Thina Curtis – Foto divulgação

Fale-nos sobre você.

Premiada em 2017 como melhor fanzine de HQ no Troféu Angelo Agostini ao lado da ilustradora Fabi Menassi com o fanzine Café Ilustrado. Tem prêmios e menções honrosas em diversos trabalhos literários e de HQs.
Organiza há 13 anos o evento de Fanzines e Publicações Independentes Fanzinada.
Patrona de 2 Fanzinotecas públicas: Fanzinoteka Municipal Thina Curtis em Barueri e Acervo Feminista Thina Curtis na Fanzinoteca Macaé no Instituto Federal Fluminense-RJ.
Autora do livro “Brazineiras – O Protagonismo Feminino nos Fanzines”. Conselheira da Setorial de Cultura Geek em São Bernardo do Campo-SP. Inaugurou a Gibiteca Municipal de Diadema-SP.
Prefaciou vários livros de poesia e HQs e também o de Poesia Ilustrada Infantil Expressinho Poético (Bauru).
Inaugurou a Fanzinoteca de Brasília no Centro Cultural Renato Russo. Jurada no Salão Internacional de Humor de Piracicaba.
Embaixadora do Humor no Salão de Humor de doações de Órgãos e Tecidos Instituto Gabriel. Foi homenageada em novembro de 2024 Mestra do Fanzine Nacional com o Trofeuzine Thina Curtis no Ciberpajelanças na Universidade Federal de Goiânia.
Homenageada ao lado do quadrinista e pesquisador Paulo Ramos no evento de quadrinhos e educação EDUCAHQ 2024.
Recentemente participou da coletânea de quadrinhos de terror feita por mulheres Não se Assuste – Isso é Coisa de Mulher, lançada na CCXP.
Foi tema de pesquisa e artigo na Universidade de Porto. (Amid Creative Disorders: Fanzines, Punk, Improvisation, and Critical Pedagogy pela pesquisadora Paula Guerra.)

Você é fanzineira, arte-educadora, poeta, quadrinista. Fale-nos sobre seu trabalho.

Como arte-educadora, meu trabalho gira em torno de inspirar e instruir através da arte-educação utilizando
uma pedagogia libertária que a cultura zineira e do papel me possibilita. Como fanzineira, sou apaixonada por criar e distribuir zines independentes, explorando temas únicos e subversivos, descobrir formas, técnicas, conhecer novos zineiros.
Já na poesia, encontro formas de ousar com as palavras e expressar emoções de maneira lírica e intimista. Precisamos de poesia para aguentar o caos do mundo. Como roteirista de quadrinhos, adoro contar histórias do cotidiano, misturando arte e narrativa para criar mundos e personagens, solto a minha imaginação fértil aquariana(rs), deixo minha criança interior tomar conta, a criança atrevida que não teme arriscar.
Recentemente tive o privilégio de realizar um sonho que foi produzir e dirigir ao lado dos quadrinistas Kash Fyre e Victor Zanellato o documentário Além dos Quadros: Memória dos Quadrinhos de Santo André (pela lei de incentivo Paulo Gustavo), recentemente participei da coletânea de quadrinhos de terror feita por mulheres Não se Assuste – Isso é Coisa de Mulher, lançada na CCXP, organizada pela Eliane Bonadio.
Os quadrinhos têm um significado gigante para mim, aprendi a ler e ter interesse pela leitura e escrita. Os “gibis” foram meu portal para outro universo.
Você é a responsável pelo evento Fanzinada. Fale-nos sobre ele.

A Fanzinada é realmente um encontro artístico e cultural fascinante e multifacetado.
Ela foi criada e pensada para ser um ponto de encontro, celebração e memória da cultura dos fanzines e publicações independentes. Eu criei a Fanzinada para dar visibilidade à linguagem artística dos fanzines que ainda hoje é vista de forma marginalizada. Este evento nasceu para ser um espaço de trocas, comunicação e informação, onde fanzineiros, artistas, editores e o público pudessem se encontrar e compartilhar suas criações e experiências. A iniciativa teve como objetivo comemorar pela primeira vez no Brasil o Dia Internacional do Fanzine, estávamos num momento de transição também com a chegadda da tecnologia e redes sociais. Acabou que não só tivemos um grande público do ABC, São Paulo, Grande SP, interior, mas também pessoas de outros estados. A primeira edição aconteceu no Gambalaia (Santo André) e estamos indo para 14 anos de resistência em abril de forma itinerante.

