Entre a luz e a escuridão da literatura brasileira, brilha — ou melhor, sangra — um nome que transcende o tempo: Augusto dos Anjos. Sua poesia não conforta. Ela inquieta. Ela mastiga e cospe verdades que poucos têm coragem de encarar. Ele escreveu com o coração exposto, com os nervos em carne viva, com a consciência humana estirada sobre a mesa fria da dissecação poética.

Na literatura, sempre admirei os que ousaram olhar de frente para a morte. Para a alma. Para o que há além da aparência. Edgar Allan Poe foi, para mim, um dos grandes autores do gênero. Um mestre que me ensinou que há beleza no terror, poesia no delírio e lucidez na loucura. Augusto dos Anjos é, sem dúvida, o nosso Poe brasileiro. Assim como o autor de “O Corvo”, Augusto também caminhou pelas sendas da dor existencial, do grotesco e da metafísica. Ambos, cada um à sua maneira, deram voz ao invisível.

Augusto dos Anjos nunca se limitou a uma única escola literária. Misturou simbolismo, parnasianismo e uma antecipação surpreendente do modernismo, numa linguagem carregada de termos científicos, filosóficos e profundamente humanos. Era um poeta do carbono, da amônia, das vísceras — mas também da alma, da dúvida e da eternidade.

Quatro frases que ainda ecoam em quem ousa lê-lo:

  1. “A mão que afaga é a mesma que apedreja.”
  2. “A vida é apenas uma cela de tortura.”
  3. “Eu, filho do carbono e do amoníaco, monstro de escuridão e rutilância…”
  4. “A alma, que apodrece antes do corpo.”

Seu livro “Eu” (1912) foi recebido com estranhamento pela crítica da época, e não era por menos. Só mais tarde, com a publicação póstuma de “Eu e Outras Poesias”, Augusto foi reconhecido como um dos grandes nomes da poesia brasileira — uma obra que até hoje surpreende, assusta e encanta.

Alguns fatos curiosos:

E aqui deixo minha homenagem, não apenas como leitor, mas como escritor tocado por sua arte:

Augusto dos Anjos foi e continua sendo um terremoto poético. Um sismógrafo humano que captou os abalos do espírito em sua forma mais pura. Sua importância na literatura é incomensurável. Ele escancarou as portas que tantos mantinham trancadas. Trouxe para o centro do poema aquilo que era negado — a angústia, o medo, a dúvida, o ser em ruína.

Assim como Edgar Allan Poe me ensinou a habitar os corredores escuros da imaginação, Augusto dos Anjos me mostrou como sangrar com palavras. E por isso, sua obra também vive em mim. Vive em todos nós que acreditamos que a literatura deve emocionar, incomodar e acordar.

Augusto dos Anjos é mais que um poeta. É um espírito inquieto que ainda vaga pelas páginas que escreveu. É a voz do silêncio. E, por isso, jamais será esquecido.

E é justamente dessa admiração profunda por Poe e por escritores como Augusto dos Anjos que nasceu um dos projetos mais intensos da minha carreira: “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Uma obra que celebra não só o mestre do terror gótico, mas também o poder da literatura de unir almas que, mesmo distantes no tempo, compartilham o mesmo fascínio pelo sombrio, pelo oculto e pelo inexplicável. Nesse livro, busco homenagear aquele que plantou em mim a semente do mistério — e que, de alguma forma, também germinou no solo poético de Augusto.

O meu romance “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe” é uma narrativa que explora o universo literário de Poe através de um clube de leitura, onde os membros, apaixonados pela obra do autor, são confrontados com mistérios e intrigas. O clube, situado num antigo prédio em São Paulo, é o palco de uma história sombria, onde um dos membros desaparece e outros tornam-se alvos de um maníaco.

O livro, infelizmente, não está mais disponível para venda, mas quem sabe alguma editora tenha interesse numa segunda edição. Algumas informações sobre o livro podem ser adquiridas: CLICANDO AQUI.

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