
Por Ademir Pascale
Poucos personagens da literatura universal alcançaram tamanha projeção e simbolismo quanto Dom Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança. Criados por Miguel de Cervantes (1547–1616), esses dois ícones são, até hoje, objetos de estudo, inspiração artística e reflexão filosófica.
Publicado em duas partes — a primeira em 1605 e a segunda em 1615 —, Dom Quixote de la Mancha é considerada a primeira novela moderna da história. Cervantes, um veterano de guerra e escritor espanhol que passou por inúmeras dificuldades financeiras e pessoais, escreveu sua obra-prima como uma sátira aos romances de cavalaria tão populares na Idade Média. O que ele talvez não imaginasse é que seu livro transcenderia o tempo, tornando-se um dos pilares da literatura ocidental.
Dom Quixote, um fidalgo envelhecido e apaixonado por livros de cavalaria, decide tornar-se cavaleiro andante para defender os fracos e combater o mal. Sua visão distorcida da realidade o leva a confundir moinhos de vento com gigantes e estalagens com castelos. Já Sancho Pança, um camponês simples e de bom senso, é o contraponto cômico e realista do protagonista. A dualidade entre idealismo e pragmatismo encarnada nesses dois personagens é, talvez, um dos maiores méritos do romance.
Uma das frases mais célebres da obra — e que carrega sua essência — é:
“Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade.”
O livro não apenas marcou o fim da era dos romances de cavalaria, mas também abriu caminho para o romance psicológico, influenciando autores como Dostoiévski, Kafka, Borges e tantos outros. Sua importância é tamanha que a expressão “quixotesco” entrou para o vocabulário cotidiano, referindo-se a alguém idealista a ponto de se afastar da realidade.
Ao longo dos séculos, Dom Quixote foi adaptado para diversas mídias. No cinema, destacam-se versões como a de 1957 com Nikolay Cherkasov, e a de 2000 dirigida por Peter Yates. Além disso, a obra inspirou o famoso musical O Homem de La Mancha (1965), cuja canção “The Impossible Dream” eterniza a essência do personagem. Há ainda adaptações em quadrinhos, animações, séries e homenagens na música e nas artes plásticas.
Na Revista Conexão Literatura, sempre buscamos valorizar obras que transcendem seu tempo, que desafiam convenções e provocam reflexões. Dom Quixote de la Mancha é uma dessas joias raras que merecem ser revisitadas continuamente, seja por leitores iniciantes ou por estudiosos da literatura. Relembrar Cervantes é lembrar que a loucura, por vezes, é o combustível necessário para transformar o mundo.
E talvez — apenas talvez — seja justamente na loucura de Dom Quixote que encontramos nossa mais pura humanidade.
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Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Criador e Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Já foi Educador Social e também trabalhou por 18 anos no setor de Inclusão Digital na Cidade de S. Paulo, numa rede de solidariedade que desenvolve ações de promoção da vida em várias partes do país e do mundo, um trabalho desenvolvido para pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social. Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com