A vida e a carreira da cantora paulista Maricenne
Costa estão biografadas em Maricenne
Costa
A cantora de voz colorida (editora Álbum de
Família), que está sendo lançado. De autoria de
Elisabeth Sene-Costa,
irmã de Maricenne, e da jornalista Laïs Vitale de Castro, o livro chega ao mercado com um
apanhado das realizações dessa intérprete, que fez parte do auge da bossa nova
paulista e representou a música brasileira em Portugal e nos Estados Unidos nos
anos 1960.

Maricenne é de Cruzeiro (SP) e
tem carreira pautada pela diversidade. Começou nos anos 1950 e recebeu o prêmio
‘A Voz de Ouro ABC’, um dos mais importantes da época. Viajou para os Estados
Unidos para cantar, e foi citada na prestigiada revista DownBeat. Teve na
platéia, ‘vips’ como Tony Bennet e Judy
Garland. Foi a primeira cantora a registrar em disco uma música de Chico
Buarque, a Marcha para um Dia de Sol
(1964) e gravou com a banda punk Inocentes.
Nos anos 70, fez teatro e
trabalhou com Myriam Muniz e Ricardo Blat, por exemplo. Não se destaca apenas
pela interpretação, mas também pela escolha do repertório. Há muito tempo
realiza pesquisas musicais, em um trabalho pouco usual
para cantores.

O livro se deve a um esforço da
irmã caçula de Maricenne, a médica psiquiatra Elisabeth Sene-Costa, que, ao
lado da jornalista Laïs Vitale de Castro entrevistou músicos, jornalistas etc.
Nesse papo, Elisabeth fala mais sobre a livro e diz que apesar de amar a música,
chegou até a ter aulas, nunca quis ser profissional, “a ciência e a paixão
pelos estudos médicos falaram mais alto”. 

Conexão
Literatura –
 O
que te fez parar e escrever a biografia de Maricenne Costa. Até que ponto é
mais fácil ou mais difícil relatar sobre essa artista, sendo sua irmã?
 

Elisabeth – Quando pensei em publicar uma biografia de
Maricenne contratei uma jornalista (Laïs Vitale de Castro) para escrevê-la. Ao
me entregar o rascunho achei que faltavam muitas histórias e que o livro
deveria ser organizado de maneira diferente. Apesar de não ter tempo para me
dedicar a uma revisão (sou médica e trabalho bastante), mas gosto muito de
escrever, aos poucos, fui fazendo algumas modificações e inclusões que me deram
muito prazer.
 

Conexão
Literatura –
 Por
que você escolheu usar essa frase de João Gilberto, ‘A cantora de voz
colorida’, como título? Você também concorda com esse colorido da voz dela?
 

Elisabeth
O termo ‘colorido’ é
uma metáfora utilizada pelo grande João Gilberto para evocar a beleza de um
acorde, uma harmonia ou mesmo de uma voz. Quando ele mencionou à Maricenne que
“sua voz também tem cores”, esse comentário lhe foi muito gratificante, com o
qual concordei e achei que caberia bem como subtítulo.
 

Conexão
Literatura –
 Maricenne
teve carreira pautada pelo ecletismo, antes mesmo de surgir esse ‘rótulo’ na
música brasileira. Começou na bossa mas chegou a cantar com banda punk nos anos
80.Você acha que essa busca dela por um som ‘diferente’ deve-se a quê?
 

Elisabeth – Maricenne sempre foi muito criativa, intuitiva e
inovadora. Nunca se prendeu ao conservadorismo e coisas repetitivas. Sempre
gostou de fazer descobertas novas, originais, de percorrer caminhos ainda não
trilhados. Esta sempre foi uma característica de sua personalidade.
 

Conexão
Literatura –
 Ela
foi convidada a se apresentar nos Estados Unidos, no começo da carreira, onde
cantou para platéias de artistas como Tony Bennet e Judy Garland, por exemplo. Mesmo
assim não quis ficar, resolveu voltar. Acredita que a carreira teria sido
diferente lá fora?
 

Elisabeth – Na realidade, ela somente voltou para passar um
pequeno tempo no Brasil, tipo ‘matar as saudades’. Já estava com o contrato
assinado de quatro anos para gravar um LP e dois 45 RPM pela Verve-MGM – Metro
Goldwin Meyer Inc., de Los Angeles. Não é claro o que realmente aconteceu, mas
inesperadamente, o contrato se desfez. Isso a abalou muito emocionalmente
porque, com certeza, sua carreira teria tomado um outro rumo, de sucesso
internacional.
 

Conexão
Literatura
 –
Você contou com a parceria da jornalista e escritora Laïs Vitale de Castro, como
vocês dividiram o trabalho?
 

Elisabeth –Laïs começou conversando com Maricenne e
entrevistando pessoas relacionadas a ela. Eu reorganizei o livro incluindo
outras entrevistas, novos capítulos, fotos, trajetória artística mais completa
etc. Nesta parte tive a ajuda do meu editor, Edilson Rodrigues da Silva, que me
sugeriu ideias, inclusive da capa.
 

Conexão
Literatura –
 Teve
alguém que você gostaria de ter o depoimento no livro mas não conseguiu? Se
sim, cite alguns exemplos e por quê?
 

