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Anderson Câmara |
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Anderson Câmara: Devo isso a Stan Lee. Quando era criança sonhava em ser cartunista da Marvel e desenhava meus quadrinhos do Homem Aranha, não demorou muito para que eu criasse meus próprios super-heróis. Os desenhos não eram lá essas coisas, mas algumas das dez histórias que criei para meus quadrinhos com o tempo foram se tornando bem desenvolvidas. Na adolescência foi quando comecei a ler, depois de ter lido metade de O Velho e o Mar (Ernest Hemingway), comecei a ler Harry Potter (como um bom garoto dos anos 2000) e escrevi a primeira vez numa fanfic de Resident Evil no Orkut. A pretensão de ser escritor ainda não existia, aconteceu quando aos 17 tive uma ideia “genial”: um vampiro que se apaixonaria por uma humana. Paralelo a isso eu lia e escrevia contos, e tudo o que produzia era muito influenciado pelos filmes que eu vira na infância e que via na adolescência. Quando descobri que minha ideia genial já fazia sucesso em outra obra, desisti e apostei em tramas mais sérias e realistas, mas nunca consegui me livrar da veia fantástica que me acompanha desde meus super–heróis.
Isso foi como comecei a escrever. Já como entrei no meio (mercado) literário, devo isso à política da Drago Editorial, que é uma das poucas editoras que ainda prioriza a arte, e ao conselho do meu amigo J. Nilson Jr, que escreve para o blog Estrelas de um céu nublado, que sempre foi o primeiro revisor de tudo o que escrevi, e foi quem me atentou para o fato de que já era tempo de procurar meios de publicar.
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Para adquirir o livro: clique aqui. |
Anderson Câmara: Meu primeiro livro lançado com editora foi meu sexto livro (lancei o Fragmentos de forma independente). Apresentei à Drago aos 23 anos, e já escrevo desde os 16. Tem escritor que bota o título por último, o título foi a primeira parte da história que me ocorreu. Eu andava na rua, voltando do trabalho, e surgiu na minha cabeça a questão “e se um guerreiro destemido procurasse ter medo?”. Procurei um lugar tranquilo, sentei, guarneci meu caderninho de emergências criativas e em cerca de uma hora estruturei um enredo simples.
Conexão Literatura: Como foram as suas pesquisas e quanto tempo demorou para escrever seu livro?
Anderson Câmara: Foi um livro fácil de escrever, eu já trabalhava no gênero (lit. fantástica) havia cerca de dois anos, num projeto ainda incompleto, e me tornara um admirador de Tolkien (que típico). E escrevi rápido, porque comecei a trabalhar nele para um concurso cujo prazo de entrega seria um mês. Levava o notebook para o trabalho e escrevia no horário de almoço, em cerca de 25 dias terminei. Foi quando descobri que metade do “bloqueio criativo” é meramente preguiça.
Eu já tinha o enredo estruturado, já sabia como começaria e como terminaria (penso que não seja possível começar sem saber como terminar), já tinha a caveira, faltavam as carnes. Não queria um ambiente tipicamente medieval, apesar de antigo, e precisava de criaturas mitológicas. Então imitei Tolkien, fui pescar na mitologia nórdica. A vida informatizada desromantizou a vida do escritor, não existe mais aquele sujeito simplório entrevistando bibliotecários e bacharéis para escrever seu livro, ele apenas senta em seu quarto e todo o conhecimento do mundo passa diante de seus olhos em algumas roladas de página. Assim pesquisei superficialmente sobre os trolls (descobri que a aparência deles é bem diferente da que Peter Jackson botou nos seus filmes), sobre os gigantes de gelo de Yotunheim (daí temos os yotun), sobre o kraiken, mas também criei algumas criaturas, como os sindrols. Tive atenção aos nomes que apareciam em minhas pesquisas, daí consegui montar os nomes como Galelstein, Krondarg e Varkel. Foi um livro divertido de escrever e que gerou bom retorno dos que o leram, apesar de não ter sido minha obra mais trabalhada ou algo que meu pedantismo fosse chamar de “minha obra prima”. Mas, a arte pertence a quem precisa dela, não ao artista, não é? (parafraseando uma fala de O Carteiro e o Poeta).
