
Aline Lourenço é formada em Letras, pôs graduada em Revisão Textual e Relações Étnicas Raciais em Educação Antirracista, lecionar Língua Portuguesa no Município de Itaguaí. Membro do Núcleo de Artes e Letras de Portugal e ocupante da cadeira da Carolina Maria de Jesus na Academia de Ciências Artes e Letras de Saquarema.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Aline Lourenço: A literatura sempre esteve muito presente na minha vida. Sempre ganhei livros de vizinhos. Meus pais sempre ouviram MPB, samba e outros gêneros e me contavam as histórias de quem estávamos ouvindo cantar. O samba foi o principal, porque assistíamos o desfile das escolas de samba escutando meus pais falando de cada escola, ligar de fundação, intérprete, escolha do nome, escolha das cores. Logo, já era um aulão de literatura. Depois, veio a paixão pelas crônicas dos jornais impressos. Era muito comum comprarmos jornais nos finais de semana. Eu, como uma menina que amava histórias e a escrever também, lia muitas crônicas e já sonhava um dia ter um conto meu número jornal. Continuei a escrever, mas tudo se matinha guardado em cadernos. Acabo de me lembrar que como reescrevia entrevistas lidas nos jornais para os cadernos, respondendo como se fosse a entrevistada…olha eu aqui.(Riso)
Conexão Literatura: Você é autora dos livros “A jovem sonhadora”; “Os cabelos de Gabrieli” e “Ivan – Um conto para chorar”, poderia comentar?
Aline Lourenço: A jovem sonhadora e Ivan um conto para chorar são dois livros vindos de um projeto, onde seriam publicados 4 contos escritos ao mesmo tempo, mas acabou que estes consegui terminar e outros dois, só terminei bem mais tarde. A ideia era de ter um conto com história dramática que A jovem sonhadora, pois traz a reflexão sobre o romantismo que nos é apresentado e, o que pode gerar na cabeça de uma adolescente. Ivan um conto para chorar é uma narrativa para família que tem um membro homoafetivo e o excluí como se isso fosse a solução para a sexualidade que ele nasceu. Os cabelos de Gabrieli surgiu a partir da negação da identidade étnica e capilar de uma aluna.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Aline Lourenço: Eu digo que minha inspiração vem daqueles que são excluídos. Aquelas pessoas que, dificilmente, estão no mundo da Literatura. Tudo isso porque a Literatura é a reflexo daquilo que somos. Se é o nosso reflexo, porque só ter personagens com uma forma estética, um tipo de comportamento ou comportamento que foi moldado por um grupo étnicos que tinha dominava todas as histórias sob o único olhar. Sem ter passado pelo que o outro grupo passou. Nas minhas histórias conto situações reais que o povo vive. Seja algo externo ou interno. Tenho costume de escrever tudo aquilo que me inquieta.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho de um dos seus livros especialmente para os nossos leitores?
Aline Lourenço:
“Menina quando nasce preta já vem num mundo feito para menina branca. Assim que eles crescem e dão para amarrar, vão amarrar, só que não se pode amarrar, porque o cabelo tem que balançar. Aí, vem a química (hene, pasta, permanente afro, relaxamento) em cima dele, sem que o cabelo desse licença. E o cabelo deixa de ser crespo e passar a ser liso, numa espécie de escravidão capilar, com uso das ferramentas: pente quente, chapinha, marcel, prancha. Uma tortura que deixava marcas na orelha, pescoço e coro cabeludo.
Que bom que os anos passaram, o preto passou a ser evidência na história do Brasil, na cultura, na linguagem com “pretoguês”. Com isso, meninas pretas puderam ter seus cachos devolvidos e revelados por sua ancestralidade, graças a educação antirracista, que despertou em cada menina e mulher preta a autoestima para sair desta escravidão capilar e usar o cabelo da forma que quiser.” (Prefácio do livro Os cabelos de Gabrieli)
Conexão Literatura: Poderia comentar sobre a sua posse na Academia de Ciências Artes e Letras de Saquarema?
Aline Lourenço: Nossa…foi incrível! Assim que recebi o convite pela editora Literarte, fiquei sem acreditar e, acredite, achando que era cedo demais para estar numa academia ocupando uma cadeira. Achei que não era para mim. Mas, a insistência foi grande e só mantive segura quando recebi o telefone para confirmar se eu havia recebido convite em meu email. Na epo, não tinha assessoria, então, recebia os convites por email pessoal. Quardei segredo por um tempo até que estava num grupo dos membros que iriam tomar posse e meu card com minha foto já circulava nas redes sociais.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir os seus livros e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Aline Lourenço: Os dois livros A jovem sonhadora e Ivan um conto para chorar pode ser adquirido pelo sites da editora Ases da Literatura, Amazon, Estante Virtual, Casas Bahia e Magazine Luiza. Os cabelos de Gabrieli é comigo pelo email alineplourencoescritora@gmail.com onde você encomenda e eu envio pelo correio para residência do leitor.
Sou uma escritora que atua como contribuinte da narrativa negra, ancestral e antirracista. Meus personagens e histórias são baseadas na vida real do público de massa, periférico e excluídos. Julgo a Literatura popular como aquela que representa a cultura de massa mal julgada e pouco valorizada.
Conexão Literatura: Como você analisa a questão da leitura no Brasil?
Aline Lourenço: A leitura é uma atividade pouco desenvolvida por estarmos num país com grandes desafios no processo educacional para se ter um leitor ativo. Processos esses que incluem sistema de educação todo pautado numa aceleração na aprendizagem , sem qualidade nenhuma. É uma fábrica de discentes que pouco se aprofunda nos primeiros contatos com a língua despertando de forma prazerosa a leitura. Poucos conseguem continuar com hábito da leitura ainda sim na escola. Existem vários fatores que afastam o aluno para tal. A forma imposta para que o aluno procure o habito da leitura, faz dele um adulto sem vontade de levar este hobby pra sua vida.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Aline Lourenço: Existem…mas mantenho segredo até porque envolve parcerias sérias e com pessoas bem conhecidas. A forma de publicação também será diferente. Um texto meu seja ele de qualquer gênero, pode vir com outra forma artística, nem sempre será apenas texto.
Perguntas rápidas:
Um livro: Os olhos d’água de Conceição Evaristo
Um ator ou atriz: Milton Gonçalves e Glória Pires
Um filme: Self-made a história de Sarah Walker a primeira mulher negra que virou milionário por mérito próprio.
Um hobby: Passear sem companhia
Um dia especial: O lançamento da antologia Rainhas Negras, pois dali por diante fui descoberta como escritora.
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Aline Lourenço: Eu sou um espiral, mas posso mudar de forma e direção.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Criador e Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Já foi Educador Social e também trabalhou por 18 anos no setor de Inclusão Digital na Cidade de S. Paulo, numa rede de solidariedade que desenvolve ações de promoção da vida em várias partes do país e do mundo, um trabalho desenvolvido para pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social. Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com