O sucesso foi tão grande que, no ano seguinte, nos juntamos eu e Gazy Andraus, um pesquisador acadêmico de fanzines, e pensamos quem e porque seria importante batizar essa data. Celebramos pela primeira vez nacionalmente o Dia Nacional do Fanzine (Edson Rontani) no dia 12 de outubro, consolidando a Fanzinada como um evento de referência no cenário cultural brasileiro, o que inspirou fanzineiros a se movimentar também. Além de exposições e vendas de zines, o evento inclui oficinas práticas, palestras, exposições, homenagens, debates e apresentações culturais, proporcionando uma rica programação que aborda desde técnicas de criação e impressão até discussões sobre a importância dos fanzines na sociedade contemporânea.
Inclusive com atividades para crianças e expositores mirins.
A Fanzinada também serve como uma plataforma para novas vozes e talentos da xerox art, estimulando a criatividade e a produção artística independente. Assim como espaço cativo e garantido para os veteranos das artes gráficas. Com o passar dos anos, o evento cresceu e se diversificou, atraindo participantes de diferentes partes do Brasil e da América Latina, e promovendo um intercâmbio cultural vibrante e enriquecedor. Foi indicada a prêmios, citada em livros e pesquisas na Universidade.
A Fanzinada é, portanto, mais do que um evento: é uma celebração da liberdade de expressão, da criatividade e da resistência cultural, que continua a inspirar e conectar pessoas apaixonadas pelo mundo dos fanzines e pelo papel e impresso. Minha forma de retribuir tudo que essa arte me trouxe e possibilitou.
Com a Fanzinada já fiz ações em escolas, universidades, ONGs, espaços culturais, estive em grandes eventos, espaços culturais significativos do ABC, São Paulo, interior e Brasil.
Além das atividades já mencionadas, a Fanzinada também valoriza o fomento através dos participantes. As oficinas, por exemplo, abrangem desde técnicas de impressão e encadernação, palestras e empreendedorismo criativo. Dessa forma, o evento não só expõe o público à arte dos fanzines, mas também capacita os participantes a criarem suas próprias publicações.
Outro aspecto importante é a inclusão de debates e rodas de conversa, onde temas como a diversidade, a representatividade e a liberdade de expressão são discutidos. Esses zines muitas vezes abordam temas alternativos, contraculturais e subversivos, oferecendo uma plataforma e mídia para vozes que não encontram espaço nos meios de comunicação tradicionais.
Isso cria um ambiente rico para a troca de ideias e experiências, fortalecendo a comunidade de fanzineiros, editores, pesquisadores e artistas independentes. Muitos educadores utilizam os fanzines na sala de aula e além de irem à Fanzinada levam seus alunos ou sou convidada para fazer intervenções e formações com alunos, educadores e equipe pedagógica.

Você é a nova diretora do Musin – Museu da Música Independente. Fale-nos sobre ele.

Quem não me conhece não tem noção da importância da música e da cultura underground na minha vida e na minha formação pessoal.
Eu editei e contribuí com muitos fanzines dedicados principalmente ao punk, pós-punk e ebm, além da literatura e HQs, inclusive em vários países.
Fiz muita resenha de bandas, shows, produzi, cobri e organizei eventos com bandas, aliás até hoje sempre que dá nos eventos de fanzines sempre tem banda(rs). Ja fui redatora e colunista de uma revista independente de rock em Diadema, aqui no ABC, onde também tive um programa no final dos anos 90 início dos anos 2000.
Lancei demos e, pasmem, até ganhei músicas também rs.
Como nova diretora do Musin, Museu da Música Independente, é uma honra falar sobre essa instituição incrível! O Musin é dedicado ao rock independente e underground, celebrando principalmente a cultura punk e outsider que tanto amo!
Existe há 21 anos, foi criado em Curitiba pelo pesquisador Manoel Neto em parceria com o jornalista Rodrigo Duarte. Nosso foco é preservar, documentar e promover a história, memória e a arte das cenas musicais e pessoas que fizeram esse movimento acontecer e que, muitas vezes, ficam à margem da grande indústria e meios de comunicação.
O museu abriga virtualmente uma coleção vasta de acervos diversificados de demos, fitas, zines, revistas, jornais pôsteres, fotografias, rádios, estúdios, DJs, festivais e outros artefatos que documentam a evolução da música independente e suas subculturas no Brasil. Temos um rico material que explora a história do punk, hardcore, metal, indie, pós-punk, ebm e outras ramificações musicais que emergiram do rock underground. Estamos aproveitando a tecnologia para nos conectarmos com pessoas que queiram saber mais sobre o rock underground ou elas mesmas trazerem suas histórias e memórias para serem compartilhadas.
Também pensar em possibilidades de criação de Fonotecas, Casas da Música, educação musical, direitos autorais, politicas públicas etc. Aceitamos parcerias, inclusive nos convide para palestras, bate-papo, oficinas, eventos, ficaremos muito felizes!

Estamos orientando e prestando assessoria para pessoas com seus acervos privados e públicos. Em breve teremos muitas novidades no site do Musin e nas redes sociais.
Uma das nossas metas atualmente é ampliar o alcance do Musin, democratizando o acesso para outras cidades e comunidades, e utilizando plataformas digitais para compartilhar nosso acervo e conhecimento com um público ainda maior. A música independente e underground tem uma riqueza cultural imensa que merece ser explorada e celebrada e não é somente música, tem toda uma cadeia produtiva, e estou empolgada para contribuir com essa missão. É um grande desafio.

