Roberto Leon Ponczek – Foto divulgação |
Esse livro consiste numa seleção de artigos e resenhas musicais
escritos no período de 1987 a 1998, quando eu era crítico musical e colaborador
do Jornal A Tarde de Salvador, responsável pela coluna semanal Música Erudita.
Foram quase todos eles (com exceção dos publicados em 1998) redigidos numa
pequena máquina de escrever Olivetti Lettera 32 até que adquiri um computador desktop, com editor de texto Word, o que ocorreu apenas em 1998. O
Concerto no 1 para piano e orquestra de Chopin e o Concerto para
Violino e orquestra de Mendelssohn foram as primeiras obras musicais que ouvi,
na infância, executados pela outrora imponente Radio-Vitrola Telefunken, feita
de imbuia clara e repousando sobre quatro pés de palito, que reinava absoluta
na sala de estar de nosso apartamento em Copacabana. Daí resulta o título desse
livro.
Nas colunas semanais, a discografia recomendada aos leitores era
composta quase exclusivamente de Long Plays (LPs), até a difusão e
comercialização massiva no Brasil dos Compact Disc (CDs), o que ocorreu no
começo da década de 1990. Como a maioria dos títulos recomendados para audição
aos leitores encontra-se fora de catálogo, substitui as referências
discográficas originais por links
pertencentes à plataforma Youtube,
que foram acessados fácil e gratuitamente, no
período de março de 2019 a julho de 2020, via internet. Criei assim uma playlist para cada compositor ou
intérprete aqui abordado. Para facilitar o acesso às audições, o leitor terá à sua disposição o blog: https://concertopararadiovitrola.blogspot.com, onde
todas as audições estarão disponíveis com acesso direto, apenas clicando nos
links correspondentes. Cada nota de rodapé com sugestão de audição estará no
blog com o mesmo número da nota. Caso um ou mais
links forem retirados da
plataforma youtube, os leitores
poderão informar no próprio blog, no
espaço reservado à correspondência com o autor, para que eu possa substituí-los por outras audições equivalentes
ou poderão inclusive sugerir audições semelhantes às que foram retiradas da
plataforma. Dessa forma, os leitores serão também colaboradores para que haja
sempre uma playlist de 501 links atualizados.
A ordem sequencial dos artigos aqui reproduzidos é a ordem cronológica de
publicação dos mesmos no referido jornal, e não uma linha do tempo na história
da música. Desta forma, o leitor poderá ler este livro na ordem que lhe
aprouver, partindo de qualquer compositor ou intérprete aqui abordado, pois são
originalmente artigos independentes e a leitura de um deles pode ser feita sem
a leitura dos que o precedem.
Ao transformar as matérias jornalísticas em livro, não pretendi
estabelecer um tratado profundo de análise musical sobre as obras aqui
sugeridas, mas, tive como objetivo maior, fazer uma introdução sobre a vida e a
obra de alguns dos grandes músicos da história, destinada a um público leigo,
mas culto e de bom gosto musical, bem como para estudantes de música,
procurando contextualizar historicamente cada músico em seu tempo e convidando
o leitor para uma audição básica, mas abrangente, de cada um deles aqui
abordados. Ao longo deste livro, o leitor terá à sua disposição quinhentos e
uma audições, selecionadas entre as que me pareceram as mais fiéis à ideia das
obras descritas e foram postas, como links da internet, relacionadas ao
texto principal. No final de cada artigo apresento uma bibliografia atualizada e leituras complementares para
o leitor que quiser se aprofundar sobre as obras dos músicos aqui abordados. O livro se
encerra com cinco pequenos ensaios-reflexões e com duas entrevistas
realizadas com o compositor Lindembergue Cardoso, com quem estudei composição,
e o violinista baiano Salomão Rabinovitz, ambos já falecidos.
