Doutor em Engenharia, professor da
UFRGS, pesquisador do CNPq sobre energias renováveis. Sua tese de doutorado,
defendida em 2001, foi a primeira a abordar a complementaridade energética e
abriu caminho para novos grupos de pesquisa ao redor do mundo. Em
reconhecimento, editou um livro sobre o tema para a Academic Press, lançado em maio
de 2022. Durante a pandemia, o pesquisador tornou-se também oficialmente
escritor, publicando Energias renováveis, velharias clássicas e uma certa
obsessão positiva
, seu primeiro livro, em 2021, e Tecendo fragmentos,
em 2022, ambos lançados pela Editora Metamorfose na Feira do Livro de Porto
Alegre. 

ENTREVISTA: 

Conexão Literatura: Poderia
contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
 

Alexandre F. Beluco: Aos nove
anos, eu ganhei o livro Vinte mil léguas submarinas, de Julio Verne, no aniversário.
Devorei logo em seguida e, a partir dali, também por conta de um problema de
saúde, que se estendeu até a adolescência e limitava minha liberdade, me tornei
um leitor voraz. Sendo desde cedo muito criativo, eu imaginava enredos
alternativos e novos desfechos para os livros que eu lia e comecei a anotar
várias ideias. Eu ainda não dominava a escrita, mas eu sabia que queria
escrever. O costume de ler muito e de anotar ideias se manteve com a chegada da
vida adulta. Durante a pandemia, ingressei no Curso para Formação de Escritores
da Editora Metamorfose e ali, ao encontrar professores de escrita criativa e
participar de oficinas, foi possível superar alguma resistência a escrever
ficção e encarar os desafios do ofício.
 

Conexão Literatura: Você é
autor do livro “Tecendo Fragmentos”. Poderia comentar?
 

Alexandre F. Beluco: Esse é
minha segunda empreitada literária. Trata-se de uma coletânea de dez contos que
foram escritos, revisados e amadurecidos durante a pandemia, no período em que
frequentei o curso da Editora Metamorfose. Lá aprendi e treinei diferentes
técnicas, li muitas coletâneas de contos e quis praticar ferramentas diferentes
para chegar a resultados e a efeitos que eu penso serem importantes para meus
próximos trabalhos. Esse livro é, de certo modo, um resultado de trabalho de
laboratório, testando e acertando, errando e acertando, errando e seguindo em
frente, tentando várias vezes, errando e insistindo. Mas mesmo sendo resultado
de experimentação, o produto final me agradou e eu me vejo nessas histórias,
nesses personagens, nas situações que aparecem retratadas ali. O escritor Julio
Cortazar disse certa vez que uma narrativa longa é como uma vitória (no boxe)
por pontos, enquanto um conto seria uma vitória por nocaute. Trabalhando neste
livro eu entendi como selecionar boas ideias para vitórias por pontos.
 

Conexão Literatura: Antes de “Tecendo Fragmentos”,
você publicou o livro de crônicas “Energias Renováveis, velharias
clássicas e uma certa obsessão positiva”, mostrando que além de contos,
também domina o gênero textual das crônicas. Como é o seu processo de criação?
Quais são as suas inspirações? 

Alexandre F. Beluco: Crônicas,
além de contos? Pode parecer estranho mas o “motor de criação” é o mesmo, embora
as abordagens sejam possivelmente e potencialmente diferentes. O conto precisa
convencer o leitor de que aquilo que está sendo contado é real, que os
personagens estão ali, vivos, e que a trama está se desenvolvendo
independentemente de quem lê estar em uma praia descansando em férias ou estar
em um ônibus viajando para seu turno de trabalho. Já a crônica lida com temas
reais e verdadeiros e por isso precisa de estratégias diferentes para fisgar o
leitor. Meu processo de criação? Eu tenho costume de anotar todas as ideias,
quando elas surgem. Depois, aos poucos, as melhores acabam se evidenciando
entre as outras e terminam por ser selecionadas para uma melhor abordagem. O
passo seguinte é decidir como essas ideias serão aproveitadas. O último conto
de Tecendo fragmentos, por exemplo, era uma ideia que eu tinha anotada há cerca
de trinta anos. Não me parecia apropriada para uma narrativa longa e foi
utilizada meses antes em uma oficina de escrita. Depois foi revisada e
selecionada para este livro. Minhas inspirações? Depende muito do momento da
minha vida pessoal, da rotina cotidiana e até mesmo da estação do ano. Usualmente
alguma cena de filme, alguma música ou trecho de livro pode servir como estopim
para uma boa ideia a ser explorada em um conto ou crônica. Temas do trabalho
como pesquisador ou até uma reportagem em noticiário podem levar a uma boa
ideia para uma crônica.
 

Conexão Literatura: Poderia
destacar um trecho do livro “Tecendo Fragmentos” especialmente para
os nossos leitores? 
 

Alexandre F. Beluco: Sim, em Tecendo
fragmentos, conto “A sombra do sorriso”, p.79. “Então o nosso caroneiro saltou no
banco de trás e gritou: ‘Eu desço aqui!’ Paramos o carro e ele já tinha a porta
traseira aberta. Saiu gritando algo que entendemos como sendo uma despedida.
Empurrou a porta para ser fechada com tal violência que tivemos a impressão de
que toda a carroceria tremeu. Despediu-se, aparentemente, mas não agradeceu.”
 

Conexão Literatura: Como o
leitor interessado deve proceder para adquirir os seus livros e saber um pouco
mais sobre você e o seu trabalho literário?
 

