Beatriz Valle é psicanalista e psicóloga. Formada em Psicologia Clínica pela PUC/GO e em Psicanálise pela Fazenda Freudiana de Goiânia, tem especialização em Problemas do Desenvolvimento na Infância e Adolescência Abordagem Interdisciplinar pela Faculdade de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (FADERGS) e Centro Lydia Coriat disciplinar, do qual este livro é fruto dos trabalhos apresentados nesta especialização. Trabalhou no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, na Chefia da Seção de Psicologia e do Ambulatório Infantil. Reside em Goiânia, onde exerce a clínica psicanalítica com crianças, adolescentes e adultos desde 1985. Tem como áreas de interesse Artes Plásticas, Feng Shui, Aromaterapia e Cabala, além de participar das leituras e pareceres de livros infantis do Clube do Livro da Livraria Pomar, em Goiânia.

ENTREVISTA:

Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?

Beatriz Valle: Nasci em uma família descendente de judeus em que os filhos são tratados com muito carinho e a grande herança é a paixão pelo saber, pelos livros e histórias contadas. Ganhávamos livros antes mesmo de conhecer as letras e tinha sempre um tio ou meu pai que lia pra gente. Na casa do meu avô paterno tinha uma biblioteca imensa e tínhamos acesso a qualquer título, independentemente do tema, idade, autor. Lembro que em nossos aniversários, além de ter sempre um som na saudosa vitrola, existia um grande tacho de cobre com gibis e livros que líamos antes dos parabéns e depois dançávamos ao som dos Mutantes. Nas noites de luar, meu tio que era jornalista, compositor e escritor reunia a criançada e nos apontava no céu cada constelação e nomeávamos as estrelas. Muitas vezes nos fazia escrever histórias, por exemplo a de que não tinha a letra “a” no texto. Assim começou muito cedo minha paixão pela escrita. Mais tarde em uma instituição psicanalítica veio meu desejo de relacionar a clínica, a teoria psicanalítica e a literatura, que é o tema do presente livro.

Conexão Literatura: Você é autora do livro “Teia Materna”. Poderia comentar?

Beatriz Valle: O presente trabalho é um recorte da minha clínica.  Não é uma generalização. São comportamentos maternos reais que , ao longo doas anos, me chamaram atenção.  Durante o tempo que trabalhei no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, no Ambulatório Infantil, era recorrente nós psicólogas sermos solicitadas para atender crianças com suspeita de terem sofrido abuso sexual. Esclarecendo: todos os atendimentos médicos com suspeita de abuso sexual ou violência contra a criança eram encaminhadas ao posto policial do hospital e este solicitava o atendimento de uma psicóloga. Nestes atendimentos, na maioria das vezes tínhamos duas situações: ou a mãe negava veementemente a história da criança ou a mãe se pronunciava no lugar da criança, que ficava calada, e inventava uma história pelo fato ocorrido. O mesmo acontecia com atos violentos: crianças queimadas com cigarro, braços e pernas quebrados, escoriações pelo corpo. As mães nunca assumiam que o autor da violência era o pai, parceiro ou alguém da família. Sempre tinham um relato que nunca condizia com a verdade.

O enfoque sobre a crueldade feminina não sugere que a crueldade seja um atributo inerente às mulheres. Trata-se de um feminino mais arcaico, de caráter mais fusional, em que, por vezes, a crueldade se manifesta de forma inconsciente.

A mesma figura materna que dá a vida também pode ser aquela que a retira ou a nega, seja de maneira concreta, como abordado no documentário “É menina”, dirigido por Evan Grae Davis, ou de forma simbólica.

O livro também levanta outra questão: existe uma incompatibilidade entre a mulher e a maternidade?

Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?

Beatriz Valle: A pratica clínica, a literatura, a observação, a cultura são minha grande inspiração como questionamentos. Por exemplo: visitando as populações ribeirinhas do rio Amazonas em Manaus observei uma sala de aula em que as crianças indígenas estavam silenciosas prestando atenção na professora e que durante o recreio brincavam sem brigas, discussões ou  gritos. Eram muito livres e em nenhum momento havia interferência de um adulto no brincar.

Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?   

Beatriz Valle: “ A complexidade da relação materna nos deixa sempre muito apreensivas. Como conduzir bem e satisfatoriamente? Não somos mães com o nosso ideal materno, somos mães com toda carga com que a vida nos marcou, temos nossos sintomas que nos impedem de agir dentro de um padrão asséptico ou preestabelecido. Amamos nossos filhos, mas somos capazes de atos severos, às vezes cruéis, em nome do “bem” da criança”.

Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?

Beatriz Valle:

COMPRA DO LIVRO

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Magazine Luisa

Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores em início de carreira?

Beatriz Valle: Sempre estamos iniciando, é preciso perseverar. É um exercício contínuo de escrever, reescrever, sempre. Lapidar o texto.

Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?

Beatriz Valle: Meu próximo livro é sobre as relações (Im)possíveis entre a psicanálise e a arquitetura, passando pela literatura e filosofia. É uma abordagem das relações e rompimento do homem com a natureza. A casa como fetiche, um espaço singular que vai muito além das necessidades, mas baseada no desejo.

Perguntas rápidas:

UM LIVRO:  (leitura recente) O 11º Mandamento, de Abraham Verghese

UM  ATOR: Fernanda Montenegro

UM FILME : O céu que nos protege – Bertolucci

UM HOBBY: pintar, aromaterapia, Feng Shui, Cosmologia chinesa

UM DIA ESPECIAL: Embarcando para destinos sonhados

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