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Anderson Câmara: Este diálogo, de um capítulo do livro intitulado “Instruções”, que foi inspirado por um poema de Neil Gaiman de mesmo nome.
– Hendor… – chamou Gowlin. – Preste atenção: saia sem que te vejam, passe pelos vales sem despertar os yotun, sozinho você não será desafio para eles. Não caia em suas ilusões. Coma e descanse quando o sol descer, pois as criaturas mais terríveis estão fora de suas tocas entre o pôr e o nascer do sol. Vá a pé, um cavalo iria se assustar e o denunciaria quando precisasse fazer silêncio. Leve comida e água para a ida, pois tudo o que a floresta escura gera é venenoso.
– Até as flores – disse Lorthon vagamente enquanto bebia.
– Há uma antiga trilha que você deverá encontrar, siga-a e vai chegar ao outro lado. A trilha não está no chão e você deverá compreendê-la antes de segui-la. Não haverá dia ou noite lá dentro, descanse quando estiver cansado e coma quando tiver fome. Há uma bruxa lá dentro que, se resolver entrar no seu caminho, vai te oferecer coisas tentadoras.
– Aquela vadia ainda deve ter meu olho dentro de uma taça de prata – falou Lorthon outra vez. Gowlin o olhou de soslaio e continuou:
– Não aceite nada, não saia do seu caminho ou se distraia com as ofertas da bruxa, ela é uma cega serva de seres das trevas. Mortos não falam com vivos e nada do que ela oferece, mesmo que seja bom naquele momento, tem um fim bom. Tudo o que esses seres a quem ela serve desejam e oferecem tem um propósito maligno, não se deixe enganar. Além da floresta ficam os vales e buracos dos sindrols. Seja pacífico, não os enfrente sob qualquer circunstância, você sabe que sua loucura os torna quase imbatíveis. Se chegar até aí, o restante do caminho te será claro.
Qualquer um teria tremido ao ouvir estas instruções, mas Hendor sorriu. Esvaziou o copo e saiu da taverna.
Conexão Literatura: Se você fosse escolher uma trilha sonora para o seu livro, qual seria?
Anderson Câmara: Ótima pergunta. Para as viagens imagino The Rain Song, Led Zeppelin.
Para as cenas mais tensas e intensas eu penso na Sinfonia nº 9 de Antonìn Dvořák e principalmente Cry for the moon, do Epica, com a voz perfeita de Simone Simons.
Conexão Literatura: Como os interessados deverão proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Anderson Câmara: Bem, com internet tudo é possível. Tenho uma página no Facebook chamada “Câmara de Arte”, em que posto sobre tudo o que pratico de arte (literatura, fotografia, música). Ali há links para meu canal no youtube (ainda pequeno, no momento desta entrevista). O livro pode ser adquirido na Livraria da Travessa (RJ) e na Livraria Leitura, tanto fisicamente quanto pela internet. E é claro que a loja da Drago Editorial é o meio mais conveniente para quem mora no Rio. Na dúvida, just google it!
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Anderson Câmara: Diversos. Tenho um romance histórico pela metade, que se passa no Brasil em 1974 (já dá pra imaginar o tema). Uma história de mesmo estilo que O heroi que queria ter medo, mas totalmente diferente, e bem mais complexa e comprida, em que estou trabalhando há uns quatro anos. Tenho lançado um livro em que reuni uns contos e poemas chamado Fragmentos, que está no Clube de Autores fisicamente e em e-book. E já está escrita e revisada minha novela policial/psicológica chamada Negromonte.
P.S. o fato de meu próximo livro sair por outra editora diz que a Drago é realmente um ótimo lugar para trabalhar com literatura.
Perguntas rápidas:
Um livro: Moby Dick
Um (a) autor (a): Machado de Assis
Um ator ou atriz: Gary Oldman
Um filme: A Odisseia, de 1997
Um dia especial: O primeiro dia na universidade
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Anderson Câmara:
Que a arte não seja um hobby, mas a própria vida.
Que a vida não seja um hobby, mas seja arte.