Fábio Ochôa nasceu em Pelotas. Ficou preso durante 12 anos no mundo da propaganda, conseguiu alvará de soltura e hoje é autor independente. Seja lá o que isso signifique.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Fábio Ochôa: foi escrevendo para HQs. Com o tempo comecei a ver que o texto chamava muito mais a atenção do que os desenhos. Calhei de ser um roteirista bom e um desenhista medíocre. Ou, se não medíocre, um que ainda precisaria abaixar a cabeça e praticar muito para chegar a algum lugar e sem tempo livre para tanto. Esse tipo de padrão seguiu na minha vida, fiz um teste para Diretor de Arte em uma agência com uma série de anúncios fantasmas que eu havia criado e disseram que gostaram muito do meu texto, se eu não cogitaria virar redator publicitário. Virei. Fiquei 12 anos na profissão. Com isso mudei de cidade, fui para capital, e meio que entendi que que ok, acho que meu destino era escrever mesmo.
Conexão Literatura: Você é autor do livro “A arte de abater anciões”. Poderia comentar?
Fábio Ochôa: sim é um livro de contos. Curtos. Fantásticos. Se você gosta de Além da Imaginação, de Amazing Stories ou literatura Pulp, bem, essa coletânea é para você.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Fábio Ochôa: o processo é basicamente pegar uma determinada ideia e pensar no que pode ser feito a partir daí. Digamos que temos um duelo ao pôr do sol. Como é que isso pode ser diferente? Talvez seja uma história sobre pessoas presas a um determinado destino e a uma determinada rotina, que sempre tenham que duelar ao sol, dia após dia, sem nunca saber se esse dia será o último, talvez uma história sobre um jovem explodindo de ódio que sempre quer duelar ao sol mas nunca consegue ninguém, porque ninguém o leva a sério, talvez sobre dois ex-cowboys na década de 30, envelhecidos e empobrecidos, vendendo ingressos para um duelo ao pôr do sol em uma arena, para que o vencedor pelo menos consiga custear sua aposentadoria… a partir daí começo a desenvolver quem são os personagens, o que eles estão passando para levar eles até aquele momento, sobre o que é a história no fim das contas? Sobre a impossibilidade de fugir da rotina? Sobre querer se provar mas ser sempre considerado alguém pequeno demais para isso? Sobre uma tentativa desesperada de tentar conseguir dignidade ao fim da vida? O processo de criação é esse, é exatamente esse. Esses são os passos, essas são as perguntas a serem feitas ao longo do caminho. Sobre o que que é? Quem? Por quê? O que estou querendo com isso? O que esta história tem de novo? Por que ela existe no fim das contas?
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Fábio Ochôa: claro. O meu predileto: “Minha filha mais velha se casou, meu filho que restou subiu em uma embarcação em direção ao mar de estrelas. Mas não me sinto só: há Ana, seu marido e as crianças na casa. Eu era jovem, hoje sou velho, e há um livro que mudou um mundo repousando em minha gaveta. Às vezes eu me sento na orla do mundo. E fico vendo as ondas, infinitas e negras morrerem na praia. Espaço e mar como uma coisa só, sem saber onde um termina e o outro começa no ermo da noite. E, nos poucos jornais impressos, todos gritam que o mundo é um só. Que estamos cercados por nada, que não há nada lá além de escuridão. Nem afeto. Nem palavras. Nem histórias.
Feitas de mentiras. Que contam verdades profundas sobre nós mesmos.”
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Fábio Ochôa: pois bem, pode ser adquirido diretamente no site da editora, aqui: https://www.cincogatas.com.br/product-page/a-arte-de-abater-anci%C3%B5es
ou na Amazon, caso prefira, https://encurtador.com.br/aBU24
Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?
Fábio Ochôa: Apenas uma. Escreva e encontre prazer nisso. Todo o resto está fora do seu alcance e você não pode controlar, então, encontre prazer que isso já valerá a pena.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Fábio Ochôa: Sim. Um novo livro. Contos ainda, com mais páginas. Seja o que Deus quiser…
Perguntas rápidas:
Um livro: O Segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell.
Um ator ou atriz: Marieta Severo
Um filme: Arizona Nunca Mais
Um hobby: cozinhar comidas tão apimentadas que acabam sendo impróprias para seres humanos (eu como)
Um dia especial: o eterno sábado preguiçoso
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Fábio Ochôa: Bom, obrigado por vir até aqui. Volte sempre.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com