Você é mestra do fanzine nacional, premiação concedida pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Fale-nos sobre isso.

Confesso que ainda não caiu a ficha!
Receber o título de Mestra do Fanzine Nacional pela Universidade Federal de Goiás (UFG), organizado pelo grupo acadêmico de pesquisas Cria_Ciber que tem como mentor o grande professor, fanzineiro e mestre Edgar Franco, é uma honra imensa e um reconhecimento indescritível para mim. Sou a primeira mulher no Brasil a receber esse título, espero honrar isso e abrir caminho para que outras mulheres também ocupem esse lugar.
É muito significativo para minha paixão, devoção, trabalho e atuação com fanzines. Esta premiação é uma celebração da dedicação, criatividade e paixão investidas na criação e divulgação dessas publicações independentes por mais de três décadas e meia.
Essa linguagem tão simples mas tão visceral que me transformou e me trouxe tantas oportunidades, essa arte subversiva que me deu voz, o que era hobby virou missão. Sou uma mulher de origens simples, nascida e criada em Santo André e no Sapopemba, zona leste de SP, sem perspectivas nenhuma. De uma geração sem internet, sem acesso à educação, cultura e direitos básicos, pós-ditadura. Quis o acaso que o fanzine chegasse até mim.
Em 2023 lancei o livro Brazineiras – O Protagonismo Feminino nos Fanzines (Editora Timo), no maior evento de Cultura Pop do mundo como artista convidada. O livro traz relatos de 36 mulheres que como eu tiveram suas vidas transformadas por essa tecnologia impressa atemporal do faça você mesmo.
Tive oportunidade de levar e chegar com fanzines a lugares que nunca imaginei. Muitos jovens, idosos, crianças, zona rural, cárcere se sentiram encorajados e se sentiram saindo da invisibilidade, motivados a escrever suas próprias histórias e versos, músicas, fazer fanzines, HQs, colagens, fotografias em oficinas, aulas. Isso me estimulou a não parar e essa motivação que me dividiu em criar fanzines e meus filhos. Inclusive meus filhos foram alfabetizados fazendo fanzines.
Hoje sou uma vovozine rs. Então tudo isso me faz sentir especial, e dinheiro nenhum paga esse reconhecimento. E aí um dia qualquer você recebe um título desse e acha que está sonhando. Eu só tenho que agradecer e que, apesar de todos obstáculos, dificuldades, estou viva, lúcida, podendo gozar desse privilégio em vida.

Por que fazer fanzines?

Fazer fanzines é uma experiência incrivelmente enriquecedora e libertadora. Existem várias razões pelas quais eu me dedico a essa forma de expressão:
Primeiro que sempre digo que o fanzine é o avô da rede social.
Ele me traz o senso de comunidade, os fanzines são uma forma poderosa de conexão. Eles criam uma rede de indivíduos com interesses semelhantes, e a troca de zines pode levar a colaborações e amizades e parcerias artísticas duradouras. É uma maneira de se sentir parte de uma comunidade vibrante e acolhedora. E ainda aquele sentimento nostálgico de ainda receber cartas, fanzines, livros e art postal pelos correios é impagável! Você cria vínculos incríveis, qualquer pessoa pode fazer, é acessível, dinâmico e isso é estimulante.
Liberdade Criativa, os fanzines oferecem uma liberdade que raramente encontramos em outras formas de publicação. Posso explorar qualquer tema que me interesse, desde questões políticas, direitos humanos, gênero até histórias pessoais, sem as restrições impostas por editores comerciais.
Por exemplo, usando qualquer formato e material que tiver em casa.
Autonomia, como fanzineira assídua, tenho controle total sobre todo o processo, desde a concepção até a distribuição. Isso me permite experimentar diferentes estilos e técnicas, e levar a minha visão diretamente ao público.
Resistência Cultural, produzir fanzines é uma forma de resistência à cultura de massa e ao consumismo desenfreado. É um gesto de valorização da produção independente e da diversidade de vozes, promovendo a democratização da informação e consciência, pensar além da caneta e do papel.

Expressão Pessoal, fazer fanzines me permite explorar e expressar minhas ideias, sentimentos e experiências de uma maneira autêntica e pessoal. É uma forma de autorreflexão e autoconhecimento, que me ajuda a crescer como pessoa e manter a sanidade mental.
Como indivídua, os fanzines me trazem uma sensação de realização, pertencimento e identidade. Eles me permitem compartilhar minhas paixões e perspectivas com o mundo, ao mesmo tempo que me conecto com outras pessoas que valorizam a expressão criativa e a independência artística. Em suma, os fanzines são uma parte fundamental da minha jornada pessoal e artística.
É isso! Obrigada, revista Conexão Literatura, pelo espaço e parabéns pela iniciativa em apoiar os independentes! Zinem-se!!!

CIDA SIMKA

É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA

É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do
encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024).

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