
Entre a luz e a escuridão da literatura brasileira, brilha — ou melhor, sangra — um nome que transcende o tempo: Augusto dos Anjos. Sua poesia não conforta. Ela inquieta. Ela mastiga e cospe verdades que poucos têm coragem de encarar. Ele escreveu com o coração exposto, com os nervos em carne viva, com a consciência humana estirada sobre a mesa fria da dissecação poética.
Na literatura, sempre admirei os que ousaram olhar de frente para a morte. Para a alma. Para o que há além da aparência. Edgar Allan Poe foi, para mim, um dos grandes autores do gênero. Um mestre que me ensinou que há beleza no terror, poesia no delírio e lucidez na loucura. Augusto dos Anjos é, sem dúvida, o nosso Poe brasileiro. Assim como o autor de “O Corvo”, Augusto também caminhou pelas sendas da dor existencial, do grotesco e da metafísica. Ambos, cada um à sua maneira, deram voz ao invisível.
Augusto dos Anjos nunca se limitou a uma única escola literária. Misturou simbolismo, parnasianismo e uma antecipação surpreendente do modernismo, numa linguagem carregada de termos científicos, filosóficos e profundamente humanos. Era um poeta do carbono, da amônia, das vísceras — mas também da alma, da dúvida e da eternidade.
Quatro frases que ainda ecoam em quem ousa lê-lo:
- “A mão que afaga é a mesma que apedreja.”
- “A vida é apenas uma cela de tortura.”
- “Eu, filho do carbono e do amoníaco, monstro de escuridão e rutilância…”
- “A alma, que apodrece antes do corpo.”
Seu livro “Eu” (1912) foi recebido com estranhamento pela crítica da época, e não era por menos. Só mais tarde, com a publicação póstuma de “Eu e Outras Poesias”, Augusto foi reconhecido como um dos grandes nomes da poesia brasileira — uma obra que até hoje surpreende, assusta e encanta.
Alguns fatos curiosos:
- Nasceu em 1884, na Paraíba, e morreu jovem, em 1914, com apenas 30 anos.
- Sua poesia era vista como mórbida e excessiva, mas o tempo revelou sua genialidade.
- Foi um autor solitário, um pensador da morte e da matéria, que transformou a decadência humana em arte.
- É considerado um dos precursores do modernismo, mesmo sem nunca ter feito parte oficialmente do movimento.
E aqui deixo minha homenagem, não apenas como leitor, mas como escritor tocado por sua arte:
Augusto dos Anjos foi e continua sendo um terremoto poético. Um sismógrafo humano que captou os abalos do espírito em sua forma mais pura. Sua importância na literatura é incomensurável. Ele escancarou as portas que tantos mantinham trancadas. Trouxe para o centro do poema aquilo que era negado — a angústia, o medo, a dúvida, o ser em ruína.
Assim como Edgar Allan Poe me ensinou a habitar os corredores escuros da imaginação, Augusto dos Anjos me mostrou como sangrar com palavras. E por isso, sua obra também vive em mim. Vive em todos nós que acreditamos que a literatura deve emocionar, incomodar e acordar.
Augusto dos Anjos é mais que um poeta. É um espírito inquieto que ainda vaga pelas páginas que escreveu. É a voz do silêncio. E, por isso, jamais será esquecido.

E é justamente dessa admiração profunda por Poe e por escritores como Augusto dos Anjos que nasceu um dos projetos mais intensos da minha carreira: “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Uma obra que celebra não só o mestre do terror gótico, mas também o poder da literatura de unir almas que, mesmo distantes no tempo, compartilham o mesmo fascínio pelo sombrio, pelo oculto e pelo inexplicável. Nesse livro, busco homenagear aquele que plantou em mim a semente do mistério — e que, de alguma forma, também germinou no solo poético de Augusto.
O meu romance “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe” é uma narrativa que explora o universo literário de Poe através de um clube de leitura, onde os membros, apaixonados pela obra do autor, são confrontados com mistérios e intrigas. O clube, situado num antigo prédio em São Paulo, é o palco de uma história sombria, onde um dos membros desaparece e outros tornam-se alvos de um maníaco.
O livro, infelizmente, não está mais disponível para venda, mas quem sabe alguma editora tenha interesse numa segunda edição. Algumas informações sobre o livro podem ser adquiridas: CLICANDO AQUI.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Criador e Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Já foi Educador Social e também trabalhou por 18 anos no setor de Inclusão Digital na Cidade de S. Paulo, numa rede de solidariedade que desenvolve ações de promoção da vida em várias partes do país e do mundo, um trabalho desenvolvido para pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão social. Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com