Marcelo Rocha é doutor em Teoria da Literatura e  professor universitário na Universidade Federal do Pampa, Unipampa, em São Borja, no interior do Rio Grande do Sul. Já publicou inúmeros livros, acadêmicos e de ficção, em diversos gêneros, com destaque para “Ocupa Porto Alegre”(Prêmio Açorianos, 2023), além do romance “Enquanto Caio” (2016) e do conjunto de narrativas curtas “Lucidez” (2019), ambos finalistas do Prêmio da Associação Gaúcha de Escritores. Em 2020, recebeu o Prêmio Cultural Pindorama promovido pela UFSM, UFPEL e Unipampa, pelo poema “Panelaço”. Em 2022, escreveu o livro de poemas “Toda a chuva” e recebeu o Prêmio Lila Ripoll da Assembleia Legislativa do RS.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Marcelo Rocha:  Iniciei com a escrita de ficção, em 2013, com o livro de contos “Ocupa Porto Alegre”. Eu já tinha uma carreira na docência em Universidades Públicas e Privadas, mas minha escrita era voltada, em especial, para artigos científicos. Tive muita sorte, pois meu livro acabou recebendo prêmio importantes aqui no Rio Grande do Sul, o que me motivou a seguir escrevendo ficção.

Conexão Literatura: Você é autor do livro “Tudo faz tanto tempo”. Poderia comentar?

Marcelo Rocha: “Tudo faz tanto tempo” tem como temas a memória, a busca por identidade e a finitude. Penso que o resultado final do texto é interessante, pois traz a poesia em um sentido que me agrada muito, ou seja, o da palavra em falta, composto por silêncios, lacunas e indícios. “Tudo faz tanto tempo” se completa no leitor.

Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?

Marcelo Rocha: Quando escrevo um livro, meu processo é rigoroso. Estabeleço para mim uma rotina de escrita diária, com inspiração ou não. Aliás, não acredito muito no “escritor possesso”. Creio no trabalho e na elaboração cotidiana. A inspiração ou a epifania costumam vir na carona.

Minhas inspirações na poesia são muitas e distintas. Gosto de três poetas alegretenses – da fronteira do RS – que são minhas referências constantes: Mario Quintana, Rui Neves e André Mitidieri. Também aprecio a poesia da Ana Cristina César, do Leminski e Cacaso. Além dos textos da Sophia de Mello Andresen e da Ana Martins Marques. Posso citar, também, Manoel de Barros e Lila Ripoll, escritora gaúcha que produziu nos anos 40.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?

Marcelo Rocha:  Sim. Vou escolher um texto que tematiza a questão da passagem do tempo que considero uma tônica do livro. O nome do poema é “Memórias Inventadas”

Já faz algum tempo que ando envelhecendo,

comecei colecionando incontáveis manhãs.

E se ainda busco minha imagem antiga ao espelho.

Percebo que esta é a busca mais vã.

Já faz algum tempo que ando envelhecendo,

sobrevivendo a inúmeras ressacas.

Deixei-me exposto ao sol e ao vento

que desenharam em meu rosto cada qual sua marca.

Já faz algum tempo que ando envelhecendo,

e já nem me importam ódios e raivas.

Algumas memórias já sei que invento

e outras histórias deixei bem guardadas.

Já faz algum tempo que ando envelhecendo;

minha vida é um livro que se enche de pó.

Há coisas que digo e só eu entendo

e a cada dia me sinto mais só.

Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?

Marcelo Rocha: O Brasil tem um histórico de leitura rarefeita, infelizmente, e, em especial, com relação à ficção. Há algumas pesquisas interessantes que examinavam esse contexto sob uma perspectiva do comportamento do leitor, hábitos e índices de leitura. Refiro-me ao “Retratos da Leitura no Brasil”. Não há como separar esses pontos da questão da escolaridade e do alfabetismo tardio no país. Soma-se a isso, ainda, o descaso com políticas públicas e projetos de cultura que começam a ser retomados apenas agora, em 2024. Mas é preciso entender, também, que temos outros tipos de perfis de leitores, atualmente. Teóricos da comunicação falam em um leitor imersivo que trabalha com uma lógica da simultaneidade de mensagens e textos e que difere do leitor contemplativo de décadas atrás. São inúmeros pontos que devem ser analisados em rede para entendermos um panorama- de produção, escrita e leitura – que é bastante complexo na contemporaneidade.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Marcelo Rocha: O leitor me encontra nas minhas redes sociais, facebook e instagram (@marcelorochaunipampa), e o meu livro está no site da editora Besourobox. Meu e-mail para contato é: marcelorocha@unipampa.edu.br.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Marcelo Rocha: Tenho um projeto de outro livro de poesias e um livro de contos para o próximo ano. Vou ver se consigo dar conta em meio ao turbilhão de aulas e orientações na universidade.

Perguntas rápidas:

Um livro: “Quase memória”, Carlos Heitor Cony

Um ator ou atriz: Penélope Cruz.

Um filme: “O segredo dos seus olhos”, Juan José Campanella.

Um hobby: Tocar violão

Um dia especial: O nascimento da minha filha

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Marcelo Rocha: Obrigado pelo espaço e parabéns pela iniciativa de divulgar a literatura brasileira contemporânea.

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