Pablo Zorzi – Foto divulgação

Fale-nos sobre você.

Sou Pablo Zorzi, escritor, sobrevivente do interior de Santa Catarina e, dependendo do dia, um exímio procrastinador. Escrevo livros de suspense, terror e policial porque, aparentemente, minha cabeça acha divertido inventar assassinatos e mistérios em vez de relaxar e viver em paz. Meu romance de estreia, Wow! O Primeiro Contato, vendeu muito na Bienal do Rio (nem eu entendi como isso aconteceu). Depois escrevi um conto ao lado de Raphael Montes e Ilana Casoy, o que significa que já estive em ótimas companhias. O Homem de Palha me rendeu um prêmio e agora está indo para as telas – isso se ninguém desistir no meio do caminho. E Colheita de Ossos teve uma edição especial pela TAG Inéditos, porque aparentemente tem gente que gosta de ler sobre gente morrendo durante o café da manhã. 

Fale-nos sobre seus livros. O que motiva a escrevê-los?

Acredito que todo escritor tem três motivos para escrever: o primeiro é porque precisa pagar boletos (ó, coitado!); o segundo é porque tem algo na cabeça que não vai embora até virar história; o terceiro é porque, possivelmente, tem um parafuso a menos. No meu caso, são pitadas dos três. Eu gosto de criar personagens duvidosos, descrever crimes hediondos e de brincar com a mente dos leitores. Se alguém fecha um livro meu e pensa “o que foi que eu acabei de ler?”, então fiz meu trabalho direito.

Em março você irá lançar o romance “Irmãos de palha”, que é a continuação do livro “O homem de palha”, seu primeiro thriller policial. Qual é a sua expectativa?

A expectativa é alta, porque agora vem aquela parte divertida onde eu espero ansiosamente para ver se os leitores vão me amar ou me jogar na fogueira. Como O Homem de Palha teve uma recepção muito boa, a continuação chega com aquela pressãozinha básica: “e aí, será que ele estragou tudo ou fez algo ainda melhor?”. A verdade é que escrevi esse livro do jeito que eu gostaria de lê-lo: tensão, reviravoltas e um desfecho que, se tudo der certo, vai fazer gente jogar o livro na parede. Também tem a expectativa de ver como os personagens evoluíram, porque agora a história mergulha ainda mais fundo no psicológico deles. Se no primeiro livro eles já estavam ferrados, agora a coisa só piora – e eu me divirto muito vendo isso acontecer. O desafio foi manter a identidade da trama original, mas trazendo surpresas o suficiente para que ninguém sinta que está lendo a mesma coisa de novo. E, óbvio, tem a parte prática: espero que o livro venda bem, que leitores indiquem para todo mundo, que vire material obrigatório nas rodas de conversa e que, quem sabe, Irmãos de Palha também acabe indo para o audiovisual.

Como analisa a literatura policial escrita por brasileiros? 

A gente escreve muito bem sobre crime porque convive com isso diariamente. O Brasil é um prato cheio para histórias policiais, tem mais reviravoltas que série gringa e vilões mais assustadores que muitos livros de suspense. Só falta o público perceber que temos escritores tão bons quanto os estrangeiros – ou até melhores, porque a gente não precisa inventar nada, é só olhar pela janela.

Como analisa a questão da leitura no país?

A leitura no Brasil é tipo dieta: todo mundo diz que quer começar, mas pouca gente começa. A real é que a gente vive num país onde as pessoas pagam cinquenta reais num hambúrguer, mas acham um livro caro, onde livro é tratado como item de luxo em vez de necessidade básica. E, sinceramente? Enquanto a educação continuar sendo tratada como um problema secundário, o hábito da leitura vai seguir patinando. Outro problema é que, mesmo entre quem gosta de ler, o incentivo para consumir literatura nacional ainda é baixo. O brasileiro adora um thriller estrangeiro, um autor de best-seller gringo, mas quando é um autor daqui, rola aquele pé atrás. Parece que só vale a pena se tiver um selo de aprovação internacional. O que é meio irônico, porque os livros nacionais, principalmente os de suspense e policial, têm um realismo que muitos autores lá de fora não conseguiriam imitar nem com um workshop intensivo sobre o Brasil. Mesmo assim, tem gente lutando para mudar isso. Clubes de leitura, editoras independentes, professores guerreiros, feiras literárias pipocando por todo canto… Tem um público que quer ler, quer descobrir novas histórias e novos autores, mas precisa que a leitura deixe de ser tratada como privilégio e passe a ser um hábito natural. E se tem algo que eu torço para ver nos próximos anos, é exatamente isso.

Uma pergunta que não fizemos e que gostaria de responder.

Qual o segredo para escrever um bom livro policial? Não tem segredo. Só precisa juntar sarcasmo, tragédia e uma quantidade razoável de personagens que vão morrer. O resto é preencher lacuna e deixar o leitor se perguntando se tá rindo porque achou engraçado ou porque perdeu a fé na humanidade. E é assim que se escreve.

CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024). Colunista da revista Conexão Literatura.

SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do
encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024).

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