“Marcos A. Junior” é natural do Recife-PE, tem duas formações acadêmicas, mas só alcançou o nirvana profissional ao ingressar no universo literário. Começou a sua trajetória no final dede 2015 e desde então acumula 18 livros escritos. Dentre as obras publicadas, nos aventuramos com a vida do garoto Herbert, em “Herbert Flinch – O Manipulador de Sonhos”. Também deu vida a Thomaz, um aspirante a escritor que relatou os momentos sórdidos que passara, na obra “Cem Dias Na Prisão”. Além dos citados, também publicou trabalhos mais voltados para a área comportamental humana, em crônicas relacionadas ao amor e outras duas composições poéticas. Como criação mais recente, publicou uma autobiografia intitulada “Eu sou um grave acidente”, que traz como marco primordial um acidente que transformou completamente a sua vida.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Marcos A. Junior: O meu início no universo literário foi um tanto “diferente’ apesar de muito comum. Quando cito que meu princípio foi divergente, atesto isso porque a literatura nunca me foi um entretenimento habitual. No período do ensino médio, época em que os livros paradidáticos são exigidos, tenho recordação de ler apenas um dentre tantos, e nem foi um dos clássicos. Porém, lá pelos anos de 2009/2010, quando fazia parte de uma banda de garagem de pagode, onde escrevi 40 letras de música (todas perdidas em um curto elétrico), foi que percebi que realmente possuía uma facilidade para escrever. Apesar dessa percepção, apenas no ano de 2015, quando estava tomado por problemas no emprego, trabalho e, como consequência, em todas as demais esferas existências possíveis, que, através de um diário, escrevi o meu primeiro ‘amontoado de palavras”, digamos assim. Desde então, não parei, em momento algum, de expor tudo o que minha vinha à mente, seja em forma de poesias, crônicas, obras, vídeos e qualquer formas de arte ademais.
Conexão Literatura: Você é autor de vários livros, poderia comentar?
Marcos A. Junior: Acredito que todas as minhas obras são tentativas de “curar”, mesmo que minimamente, perturbações, sejam elas próprias ou de terceiros, a nível existencial. O meu primeiro trabalho, elaborei a história de Herbert, um garoto que descobrira uma habilidade “especial” de voltar no tempo e mudar os acontecimentos que lhe desagradavam. Esse é um poder, algo sobrenatural, inventado, mas que traz, em seu âmago, a importância das decisões em nossas consequências. Em seguida, contei a estória de Thomaz, um aspirante a escritor que descobrira a realidade carcerária no exato dia em que completara dezoito anos. A dureza vivida pelo personagem também é capaz de transformar a percepção dele, e de todos que leem a obra, acerca das durezas existentes na realidade e as que são inventadas também por nossas mentes pouco treinadas para tal combate, principalmente na jovialidade. Em sequência, separei textos relacionados ao amor, sentimento, mas também decisão, em crônicas que tratam de um assunto tão importante, apesar de hoje banalizado (e enxergado de maneira totalmente discordante de seu “sentido”). As duas obras seguintes publicadas foram coletâneas poéticas (125 em cada uma delas), mas não unicamente acerca do amor romântico. Em algumas delas também dei uma vazão maior a outras questões comportamentais humanas. Acredito que a poesia nos permite uma liberdade gigantesca, tanto de temas tratados como de construção, visto que, diferente do passado, os poemas hoje em dia são entendidos sem aquele apego excessivo à estrutura, com rimas e métricas, mas, ao menos nos meus, principalmente pela mensagem a ser entregue. Na minha última realização apresentada, trago, nítida e abertamente, a minha história de vida. “Eu sou um grave acidente” é uma obra autobiográfica e de extremo peso, pois retrata em si o fato ocorrido, o acidente, mas não unicamente como um relato tátil. Essa obra possui uma força adicional pois também mostra como é possível, apesar de árdua, a transformação quase que completa de uma vida, em todos os caráteres imagináveis, pois, devido a todos os acontecidos naquela data, e também em sua sequência, não há como passar por algo tão drasticamente grandioso e simplesmente enxergar tudo da mesma forma.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Marcos A. Junior: Acredito que assim como nos demais escritores, e artistas de outra vertentes, a inspiração seja algo incontrolável. Houve um tempo, na gênese da minha “alma artística”, em que eu houvera acordado de madrugada, às 3 horas da manhã, com algo dançando em mente, e anotado, quer seja num pedaço de papel ou no bloco de notas virtual, uma ou duas poesias, mas tal mecanismo indomável me foi verdade em poucas ocasiões. O interessante na inspiração poética é que ela não respeita locais e períodos. Perdi as contas de quantas vezes os lembretes foram feitos no verso de um papel de treino de academia (eu sei. Parece um lugar totalmente improdutivo, mas comigo funciona há bastante tempo). Agora, apesar da ainda infância da minha carreira, tenho insights de textos, roteiros audiovisuais ou até mesmo pensamentos e poemas em todos os lugares que estou, mas sempre anoto, pra posteriormente desenvolvê-los. Tenho pra mim que o desenvolvimento intelectual e prático/produtivo se dá pela simples questão exposta no ditado popular “A prática leva à perfeição.”. A simples questão de ter essa “necessidade produtiva” exacerbada por tanto tempo fez com que eu desenvolvesse uma capacidade de enxergar a poesia de cada uma das coisas na realidade, transformando-as em versos/verbetes táteis, tocantes. Sobre as inspirações, acredito que a principal dela seja a necessidade/desejo próprios, e também a nível societário, por suavização da dureza de algumas questões existenciais, bem como a criação de possíveis compreensões/resoluções.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho de um dos seus livros especialmente para os nossos leitores?
