Júnia Paixão é poeta, escritora e professora. Graduada em Biologia, Mestra em educação, é professora da rede pública estadual de MG. Nasceu no Amapá, cresceu em Belo Horizonte e reside em Carmo da Mata/MG. Autora de 12 livros de poesia entre artesanais, e-books, infantis e tradicionais. Têm textos publicados em diversas Antologias e Revistas Literárias. Organizadora da Flicar – Festa Literária de Carmo da Mata, do projeto Flicar Conversando (conversa com escritoras e escritores de todo o Brasil) e do podcast ‘Uma pitada de poesia’ (Spotify). Editora na Revista Alpendre Literário. Integrante dos coletivos de mulheres Coletivo Vira Verbo e Coletivo Escreviventes.

Links relacionados à atuação literária

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ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Júnia Paixão: Escrevo há quase trinta anos, comecei escrevendo crônicas para jornais e alguns contos. Em 2008 criei um blog e o alimentava com diversos textos, na maioria crônicas. A poesia chegou mais tarde, por volta de 2011, depois que comecei a ler mais o gênero e hoje ela é a minha principal forma de escrita. Em 2013, fiz um livro numa plataforma de autopublicação, uma reunião de crônicas chamada ‘O último brinde’. Em 2014 lancei meu primeiro livro de poemas ‘Um quarto de cortinas azuis’. De lá pra cá são mais de 10 livros publicados entre e-books, livros de poemas e infantis. Meu mais recente trabalho é o livro ‘Pés descalços sobre brasas’, editado pela Patuá nesse ano.

Conexão Literatura: Você é autora do livro “Pés descalços sobre brasas”. Poderia comentar?

Júnia Paixão: Pés descalços sobre brasas é um livro gestado por mais de uma década. Ele traz poemas que contam vidas de diversas mulheres. Fala de cotidiano, envelhecimento, abuso, racismo, decepções, solidão e muitos outros temas que perpassam a vida de todas as mulheres. A principal motivação para escrevê-lo foi o incômodo de não saber o que se passava no íntimo das mulheres que me antecederam, saber quem eram elas para além de seus papéis sociais. Reuni também nos poemas do livro, histórias que ouvi, vi ou me foram contadas ao longo do tempo.

Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?

Júnia Paixão: Não acredito muito em inspiração, embora algumas vezes ela se apresente na forma de uma palavra, uma situação que me despertam a atenção. Sempre fui uma pessoa observadora e a vida que se desenrola ao meu redor é o que me interessa, mesmo os fatos mais comezinhos do dia a dia.

Meu processo de criação é bem caótico, não tenho um horário de escrita determinado, mas trabalho melhor à noite. Hoje trabalho menos, mas quando meus filhos eram menores e eu trabalhava mais, escrevia quando dava. Lanço mão de várias técnicas, desde as anotações em caderninhos ou bloco de notas do celular, até a escrita livre em um caderno, onde escrevo sem preocupação com sentido ou forma, depois releio e de lá saem muitos textos que são retrabalhados e se tornam poemas. Mas o mais importante é a leitura constante de prosa e poesia contemporânea (e principalmente de autoria de mulheres), isso é o que me alimenta e me oferece referências para escrever.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?

Júnia Paixão: Vou deixar aqui dois poemas do livro para os leitores.

 Cotidiano

Entre um gole e outro

do chá fumegando na caneca

Alda pensa na beleza

das borboletas azuis

antes de partir o bolo

recém-saído do forno

sente saudades

do natal de 63

o cardápio do almoço

já voou da memória

chora agora a ausência

do primeiro e único amor

aquele sem nome

lhe oferecendo uma rosa

ao pé da escada

da casa da vó

**

Flamboyant

Da janela do décimo sétimo andar

Rita namora um flamboyant

todos os dias

mira fixamente a árvore

ornamentando solitária

recorrentes desejos de voo

Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?

Júnia Paixão: A formação de leitores no Brasil precisa ser um esforço contínuo e sem descanso. Há poucos dias saiu o resultado da pesquisa Retrato da leitura no Brasil, do Instituto Pró-livro e perdemos cerca de 7 milhões de leitores desde a última pesquisa em 2020. Há dez anos desenvolvo projetos literários com foco na formação de leitores na minha cidade e região. Sou professora de escola pública e entendo que a escola é o principal lugar que esse trabalho precisa acontecer de forma efetiva, pois é onde muitas crianças e adolescentes têm o primeiro contato com a literatura. Porém isso ainda não acontece como deveria, devido à falta de uma mediação de leitura bem formada e comprometida. A grande maioria dos professores não são leitores e só podem formar novos leitores aqueles que carregam esse hábito consigo, não tem como ser diferente. Portanto acredito que todos aqueles que estão inseridos no meio literário de alguma forma, sejam escritores, editores, divulgadores, e no meio educacional, precisam assumir essa função mediadora, pois, somente com a união de esforços poderemos mudar esse quadro no país. A literatura é antes de tudo, como diz Antonio Cândido, um direito humano, e precisamos garantir esse acesso.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Júnia Paixão: Meu livro está disponível no site da Editora Patuá e nesse momento tenho exemplares comigo também. Podem entrar em contato comigo pelo direct de meu Instagram @junia_paixao para combinarmos o envio.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Júnia Paixão: Por enquanto não estou trabalhando em nenhum outro projeto. Nos últimos anos produzi muito, às vezes mais de um livro por ano. Agora vou fazer o trabalho do Pés descalços sobre brasas com o público antes de focar em um novo projeto de escrita. Mas além de escrever, edito uma revista literária (Revista Alpendre literário) e realizo uma Festa Literária (Festa Literária de Carmo da Mata) em minha cidade, então esses projetos estão sempre em alguma fase de desenvolvimento.

Perguntas rápidas:

Um livro: Bagagem – Adélia Prado

Um ator ou atriz: Laura Cardoso

Um filme: Sociedade dos poetas mortos

Um hobby: artesanato

Um dia especial: O dia de hoje, é só o que temos

Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?

Júnia Paixão: Uma coisa que tenho repetido ultimamente é a necessidade de apoiar, conhecer e ler a literatura contemporânea brasileira que é muito rica e diversa. Ler autoras e autores vivos, que possam interagir com o leitor, trocar experiências, isso é muito potente. Claro que os clássicos são importantes e ocupam um lugar inquestionável na formação de todos nós, mesmo que o cânone apresentado, principalmente nas escolas, não traduza na íntegra a produção literária de outras épocas, muitas mulheres importantes e que fizeram parte do cenário literário em seu tempo, foram alijadas desse cânone e precisam ser resgatadas. Porém é urgente que se faça essa busca por obras, autores e pequenas editoras de hoje, que fazem literatura aqui e agora, que estão fora do eixo Rio-São Paulo e que produzem muito e com qualidade. E por fim, quero agradecer pelo espaço e parabenizar por esse trabalho importante de divulgação.

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