SOBRE O AUTOR ROBERTO LEON PONCZEK
Roberto Leon Ponczek
(Rio de Janeiro, 1948) é Mestre em Física Nuclear
pela PUC-RJ, professor de Física concursado pela UFRJ e Professor Adjunto IV da
UFBA. É doutor em Educação pela UFBA, membro dos grupos de trabalho Benedictus
Spinoza e Filosofia do séc. XVII da Anpof e Professor Permanente no Doutorado
Multidisciplinar de Difusão do Conhecimento, onde orienta vários alunos. Foi
Professor Visitante da Purdue University, Indiana, EUA e da Hebrew University
de Jerusalém. Fez Pós-Doutorado em Teoria de Redes Complexas, no Cimatec, onde
estudou a filosofia e epistemologia da Teoria de Redes. É autor dos livros Os
crocodilos guardiões e a Biblioteca da Babilônia: manhas, artimanhas e
imposturas acadêmicas, publicado pela CRV, Curitiba, Deus ou seja a Natureza:
Spinoza e os novos paradigmas da Física pela EDUFBA, Conversando com Estátuas e
outras histórias, Ed. MouraSa, Curitiba e Da Babilônia ao Brasil: o improvável
milagre da existência, pela editora Garimpo, S. P. Pertence a uma família de músicos, sendo bisneto
do compositor polonês Moritz (Maurice) Moszkowski e sobrinho neto da cravista
polonesa Wanda Landowska. Estudou violão clássico com Prof. Othon Gomes Filho e
fez o curso de Composição e Regência na Escola de Música da UFBA, tendo como
professores Lindenbergue Cardoso, Ernst Widmer, entre outros, sendo colaborador
articulista do jornal A Tarde, de 1987 a 1998, onde publicou cerca de
quinhentos artigos sobre música erudita e jazz, além de críticas a concertos e shows musicais, na coluna Música
Erudita.
CRÍTICA E PREFÁCIO POR JEAN LOUIS STEURMAN**
Conheci Roberto Ponczek no Instituto Cirandinha, que hoje só
existe na memória de
poucos. Quando ele me sugeriu que escrevesse esse
prefácio, fiquei surpreso, pois as palavras
nunca foram meu meio natural de comunicação.
A vida nos havia afastado durante muitos anos. No entanto,
reencontrei o mesmo espírito inquisitivo mergulhando na música, o que fez,
penso eu, a partir da cultura e da curiosidade intelectual que de menino
guiavam Roberto. No apartamento de seus pais em Copacabana reinava tranqüila a
atmosfera de estudo, harmonia e civilidade. Os carrinhos de chumbo circulavam
aos sons de Heifetz e Rubinstein. Roberto, como um pequeno Sherlock, procurava
entender o significado do seu entorno, e também dos sons que emanavam da
radio-vitrola Telefunken. Depois, amparado por sua formação filosófica, escreve
sobre música.
Gostar de música, e nesse caso falo de música de concerto, ou
erudita, ou clássica, como queiram chamar, é uma fonte de prazer, de
descontração e um meio de entrar em contato com um grande espectro de emoções
e, portanto, de se conhecer. Alguns críticos de arte usam seus espaços para
tentar impor suas ideias, atacando aquelas que consideram adversárias ou
inimigas. Às vezes até atacam artistas que desconsideram por não se enquadrarem
em seus ideais estéticos. Não é o caso aqui. Roberto procura guiar seu leitor
na descoberta e compreensão da complexa e sofisticada linguagem da música.
Repartindo generosamente com o leitor/ouvinte seu conhecimento, seus caminhos e
suas descobertas, ele ilumina a busca de seu sentido mais verdadeiro. Com
artigos elaborados durante anos, ele cobre de Bach a Lindenbergue Cardoso, com
desvios via Pitágoras, Agostinho, jazz e Hildegard von Bingen (obrigado, não
conheço, vou checar!), e outros recantos inesperados. Além da curiosidade
intelectual, chama a atenção o afeto e a humildade de sua abordagem dos grandes
mestres, de Handel a Webern, de Albinoni a Zubin Mehta, e o reconhecimento das
sutilezas e diferenças entre cada um desses músicos.