Alexandre F. Beluco: Os meus
livros encontram-se à venda no site da Editora Metamorfose (https://www.editorametamorfose.com.br/autor/10852/),
que publicou esses dois primeiros títulos, e também no site da Amazon (https://www.amazon.com.br/Alexandre-F-Beluco/e/B09MJFTR55/ref=aufs_dp_fta_dsk).
Os meus perfis no Instagram (@alexandrefbeluco) e no
Facebook (https://www.facebook.com/escritoralexandrefbeluco)
mostram um pouco do meu cotidiano, com algumas indicações de leitura, com
atualizações sobre a repercussão do meu trabalho e com notícias relacionadas
com minha atuação como escritor (e também do meu trabalho como professor e
pesquisador). Os leitores também podem escrever diretamente para mim, pelo
email alexandrefbeluco@gmail.com,
que eu estarei sempre disponível para responder perguntas e discutir questões
de interesse dos meus leitores.
 

Em breve, em algumas semanas,
será lançado o site alexandrefbeluco.net, com textos inéditos e com mais
informações sobre o trabalho como escritor. Esse lançamento será divulgado com
antecedência no perfil do instagram.
 

Conexão Literatura: Quais dicas daria para os autores
em início de carreira?
 

Alexandre F. Beluco: Leiam,
leiam bastante, leiam muito, leiam sempre! Se um leitor voraz tiver ideias,
elas acabam surgindo e se impondo. Quando as ideias surgem, as narrativas se
encaixam, os personagens falam por si, as cenas nos tiram do sono para se
consolidarem. Daí a encontrar papel e caneta (ou o teclado) e começar a
escrever, que é quando a ficção transborda da imaginação para a realidade, é um
caminho curto. Frequentar algum curso de formação de escritores, integrar
alguma oficina de escrita criativa, participar de antologias e assim por
diante, também é uma dica, mas vai do caminho de cada um.
 

Conexão Literatura: Existem
novos projetos em pauta?
 

Alexandre F. Beluco: Sim,
estou com vários projetos em andamento. Eu tenho por hábito me dedicar a várias
iniciativas simultaneamente, focando em um ou outro conforme se aproxime de fase
decisiva. No radar, estão um livro de crônicas, um livro de contos e uma novela.
“Nada como o ronco de um GT”, meu próximo livro de crônicas, já está pronto e
deve ser enviado para revisão crítica nas próximas semanas para publicação no
final deste ano. “Já não é mais verdade”, um livro com sete novelas curtas (ou
contos longos), está em fase final de elaboração e deverá ser publicado no primeiro
semestre do próximo ano. Também estou escrevendo uma narrativa longa, que
deverá estar pronta ao longo de 2024. Em paralelo, estou participando, com a
Gabriela Silva, de um projeto para relançamento de livros do escritor noir portoalegrense
De Sousa Junior, publicado pela Editora Globo nos anos 1930 e 1940.
 

Perguntas rápidas: 

Um livro: Coração das trevas,
de Joseph Conrad. É uma obra notável de um autor que não foi alfabetizado em
inglês. Trata-se de uma narrativa que se desenvolve dentro de outra narrativa. O
livro critica a atuação das metrópoles em suas colônias, especificamente no
Congo Belga no final do século XIX, mas aborda também a proximidade entre os
comportamentos de homens ditos “civilizados” e de homens ditos “selvagens”.

Um ator ou atriz: Leonardo
DiCaprio, pela sua atuação em Inception, de 2010, de Christopher Nolan. Um ator
que poderia se deixar levar pelos estereótipos associados aos galãs de cinema,
mas que costuma buscar projetos que representem desafios ao seu talento. Nesse
filme, ele confere credibilidade ao seu personagem e ao roteiro (que é complexo
e que poderia facilmente se transformar em um fracasso de bilheteria).
 

Um filme: Cinema Paradiso, de
1988, de Giuseppe Tornatore. É um filme dedicado ao cinema, que gira em torno
da amizade entre um menino e o operador de cinema da cidade. É um filme sobre
um menino que perdeu o pai durante a Segunda Guerra e que se apaixona por filmes,
acompanhando o cinema de sua pequena cidade. A cena final preenche espaços
vazios que foram sendo deixados ao longo da narrativa.
 

Um hobby: Carros antigos. Uma
justificativa será melhor apresentada citando uma frase de um especialista
britânico, Quentin Willson.
Ele disse: “Our affair with old cars is purely
emotional, fiercely partisan, terminally subjective and completely without
logic or order.”
Em português: Nosso envolvimento
com carros antigos é puramente emocional, ferozmente partidário, terminalmente
subjetivo e completamente sem lógica ou ordem.
 

Um dia especial: Dia 08 de dezembro
de 2020, quando ocorreu o início da vacinação da população contra o vírus da
Covid-19. Pela humanidade ter conseguido se organizar e dar resposta rápida a
uma ameaça contra a sua existência (independentemente de problemas ou
dificuldades que tenham acontecido ao longo do processo de desenvolvimento das
vacinas e, depois, ao longo dos meses seguintes, durante as campanhas de vacinação).
 

Conexão Literatura: Deseja
encerrar com mais algum comentário?
 

Alexandre F. Beluco: Já li
citações de grandes escritores dizendo que o escritor é, na verdade, um grande
mentiroso. Ele precisa ser coerente, mas no fundo estará contando uma mentira.
Pode ser, mas a extensão da entrega necessária para construir uma narrativa é
tão grande que, em alguma medida, ele terá que ser honesto. Mesmo contando uma
mentira, ou várias mentiras encadeadas, ele terá que demonstrar honestidade
nessa entrega, sob pena de não concluir aquilo que se propôs a entregar. E
tento me pautar por isso no ofício como escritor.
 

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