humana, seus afetos e desafetos através de uma maneira direta e profunda”. A fala desta crítica me fez perceber que certos temas, mesmo que partam da experiência pessoal são universais. A dor, o amor, o perdão, a compaixão e as necessidades humanas são inerentes a cada pessoa, independente do credo, da condição social ou da cultura que se vive.
Poder reunir os escritos daquela época e apresentá-los em um livro não é apenas um privilégio, mas uma necessidade de dividir com outras pessoas a mais puro e genuíno sentimento. Os textos têm vida própria. Você pode ler na ordem apresenta ou não, reler depois de um tempo e sempre descobrirá uma nova moção, uma nova compreensão, uma nova maneira de se identificar com o que foi lido ou está sendo relido.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Marcos Borba: Não vou destacar um trecho em específico, mas sim, quatro reflexões que apresento no livro:
- Gosto muito da crônica que fala sobre “sentir falta x sentir saudade”. A falta é diferente da saudade e cada uma delas nos impacta de uma maneira. Aprender a preencher as faltas que surgem em nossas vidas, aprender a transformar a saudade em algo bom é essencial para realizarmos uma processo de luto e de superação de maneira sadia.
- Outra crônica que apresento é referente aos “vazios”. Quantos vazios possuímos ao longo do nosso existir? O vazio de um amor, de um afeto, de uma amizade, de uma realização, da morte. Cada tipo de vazio nos atinge de uma maneira e nos direciona a uma ou várias necessidades diferentes.
- “O tempo” que temos, ou que gostaríamos de ter, ou que imaginamos ter. Esse texto fala de maneira delicada como o tempo pode ser libertador ou aprisionador. Tudo dependerá da maneira como vamos vivenciar o tempo presente para não sentirmos a angústia de perder o tempo que nem sabemos direito que possuímos.
- “A morte nos leva a vida”. Esse tema aparece em algumas crônicas e nos questiona da necessidade de viver. A não imortalidade, a necessidade de controlar o futuro, os traumas do passado… Quantas coisas nos levam a morte e quantas coisas nos impulsionam para vida. Escolher viver para não morrer ou morrer para não viver? A analogia que se apresenta é só um dos exemplos do quão complexo e necessário é pensar e refletir as questões fundamentais do existir humano.
Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?
Marcos Borba: Somos um país que lê. Quero acreditar nessa premissa. O que me questiono é o que estamos lendo? O que é publicado? Quais tipos de literatura nos é ofertado? Desenvolver um país leitor é de responsabilidade de todos. A família precisa ser leitora, os professores precisam ser leitores, os “influencer” precisam ser leitores. O que quero dizer com isso é que todos nós precisamos ler e ser exemplo de leitores para outros.
Muitos jovens dizem que não gostam de ler. É comum ouvir isso. Quando escuto essa afirmação me questiono que tipo de experiência e influência esses jovens tiveram e têm para dizer que não gostam de ler? Não importa se a leitura é em um livro físico ou na tela de algum aparelho eletrônico, o importante é fazer o jovem (e todos) lerem mais. Ensinar a ter o gosto pela leitura.
Existe uma cultura de elitização dos bens culturais “de qualidade”. Isso é algo que me incomoda profundamente. Repensar o acesso à cultura e aos livros é primordial para o desenvolvimento do nosso país. Não podemos usar as redes sociais como inimiga da literatura. Precisamos aprender estas novas linguagens e usá-las a nosso favor, usá-las como instrumento de identificação e incentivo para a cultura e a leitura.
O estereótipo de que o brasileiro não lê agrada a quem? A quem interessa essa passividade da população a produção literária e cultural nacional? Quem ganha (e perde) com a inacessibilidade das pessoas aos livros e autores nacionais? Quando apenas uma parcela restrita tem acesso a produção cultural e literária dos seus conterrâneos, só aumenta de modo escandaloso a desigualdade intelectual (e social) das pessoas que formam o país. Qual a intenção de incentivarmos (socialmente falando) a produção literária e musical, por exemplo, de estrangeiros e não proporcionamos o mesmo espaço e visibilidade aos nossos escritores e artistas locais?
Penso que a questão da leitura no Brasil é muito mais abrangente do que falar que brasileiro não conhece Machado de Assim ou Cruz e Souza. É preciso repensar todo o sistema, toda a estrutura, para que tenhamos orgulho da nossa história, dos nossos escritores, dos nossos artistas, da nossa história, de quem produz cultura e literatura brasileira. Muitas vezes um autor brasileiro precisa ser validado lá fora para ser aceito aqui. Isso é muito triste.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Marcos Borba: A obra REFLEXÕES SOBRE A VIDA E A MORTE pode ser adquira da seguinte maneira:
Comercialização do livro impresso: Amazon, Americanas e Magazine Luiza.
Comercialização do e-book: Amazon, Apple, Barnes & Noble (EUA), Google, Kobo, Livraria Cultura e Wook (Portugal).
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Marcos Borba: Novos projetos já estão a caminho. Um livro de poemas, a publicação da dissertação do mestrado profissional que estou realizando na UFABC em Ensino de Filosofia e mais uma livro de reflexões (o tema é surpresa). Gosto de me aventurar por estilos literários diferentes. É algo que me faz bem, me renova, afinal, é pelas palavras que consigo mostrar ao mundo o mundo que existe dentro de mim e os mundos que gosto de imaginar, fantasiar, sublimar.
Perguntas rápidas:
Um livro: Budapeste, de Chico Buarque.
Um ator ou atriz: Tarcísio Meira e Denise Fraga.
Um filme: O fabuloso destino de Amélie Poulain e A pele que habito (de Pedro Almodóvar)
Um hobby: Caminhar na areia, molhar os pés no mar e sentir a brisa do mar (o cheiro de maresia) no rosto.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Fã de Edgar Allan Poe. Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado De Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo” e outros. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com
O livro realmente é fantástico. Lendo, me emocionei várias vezes.
É uma leitura agradável e sem rodeios. Vários momentos do meu dia fico pensando em alguma frase que li.