Marcos A. Junior: Gostaria de destacar um trecho do capítulo final da minha biografia, intitulado “FIM”, que apesar de parecer um tanto depressivo, traz consigo uma compreensão alcançada e transmitida, acerca da beleza das eternidades diárias que temos nesta vida.
“Pouco importa agora se o ocorrido está me matando, pois essa é a lei da vida (mesmo que acelerada pelos fatos ocorridos), afinal, algo precisa o fazer, não é mesmo? Se assim não for, passamos a acreditar na insana possibilidade física, que, nesse caso, é a eternidade corpórea. Porém, ser eterno, em uma carne decrépita, sofrendo por órgãos que sofrem com o Alzheimer e nem sabem mais como se manter, forçando um apreço pela realidade, sendo essa uma verdadeira tormenta (a cada dia mais), não é do meu feitio.”
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir os seus livros e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Marcos A. Junior: O único livro o qual ainda tenho contrato vigente é a autobiografia, “Eu sou um grave acidente”, lançada no dia 23 de abril de 2023 (dia do meu aniversário). Você pode encontra-la através de uma busca rápida no Google com o nome da obra, seguido pelo meu, encaminhando-o à página da editora “Astrolábio edições”. Um outro caminho, um pouco mais íntimo, digamos assim, e alternativo, é me procurar em minhas redes, através do @oescritormarcosajr, e tentar, por meio da conversa direta, a aquisição de um exemplar autografado. Pelo caminho das pesquisas virtuais também se pode encontrar as demais obras produzidas. Segue abaixo os nomes, pra facilitar.
Herbert Flinch – O manipulador de sonhos
Cem dias na prisão
O livro do amor
Elas por ele
Pólen
Eu sou um grave acidente.
Conexão Literatura: Como você analisa a questão da leitura no Brasil?
Marcos A. Junior: Essa é uma questão extremamente difícil de ser comentada, além de ser pessoalmente revoltante. Eu vejo a literatura não só como uma forma de entretenimento, mas também como um refúgio na luta contra a ignorância. Porém, a “vulgaridade” existencial contemporânea, somada ao imediatismo galopante em que vivemos inseridos, de modo generalista, acabam transtornando a recepção de informações. Esta é uma linha de pensamento básica e de fácil compreensão para todos. Conhecimentos fragmentados nunca irão nos gerar soluções completas. Essa demanda por respostas instantâneas, de curtas duração, é o que acaba com a exatidão/produtividade em qualquer que seja o aspecto existencial. É claro que, com uma condição depreciada, as outras irão cair sequencialmente, como um efeito dominó. Porém, apesar desse cenário extremamente dificultoso, de demanda e entrega, vejo isso também como uma possibilidade. Quanto mais as pessoas “quebrarem” a cara de outras formas, mais elas precisarão ser acalentadas por conhecimento, noções essas que unicamente podem ser alcançadas através do embasamento teórico entregue pelas obras literárias, sejam elas de caráteres técnicos ou existências. Por mais que pareça um pensamento um tanto mercadológico, capitalista, selvagem, essa é apenas uma solução para um mal que fora pessoalmente escolhido num passado nem tão distante assim.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Marcos A. Junior: Sim. Sempre tenho algo novo para apresentar aos meus seguidores/fãs. Para o ano de 2025, tenho um projeto de lançamento de mais um conto denominado “Descobrimento’. Trata-se da história do descobrimento do Brasil, mas contada de uma perspectiva distinta, a dos índios. Também tenho um projeto audiovisual acerca de uma desilusão amorosa pessoalmente sentida, o que, nas mãos de um poeta, se transforma em material para evolução particular e dos que desejam “aprender” com as situações alheias. Além disso, já no primeiro dia estarei postando os novos layoults anuais das postagens e legendas reflexivas, bem como todas as mudanças que habitualmente ocorrem no início de anos. Com essas alterações, abre-se uma nova perspectiva acerca dos temas e subtextos das postagens diárias. Quanto livros, próximo ano não vai ser o de lançamento do meu novo trabalho, apesar de ter outros títulos prontos para publicação. Ainda preciso trabalhar na minha biografia, e também tenho outros problemas técnicos.
Perguntas rápidas:
Um livro: Nenhum em específico, mas indicaria qualquer um de teor evolutivo, reflexivo, de Mário Sérgio Cortella ou Luiz Felipe Pondé, bem como os de Stephen Hawking.
Um ator ou atriz: Robert Downey Jr, Will Smith.
Um filme: Qualquer um do Homem aranha, mas especialmente o terceiro da primeira “fase”, Tobey Maguire, de 2007.
Um hobby: Antigamente, futebol. Em contemporaneidade, assistir séries.
Um dia especial: O dia em que finalmente passei a enxergar minha arte como uma “missão existencial”
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Marcos A. Junior: Tenho pra mim que nesse vasto mundo, ou até mesmo no enorme país no qual vivemos, existam pessoas incríveis que mereçam ter suas histórias contadas, talvez não em livros ou em textos, mas em uma conversa, seja na mesa de bar ou em qualquer lugar mais agradável, e que isso terá a capacidade de engrandecer demasiadamente as vidas dos ouvintes, pois se podemos comemorar as vitórias alheias, também podemos aprender com seus erros. Acredito que assim poderíamos encontrar uma evolução pessoal mais frenética, o que aceleraria também as mudanças do ponto de vista societário, e isso facilitaria a vida de todos em caráteres existenciais distintos. Gostaria também de agradecer à minha amiga Izabela Reis, pelo intermédio, e à edição da “Revista Conexão Literatura” por esse espaço cedido para que o grande número de leitores possa conhecer a minha realidade e os pensamentos decorrentes de tal.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com