Música fala por si e, nesse sentido, poderíamos até dizer que
palavras seriam irrelevantes, e que bastaria “escutar e ouvir”. Afinal, por que
não reivindicar o direito de cada um interpretar o que ouve à sua maneira,
dependendo do momento, estado de espírito e circunstâncias de sua experiência?
Isso seria ilustrado ao compararmos as interpretações de Mengelberg e Haitink
de Sinfonias de Mahler, ou Lipatti e Horowitz nas Valsas de Chopin. Mas é
importante também refletir sobre a resposta de Wanda Landowska a Rosalyn Tureck
quando esta discorda da decisão interpretativa da extraordinária cravista, “My
dear, you play Bach your way, I will play HIS way”. Claro, cada um de nos vê o
objeto de sua maneira, mas o objeto existe independentemente de nosso olhar. O
que Roberto nos oferece tão claramente é um mapa do contexto pessoal, político
e histórico que contribui para desenvolver compreensão e prazer, mesmo
reconhecendo que palavras sempre serão insuficientes para traduzir totalmente a
experiência musical.
Tendo tido o imenso privilégio de dedicar minha vida à Música, o
que me trouxe indescritível felicidade, gostaria que todos pudessem ter acesso
a essa linguagem, possivelmente a mais sofisticada que o homem jamais tenha
criado. Acho mesmo que esse é um direito inalienável de todo ser humano e que
música deveria ser ensinada nas escolas desde o primário como matéria básica.
Teríamos uma sociedade melhor, mais solidária e afetuosa, menos violenta. Tive
a oportunidade de ver de perto o efeito transformador que projetos de educação
musical trazem a comunidades desfavorecidas e desesperançadas. Somente no
Brasil, o Neojiba da Bahia, Heliópolis, na periferia de São Paulo e Barra
Mansa, entre tantos outros, são programas que se tornaram referências internacionais
– mesmo atuando com as dificuldades que conhecemos.
Os artigos reunidos neste lindo livro reforçam e
alimentam a descoberta desse maravilhoso mundo que é a Música. E é com alegria
que recomendo sua leitura.
**Jean Louis César Steuerman (Rio de Janeiro, 1949). Pianista. Nascido em família de músicos, começa os estudos de piano aos quatro anos, com Lúcia Branco e, aos 12, é orientado por Arnaldo Estrella. Foi aluno de harmonia, composição e contraponto de Cláudio Santoro . Ganha o primeiro prêmio nos concursos Lorenzo Fernandez (1965) e Nacional de Piano (1966). Graças a uma bolsa de estudos, transfere-se para a Europa em 1967. A conquista do segundo lugar no Concurso Bach de Leipzig, em 1972, inicia sua carreira internacional de concertista e a longa associação com a obra do compositor alemão. Na década de 1970, transfere-se para Londres, onde estuda com Maria Curcio, e se apresenta com a Royal Philharmonic Orchestra, regida por Sir Yehudi Menuhin e Vladimir Ashkenazy. Faz turnês pela Europa, América e Japão, e toca com orquestras como Gewandhaus de Leipzig, com Kurt Masur, Filarmônica de Londres, dentre outras, além das principais sinfônicas brasileiras, como a OSB e a OSESP. Na música de câmara, tem parceiros como os violinistas russos Dmitry Sitkovetsky e Viktoria Mullova. Em sua discografia destaca-se o prêmio francês Diapason d’Or pela gravação das Seis Partitas de Johann Sebastian Bach para o selo Philips. Gravou obras para piano e orquestra de Felix Mendelssohn, sonatas de Alexander Scriabin, e autores do século XX, como Arnold Schönberg, Leonard Bernstein, entre outros. Em 2015, assumiu a direção da Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro.
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