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Fale-nos sobre você.
Fui por muitos anos baterista de bandas de rock, metal e desgraceiras que tais. Há quinze anos opero som e caço fantasmas no Theatro Municipal da minha cidade, Niterói, onde finquei raízes desde o nascimento, com curtos períodos morando em São Gonçalo e Vila Isabel, no Rio de Janeiro. A partir deste ano, comecei a atuar também como revisor e ghost writer. Tenho amor platônico por gambás, cuido de gatos e namoro a revisora Mariana Elis. Dica de escrita: namorem revisores (as).
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Fale-nos sobre seu livro. O que motivou a escrevê-lo?
Meu romance de horror Se perder numa enchente trata de uma escritora em luto após a morte do irmão mais novo. Ela se muda para um prédio decadente no Centro de Niterói e quer se isolar para trabalhar em paz. Logo no primeiro dia, ela se vê compartilhando a fragilidade da perda com outros moradores, em meio a fenômenos e aparições estranhas que ameaçam a vida de todos no prédio. As formas que o luto assume são grotescas e o horror vai lentamente se infiltrando em cada brecha do prédio, ele mesmo um personagem enlutado. O ofício da escrita assume um papel preponderante na história e na relação entre as duas personagens principais.
A principal motivação pra eu escrever qualquer texto autoral é: diversão. É sempre tão simples quanto isso. Adoro escrever, pensar em escrever ideias novas, ter escrito histórias e vê-las plasmadas no mundo, sendo lidas. Enquanto planejo e escrevo, motivações acessórias aparecem. No caso do Se perder numa enchente eu percebi que surgiam temas caros a mim: especulação imobiliária, gentrificação, luto (perdi meu pai enquanto escrevia) e o tema da própria escrita em si. Tudo no romance gira em torno dessas questões.
Me diverti horrores escrevendo e torço pros leitores se divertirem lendo. Mas não só isso. A ótica do horror amplifica os temas, faz nossos medos e ansiedades em relação a eles aflorarem de maneiras inusitadas. Produzir e consumir literatura pode ser entretenimento, mas é, acima de tudo, uma ferramenta de autodescoberta, de desbravamento do mundo e do outro, de reflexão sobre a sociedade. O confronto em literatura é inevitável.
Fale-nos sobre sua participação na antologia “Vias insólitas”. Como se deu o convite etc.?
A Editora Pesadilla, a mais assombrada de Niterói, lançou um edital no ano passado, convocando autores a enviarem contos que pensassem o meio urbano pelas lentes do gênero fantástico. Submeti meu conto “Todos os olhos são de Mapinguari” pra apreciação e ele foi aceito. O conto trata de uma cidade que se transforma diante dos olhos da protagonista após a morte do avô. A cidade se animaliza: o concreto vira carne, couro, pelos brotam das paredes. Vias insólitas: narrativas contemporâneas está em campanha de financiamento coletivo pelo Catarse até o dia 24/2/2025, no link: https://www.catarse.me/viasinsolitas
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Como analisa a literatura de terror/horror escrita por brasileiros?
Apesar de ainda sofrer preconceitos, ela vem ganhando espaço. No âmbito acadêmico, temos pesquisadoras e pesquisadores como Júlio França, Oscar Nestarez (também um escritor), Julia Lobão, Ana Paula Araújo, que coorganiza com Ismael Chaves o importante resgate Góticas Brasileiras, pela editora O Grifo, entre tantos outros.
Escritores e escritoras como Irka Barrios (Lauren, Vespeiro), Verena Cavalcante (Como nascem os fantasmas, Inventário de predadores domésticos), Úrsula Antunes (Desilusão de ótica), Larissa Prado (Ecos da melancolia, O receptáculo), Daniel Gruber (A noite do cordeiro, A floresta), Ana Paula Maia (Enterre seus mortos, Búfalos selvagens) vêm se destacando e mostram o vigor do gênero. Amadurecendo em solo brasileiro, onde tantos monstros habitam, o horror veio pra ficar. Ascensão do fascismo, fake news, feminicídio, homofobia, transfobia, violência policial contra a periferia, a fome insaciável do agro por sangue e terras indígenas, cidades em crises climáticas cada vez mais agudas e muitos outros. É papel também de escritores, sobretudo do horror, lançar luz sobre esses assuntos. Está cada vez mais difícil varrer nossos monstros pra baixo do tapete.
O que está escrevendo atualmente?
Estou trabalhando num romance de horror que explora o consumo de carne, ambientado numa cidade pequena no Rio de Janeiro, onde um ritual acontece num frigorífico e gera reverberações sinistras pra cidade inteira. Animais enlouquecidos, canibalismo involuntário e muito, muito desgraçamento. Do jeitinho que a gente gosta. 🙂
Link para o livro:
https://www.editoraprimata.com/se-perder-numa-enchente-de-leo-peccatu/p
CIDA SIMKA
É licenciada em Letras pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires (FIRP). Autora, dentre outros, dos livros O enigma da velha casa (Editora Uirapuru, 2016), Prática de escrita: atividades para pensar e escrever (Wak Editora, 2019), O enigma da biblioteca (Editora Verlidelas, 2020), Horror na biblioteca (Editora Verlidelas, 2021), O quarto número 2 (Editora Uirapuru, 2021), Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024). Colunista da revista Conexão Literatura.
SÉRGIO SIMKA
É professor universitário desde 1999. Autor de mais de seis dezenas de livros publicados nas áreas de gramática, literatura, produção textual, literatura infantil e infantojuvenil. Idealizou, com Cida Simka, a série Mistério, publicada pela editora Uirapuru. Colunista da revista Conexão Literatura. Seu mais recente trabalho acadêmico se intitula Pedagogia do
encantamento: por um ensino eficaz de escrita (Editora Mercado de Letras, 2020) e os mais novos livros de sua autoria se denominam Exercícios de bondade (Editora Ciência Moderna, 2023), Horrores da escuridão (Opera Editorial, 2023), Dayana Luz e a aula de redação (Saíra Editorial, 2023) e Mariano (Opera Editorial, 2024).
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Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Criador e Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Já foi Educador Social e também trabalhou por 18 anos no setor de Inclusão Digital na Cidade de S. Paulo, numa rede de solidariedade que desenvolve ações de promoção da vida em várias partes do país e do mundo, um trabalho desenvolvido para pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social. Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com