ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Elcio Matos: Acho que a paixão por literatura leva qualquer pessoa ao desejo de escrever o seu próprio livro. Aconteceu assim comigo principalmente quando, certa vez, um professor de português do ginásio, em meados dos anos setenta, chamou-me de lado para elogiar meu caderno de redações dizendo que eu escrevia bem. Mas, ao mesmo tempo, chamou-me de preguiçoso, pois eu não tinha feito nem metade dos textos que ele tinha pedido. Certamente, foi aquele professor que plantou em mim o desejo de escrever um livro, mas profético de certa forma, afinal, muita vezes movido pela indolência do tempo, só fui conseguir publicar um livro após os sessenta anos.
Conexão Literatura: Você é autor do livro “Caminhando à beira do abismo”. Poderia comentar?
Elcio Matos: Este é um livro que eu vinha escrevendo há mais de trinta anos, e que por várias vezes foi interrompido e retomado desde então. Deixei-o de vez por volta de 2010, quando me dei conta que o pano de fundo dele, vivido no tempo da ditadura militar, estava ultrapassado. Em 2020, quando me aposentei em definitivo do trabalho e passei a ter tempo livre para seguir meu sonho de escritor, resolvei terminar um dos vários livros que tinha começado. Foi ai que resgatei “Caminhando à beira do abismo” ao perceber que, subitamente, a temática do regime militar e todas suas associações estavam de volta ao cenário nacional sob o governo Bolsonaro.
O livro conta a história de Douglas Cabelle, um guerrilheiro que em 1971, no auge da repressão do regime militar, vê seu mundo desmoronar após o fracasso da tão sonhada revolução. Perseguido ferozmente pelo regime, ele passa seus dias escondido, acuado, apenas esperando a queda que parece inevitável. Mas tudo muda quando ele reencontra Mônica, uma antiga namorada da adolescência, que se encontra tão perdida quanto ele após uma tragédia pessoal que destruiu sua vida. E após dez anos sem se verem e com visões de mundo opostas, mas tendo em comum angústias e fracassos, resolvem tentar fugir do Brasil e recomeçar uma nova vida juntos. No entanto, um coronel do exército, obcecado há anos na caça ao comandante Flores, codinome de Douglas na luta armada, fará de tudo para capturá-lo, incluindo a tortura nos chamados “porões da ditadura”.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Elcio Matos: Baseio-me muito na literatura intimista, gosto de exprimir os sentimentos dos personagens. Os escritores que me inspiram a escrever assim são Gabriel García Márquez, Níkos Kazantzákis, Franz Kafka, Ernest Hemingway, Jorge Amado e mais recentemente Itamar Vieira Junior.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Elcio Matos:
“Sentiu então, na cama ao lado de Mônica, um relaxamento que não sentia havia muito tempo. Sua mente estava longe e divagava pela escuridade. Aquele manto negro o satisfazia, o preenchia, não o fazia parecer tão pequeno na minúscula areia cósmica do universo; ao contrário, o fazia sentir-se grande, invencível, e questionador dos pequenos e grandes mistérios que sempre atormentavam o homem, como a origem do universo, a busca de si mesmo e a renúncia materialista do mundo – fragmentos de uma ligeira atração que tivera pelo Budismo logo após ter deixado Deus de lado –, coisas que indagava até seu mundo mudar radicalmente ao descobrir nas literaturas marxistas de que a vida humana não tinha razão alguma de ser. Ela simplesmente existia como todos os outros conjuntos de partículas inerentes à natureza, com a diferença que o homem se sobressaia dominante sobre os outros gêneros devido à sua massa cinzenta mais robusta, consolidada na evolução da espécie. A crença Marxista o fizera calar-se perante seus antigos questionamentos espirituais, tornando-o obediente apenas à ideologia que abraçara; fazendo-o crer que abstrações anímicas eram simplistas demais para elucidar tamanhos mistérios da vida e do universo. Naquela noite, porém, sua mente estava distante da filosofia marxista. Assim, sentia-se emancipado e liberto para voltar a imaginar o mundo como no efêmero passado budista, pré-marxista.”
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Elcio Matos: O livro por enquanto está sendo vendido apenas pela livraria da editora Giostri, em São Paulo, ou na loja online da mesma:
https://lojavirtual.giostrieditora.com.br/caminhando-a-beira-do-abismo
Também pode ser vendido diretamente comigo pelo meu Instagram por um preço menor.
https://www.instagram.com/elcio.matos.54/
Conexão Literatura: O que tem lido ultimamente?
Elcio Matos: Desde que parei de trabalhar tenho lido muita coisa, romances de ficção, dezenas de biografias, até mesmo livros de astrofísica e antropologia, pois sou fascinado por ciência.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Elcio Matos: Ainda tenho outros quatro livros iniciados prontos para serem retomados. Também gostaria de poder escrever uma segunda parte de “Caminhando à beira do abismo”, trazendo-o para os anos atuais.
Perguntas rápidas:
Um livro: Zorba, o grego – de Nikos Kazantzákis
Um ator ou atriz: Paul Newman
Um filme: Sete homens e um destino (1961)
Um hobby: Ler à beira da praia.
Um dia especial: Os dias que meus dois filhos nasceram.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Elcio Matos: Apenas um desejo. Que o Brasil se arme de livros ao invés de fuzis.