Georgina Martins – Foto: Fábio Meirelles |
escritora Georgina Martins está lançando o livro Há muitas formas de se fazer macarrão – e
outras brutalidades (editora Patuá), no
qual aborda a experiência de mulheres que sofrem, não com a violência física,
mas a psicológica que se interpõe no cotidiano de um casal. É o primeiro
romance adulto da Georgina que também é professora de literatura e acumula
sucessos no universo infanto-juvenil. Detalhe, é que o livro fala diretamente à experiência de muitas
mulheres porque tematiza a violência, pondo em cena a vida doméstica e sua
dinâmica centrada numa sucessão de violências vividas por um casal que pouco a
pouco vai revelando ao leitor um relacionamento doentio. Tudo acionado, não
pela força física de um homem, mas pelas sutilezas de sua condição de
intelectual que, devotado às artes e à gastronomia, por exemplo, impõe à
convivência familiar uma rotina de obediência às suas demandas, às oscilações
de humor e à suposta superioridade moral.
Georgina
Martins é carioca, professora, escritora e colunista da Revista Ciência
Hoje. Doutora em Literatura brasileira e Especialista em Teoria e Crítica da
literatura infantil e juvenil. É autora de livro de sucessos na literatura
infanto-juvenil como O
Menino que brincava de ser, Minha família é colorida, Uma
maré de desejos e Em busca do mar. Esse é o seu primeiro romance para adultos.
infantojuvenil e tratar desse dia-a-dia que muitas mulheres sofrem no
casamento mas não têm coragem de falar. Essa chave virou de repente em você, ou
era coisa que já vinha elaborando?
Georgina – Na verdade
sempre pensei em escrever para todas as idades, então vinha elaborando esse
texto já algum tempo. Acho muito importante tratar do tema do casamento, das
relações abusivas, do machismo estrutural. Já tive retorno de muitas mulheres
que sofreram coisas parecidas com as que a personagem do livro sofreu. A
literatura é capaz de nos colocar no lugar do outro, de nos fazer sentir a dor
do outro, de nos ensinar a ser solidários.
Conexão Literatura – Até que ponto foi fácil ou
difícil abordar isso em um texto. No caso, usando de sua própria experiência,
como você disse, já que sofreu esse tipo de violência psicológica em casa?
Georgina – Foi muito
difícil escrever sobre isso, mas foi fundamental pra mim, uma espécie de
catarse. Acredito que depois que tomamos coragem de compartilhar o que dói, a
dor fica mais leve.
Também acredito que todo texto
literário, em certa medida, é autobiográfico, pois os escritores, mesmo quando
não deixam explícitos, falam de si mesmo, contam suas histórias. É uma forma de
compartilhar nossas dores, nossas alegrias, nossas vidas.
Conexão Literatura – Você acha que esse comportamento
masculino, que é condenado no livro, permanece ainda muito frequente no Brasil
e no mundo? Se sim, qual a razão?
Georgina – Acho que sim
por vários motivos: forma como alguns homens são criados, silenciamento do que
incomoda, resistência e vergonha em procurar terapia ou até mesmo tratamento com antidrepessivos, porque
muitas vezes a questão também é química, fisiológica. Além disso, o machismo
estrutural que envolve a competição com a mulher, a necessidade de dominá-la.
São muitos os motivos.
Conexão Literatura – Você é uma professora e vem
atuando muito bem nessa área. O que a fez tornar-se uma escritora? O que tem de
fácil e de difícil?
Georgina – O que me fez
ser escritora foram as histórias que minha mãe me contava, como contos de fadas
e histórias da vida dela. Meu pai também era um grande contador de “causos” e
cantigas da sua terra, como ele dizia: o Ceará. Ele me contava pedaços das
histórias de Lampião e Maria Bonita, por exemplo. Com eles aprendi o valor da
cultura, e olhe que eles não tiveram estudo. Meu pai fez até o que hoje é a 4ª
série do Ensino Fundamental e minha mãe nunca estudou.
Quanto ao que tem de mais difícil
na escrita, pra mim é achar o tom certo, a palavra exata, a frase exata, porque
não é uma boa história que faz um bom livro, mas sim a forma como ela é
contada. E o mais fácil é curtir o livro pronto.
Conexão Literatura – Você é uma autora que coleciona sucessos
nessa área infantojuvenil. Acha que mesmo com advento de computador, ainda há
espaço para essa experiência de ‘manusear’ o livro?
Georgina – Sim, e acho que não vai acabar nunca. Manusear
livros é muito bom. Para crianças , então, é fundamental o livro físico, pelo
cheiro, pelas cores, pelas imagens e também pelo fato de que ele pode se
transformar em brinquedo. O livro guarda a memória do passado, é a nossa
imaginação concretizada. Nele podemos ler o mundo e com ele podemos atravessar os mais diferentes tempos e
espaços. Com o livro impresso jamais corremos o risco de perder o que está
dentro dele, como acontece com os e-books, com os computadores, celular. O
livro em papel não vai acabar nunca.
Conexão Literatura – Como o leitor interessado deve
proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu
trabalho literário?
Georgina – Esse livro pode
ser encontrado na Amazon e no site da editora Patuá (www.editorapatua.com.br). E
quanto a conhecer meus trabalhos, nas minhas redes
Instagram: martins_georgina e no
Facebook: Georgina Martins
Conexão Literatura:
Existem novos projetos em pauta?
Georgina – Sim,
tenho alguns, como três livros que estão nas editoras, todos infantis. Dois
ainda saem esse ano.
Perguntas rápidas: (1 linhas)
Um livro: “Infância” do Graciliano Ramos
Um (a) autor (a): Graciliano Ramos
Um ator ou atriz: Dira Paes
Um filme: “Bibliothèque Pascal”, é um filme
de drama húngaro de 2009, dirigido e escrito por Szabolcs Hajdu. Trata da
história de uma mãe jovem que teve a filha retirada dela porque ela não tinha
trabalho fixo. Mistura realidade com contos de fadas. É muito bom, pena que não
foi nada divulgado no Brasil.
Um dia especial: Foram tantos. Quando entrei por
concurso em um Ginásio público, nos anos 1970; quando ingressei na faculdade pública, UFRJ; quando
meus filhos nasceram…
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum
comentário?
Georgina – Apenas
agradecer a divulgação, as perguntas e
desejar felicidades pra todos nós nessa nova era do Brasil que nos traz muitas
esperanças.
Livro Há muitas formas de se fazer
macarrão – e outras brutalidades (editora Patuá)
www.editorapatua.com.br – Preço:
R$ 40