Elisabeth – Maricenne conheceu muitos artistas que foram seus
amigos e, algumas vezes, se hospedaram em sua casa. Muitos deles se tornaram
famosos e, até certo ponto, ‘inatingíveis’. Provavelmente se houvesse mais
tempo, e eu tivesse uma equipe de auxiliares, teria sido mais fácil o acesso a
eles.
 

Conexão
Literatura –
 Sempre
acusam o Brasil de não ter memória cultural. O que você acha dessa afirmação? Acha
que faz falta mais livros relatando sobre esse período da música brasileira,
tipo anos 50 e 60, por exemplo?
 

Elisabeth – Considero verdadeira a afirmação. Infelizmente
inúmeros artistas, das décadas citadas, foram renegados ao esquecimento. Sem
sombra de dúvida, todos deveriam ter sua história contada em livros. Esta é uma
das razões que me estimularam a escrever sobre Maricenne.
 

Conexão
Literatura –
 Sendo
sua irmã essa figura extremamente musical, e você tendo convivido com ela
aquele período de formação, nunca pensou em ser cantora, também?
 

Elisabeth
Minha família sempre
foi muito musical. Todos cantavam: meu pai, minha mãe, meus irmãos e eu. Quando
adolescente alguns amigos tocavam violão e eu cantava com eles. Chegamos a
fazer alguns ‘showzinhos’ em boates de Caraguatatuba e de São Paulo, porém
nunca pensei em ser cantora. Meu projeto profissional era ser médica psiquiatra
e psicoterapeuta, mas a música continua sendo parte importante da minha vida.
 

Conexão
Literatura
 –
Gostaria de que você destacasse um disco ou mais de um de Maricenne Costa, que
estão nas plataformas digitais, nos quais as pessoas pudessem escutar e
conhecer mais sobre o trabalho dela. 
 

Elisabeth
Vou citar quatro CDs:

“Correntes Alternadas” (1992). Destaque para as músicas “Muito
Prazer”(Edvaldo Santana e Ademir Assunção), “Dor de dente” (Duda, do ‘Moleques
de Rua’) e “Garotos do Subúrbio” (de Clemente, do grupo Inocentes)

“Como tem passado!!” (1999). Muito elogiado por se tratar de uma
pesquisa solicitada por Maricenne ao importante crítico musical José Ramos
Tinhorão, dos primeiros ritmos brasileiros: modinha, maxixe, marchinha
carnavalesca, cançoneta, tango e outros.

“Movimento Circular” (2005). Destaque para as músicas “Íntima” e
“Compromisso”, ambas de Moisés Santana e “Marcha para um dia de sol” (Chico
Buarque). Maricenne foi a primeira cantora a gravar esta mesma música de Chico,
em 1964.

“Bossa.SP” (2009). Neste CD Maricenne homenageia músicos paulistas
ligados à bossa nova, dentre eles Théo de Barros (“Pra não ser mais tristeza” e
“Menino das laranjas”), Adilson Godoy (“Dá-me”), Paulinho Nogueira (“Ouvi tua
voz”) e outros.
 

Conexão
Literatura –
 Você
é médica psiquiatra, escreve livros relativos a sua profissão. Esse novo livro,
a biografia de Maricenne Costa, vai em outra direção. Tem chances de virem
outros semelhantes, com artistas?
 

Elisabeth – Acho difícil porque as pessoas, em geral, procuram
escritores já conhecidos como biógrafos. No entanto, pretendo publicar alguns contos
que ainda estão guardados na gaveta.
 

Conexão
Literatura
 –
Como o leitor interessado deve proceder para adquirir esse livro e saber um
pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
 

Elisabeth – O livro pode ser adquirido através do meu email elisabethsene@terra.com.br ou no portal UICLAP. Tenho um site (www.elisabethsene.com.br) que precisa ser atualizado, mas onde
constam algumas informações a meu respeito.
 

Perguntas
rápidas:
 

Um
livro
:“Alquimia
do Conhecimento – Reflexões sobre Histórias e Saberes Entrelaçados”, de Taunay
Daniel. O livro que estou lendo agora e gostando muito.

Um
(a) autor (a):
Taunay
Daniel

Um
ator ou atriz
:
Fernanda Montenegro

Um
filme
:
“Cinema Paradiso” de Giuseppe Tornatore (1988). Tenho um capítulo com este
título no livro “Psicodrama, cinema e processos de subjetivação” (editora
FiloCzar/2016)

Um
dia especial
:
03 de dezembro, dia em que Maricenne completará 87 anos.
 

Conexão
Literatura
:
Deseja encerrar com mais algum comentário?
 

Elisabeth – Quero agradecer à Revista
Conexão Literatura, a oportunidade de contar alguns por menores sobre o livro
“Maricenne Costa – A cantora de voz colorida” que escrevi com muito carinho, em
homenagem à minha querida irmã.
 

Serviço: Livro: Maricenne Costa – A cantora de voz colorida
 

Autoras: Elisabeth
Sene-Costa e Laïs Vitale de Castro – Editora Álbum de Família

Preço: R$ 40,00 (edição
PB) e R$ 60,00 (edição colorida)

Onde comprar: elisabethsene@terra.com.br; ou www.loja.uiclap.com/livraria.

 

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