Harvey Kurtzman é mais conhecido no Brasil por
ter sido o idealizador da revista Mad. Mas há uma criação, dele, igualmente
genial, pouco conhecida em nosso país. Trata-se de Little Annie Fanny, série em
quadrinhos publicada durante anos na revista Playboy americana.
A personagem surgiu da amizade de Kurtzman com
o dono da Playboy, Hug Hefner. Hefner
era fã do quadrinista e, quando este foi demitido da MAD após pedir
participação nos lucro, Hefner se ofereceu para bancar uma nova revista. A publicação, chamada Trump durou apenas dois
números, mas cimentou a amizade entre os dois e o convite para uma colaboração
coma Playboy.
Curiosamente, Little Annie Fanny surgiu como
uma paródia do dono da Marvel, Martin Goodman chamado Goodman Beaver. O
personagem era sátira ao mundo da publicidade e do meio editorial e foi
publicado em um livro de bolso. Kurtzman ofereceu o série para Hefner, que
sugeriu mudar o foco colocando uma mulher como protagonista. As sugestões
iniciais de nome para a série foram Os perigos de Zelda e até Mariazinha
confusão. No final, acabaram ficando com Little Annie Fanny (Aninha, bonita e
gostosa, no Brasil), uma alusão satírica do clássico quadrinhos Lilttle Orfhan
Annie.
Aninha é uma atriz e modelo que coloca os
homens em polvorosa com seu corpo voluptuoso e ingenuidade a la Marilyn Monroe.
Kurtzman fazia o roteiro e o esboço das
páginas, mas para desenhar chamou o amigo Will Elder, que pintava os
personagens sem contorno, uma novidade na época. Posteriormente, outros craques
da indústria colaboraram com a tira, com destaque para Frank Frazzetta, que fez
a Aninha mais sensual de todos os tempos.
A primeira história já dava o tom de humor das
demais histórias: Aninha está gravando um comercial de sabonete (sob o olhar
sedento dos homens) e acredita tanto nas suas falas que acaba se apaixonando…
pelo sabonete!!!
Em outra história Aninha se sente mal e acaba
provocando uma confusão enorme no hospital ao tirar a roupa para ser examinda –
os médicos literalmente passam a brigar entre si para examiná-la. O humor da
tira ficava por conta tanto das piadas visuais (com Elder enchendo as cenas de referências a
atores e políticos da época) e dos diálogos inspirados de Kurtman, que faziam
muitas referências diretas a acontecimentos da época.
O que era uma qualidade vira um problema:
muitas situações só fazem sentido para o leitor norte-americano da década de
1960, o que talvez explique porque a personagem foi publicada no Brasil apenas
uma vez na revista Playboy e em um álbum especial também da Playboy de 2004.
Mas algumas piadas não envelheceram, como da
tira em que o protetor de Aninha está mostrando para ela sua coleção de armas
(os diálogos de Kutzman fazendo direta referência entre as armas e o fetiche
sexual) e começa uma disputa com o agente da modelo, que termina com os dois
hospitalizados depois de uma troca de tiros.
Um clássico injustamente pouco conhecido no
Brasil.