Fale-nos sobre você.
Bom, primeiramente, gostaria de parabenizar a revista Conexão Literatura e agradecer pelo espaço. Resumidamente falando, nasci em 1970 e resido atualmente em São José dos Campos, interior de SP. Sou músico, compositor, fotógrafo e escritor e utilizo o pseudônimo “Thunder Dellú” em todos os meus projetos. Antes de me enveredar pelos rumos da literatura, toquei por dezesseis anos em uma banda de punk rock chamada “Reatores”, contratada pelo selo brasileiro “Ataque Frontal”, responsável por lançar grupos lendários do estilo, como Cólera, Ratos de Porão, Inocentes, dentre outros. Quando a banda acabou e a literatura finalmente me cravou os dentes sem dó, lancei, no ano de 2017 e de maneira independente, uma coletânea de contos originais intitulada “Além do Vale do Terror e da Imaginação”, só com histórias ambientadas em cidades da região do Vale do Paraíba, no estado de São Paulo, onde resido. No final de 2019, lancei o meu primeiro romance, “As pirâmides revolucionárias” (com prefácio de Clemente Tadeu Nascimento, vocalista e guitarrista das bandas Inocentes e Plebe Rude), cuja trama envolve uma aventura em busca da solução de um mistério ufológico e se passa entre a pequena cidade de Monteiro Lobato, no interior de São Paulo, e a mística São Thomé das Letras, no sul de Minas Gerais. Em dezembro de 2021, lancei o meu primeiro romance de horror intitulado “Tumular – A sete palmos do inferno” pela Avec Editora, de Porto Alegre, especializada em literatura fantástica. Também ambientado na cidade de Monteiro Lobato, o livro conta a história de um coveiro ladrão de sepulturas às voltas com uma criatura misteriosa e uma maldição envolvendo a típica religiosidade interiorana. No final de 2023, lancei o romance “Os que sobem à noite” (também pela Avec Editora), uma história de horror ambientada na Pedra do Baú, um famoso monumento natural localizado na cidade de São Bento do Sapucaí, SP.
Fale-nos sobre o seu mais novo livro “Os que sobem à noite”. O que motivou a escrevê-lo?
Morei na cidade de São Bento do Sapucaí (onde o romance é ambientado), de 2019 até o início de junho deste ano de 2024. Da minha casa, tinha uma vista privilegiada da famosa e já citada “Pedra do Baú”, uma maravilha da natureza muito procurada por quem gosta de esportes radicais e de aventura. Numa noite escura e gelada do inverno de 2022, vi escaladores com suas lanternas se aventurando nas encostas íngremes do monumento natural e pensei: “E se eu escrevesse uma história de horror que unisse história e tradições locais, aventura, medo de altura e medo de escuro, tudo ao mesmo tempo?”. Este foi o primeiro “insight” da trama, que me ajudou a forjar o título que de primeira se tornou definitivo: “Os que sobem à noite”. Antes de começar a escrever, pesquisei sobre a história da “Pedra do Baú” e descobri que, em 1947, foi construído um abrigo para escaladores em seu topo e que este foi completamente destruído por vândalos com o decorrer dos anos. Inseri a tal edificação na trama como se ela fosse um tipo de “entidade fantasmagórica” que aparece em noites de névoas densas e a história finalmente tomou corpo na minha cabeça e forma no Word.
Nota: O livro é semifinalista do Prêmio Aberst (Associação Brasileira de Autores de Romance Policial, Suspense e Terror) de Literatura.
Como analisa a questão da leitura no país?
A julgar pela experiência adquirida nos eventos literários de que participo desde 2017, tenho certeza absoluta de que existem milhares de consumidores ávidos por literatura de todos os gêneros no Brasil. Apesar desta certeza, também tenho convicção plena de que as redes sociais, os “streamings” e outros avanços tecnológicos “sedutores” estão roubando das pessoas um tempo precioso que poderia ser dedicado à leitura. Estamos em uma época de mudanças bruscas, intempéries e solavancos digitais, em que sinto que a tecnologia avança muito mais rápido do que a capacidade de assimilação humana. Acho que é questão de tempo para que tudo se ajuste. É o que espero, pelo menos. Não gostaria de ver o Brasil se transformar em uma distopia que colocaria “1984” e “Fahrenheit 451” no chinelo. Mas talvez eu esteja sendo otimista demais, a julgar pelas recentes e absolutamente lamentáveis proibições de livros no país.
Como o leitor pode saber mais sobre você e seu trabalho literário?
A maneira mais óbvia é me procurar nas redes sociais. Tenho muita coisa no Instagram, Facebook e Youtube. É só procurar por “Thunder Dellú” nos mecanismos de busca que o fantasma aparece. Meus livros físicos e digitais podem ser adquiridos em várias lojas on-line, principalmente na Amazon e nos sites da Avec Editora e da Telucazu Edições.
Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder.
Gostaria que me perguntassem sobre as características principais dos meus trabalhos literários. Eu responderia sem pestanejar que uma delas é a postura crítica herdada dos meus anos de “punk rock”. Daquele sincero e muitas vezes ingênuo “Destruam o sistema!” gritado e com guitarras distorcidas ao fundo eu não abro mão, seja na música, na literatura ou em qualquer outro tipo de trabalho que me atrevo a fazer. A outra característica seria a ambientação na região do Vale do Paraíba, onde morei a vida toda e ainda moro. Todas as minhas histórias (inclusive algumas das letras de músicas que escrevi na época em que tocava em banda) são ambientadas neste pedaço histórico do Brasil, cravado entre as belezas da Serra do Mar e a Serra da Mantiqueira. Assim como fez Zé do Caixão no cinema (alfinetando o sistema ao seu modo, coisa que sempre me impressionou e me influenciou muito), gosto também de misturar elementos regionais ao horror, pois, assim como o mestre, sinto que o cheiro do “conhecido”, o “familiar”, a “podridão nacional” aproxima mais o leitor brasileiro do texto e o faz mergulhar sem equipamentos de segurança na história contada. Afinal, pelo menos para mim, as flores de plástico apodrecidas pelo tempo, as fotos desbotadas dos mortos e os vasos cheios de água e larvas de mosquitos dos cemitérios brasileiros assustam mais do que as lápides de pedra dos seus irmãos europeus e norte-americanos. Mas vejam bem. Não sou um radical regionalista hipócrita. Amo Stephen King e Edgar Allan Poe, assim como fico maravilhado com os causos rurais e sobrenaturais que a também valeparaibana escritora Ruth Guimarães eternizou em seu fantástico e seminal livro “Os filhos do medo”, lançado nos idos de 1950. Afinal, meus caros e caras, para mim, entre eles não existe distinção. Medo é medo, terror é terror e assombração é assombração, seja nos cantos enluarados e nos botecos de beira de estrada fedendo a cachaça “51” e a fumo de rolo de Cachoeira Paulista, Monteiro Lobato e São Bento do Sapucaí ou nos pinheiros pesados de neve da cidade de Bangor, nos EUA. O negócio é não fugir do medo, este sentimento tão humano e tão necessário à manutenção da vida. Tem coragem? Então, deixe um pouco as redes sociais de lado e o abrace como se ele fosse um parente querido já falecido.
Contatos e redes sociais do autor:
Facebook: www.facebook.com/thunder.dellu
Instagram: https://www.instagram.com/thunder_dellu/
E-mail: josemar.dellu@hotmail.com
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024).
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com
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