Confesso
que A sensação de setembro foi o único livro de Marcos Rey que pensei em
abandonar no meio – logo eu, fã convicto do escritor. Para começar a capa não
ajuda e talvez fosse mais adequada para um romance teen. E a trama demora
bastante a engrenar. Mas fui feliz em ir até o final, embalado mais pela boa
prosa de Rey do que pela trama em si: na terceira parte, o livro dá uma virada
e se torna uma interessantíssima comédia de erros ao melhor estilo de grandes
cineastas, como Billy Wilder (que aliás, é citado no livro).
que A sensação de setembro foi o único livro de Marcos Rey que pensei em
abandonar no meio – logo eu, fã convicto do escritor. Para começar a capa não
ajuda e talvez fosse mais adequada para um romance teen. E a trama demora
bastante a engrenar. Mas fui feliz em ir até o final, embalado mais pela boa
prosa de Rey do que pela trama em si: na terceira parte, o livro dá uma virada
e se torna uma interessantíssima comédia de erros ao melhor estilo de grandes
cineastas, como Billy Wilder (que aliás, é citado no livro).
A
história inicia com a morte de um industrial, alvejado por um vaso de flores
caído da janela de um velho maestro que vive sozinho com seu gato. A sequência
inicial é primorosa: “O vaso, delicada peça de cerâmica doméstica, verde-musgo,
com desenhos incaico, bamboleou no peitoril da janela do 13º andar, no
antiquado ritmo de conga, precipitou-se no espaço cinzento da tarde paulistana,
e adeus senhore Krememelbein”.
história inicia com a morte de um industrial, alvejado por um vaso de flores
caído da janela de um velho maestro que vive sozinho com seu gato. A sequência
inicial é primorosa: “O vaso, delicada peça de cerâmica doméstica, verde-musgo,
com desenhos incaico, bamboleou no peitoril da janela do 13º andar, no
antiquado ritmo de conga, precipitou-se no espaço cinzento da tarde paulistana,
e adeus senhore Krememelbein”.
A
partir da morte do empresário, a história se concentra na viúva, a gorda Duducha
e seu filho super-dotado, Rudi, cujo maior interesse é construir miniatura de
navios de guerra, que atiram de verdade. Como personagens secundários, o
psicólogo, preocupado com o fato de que o garoto não parece ter interesse pelo
sexo oposto (e que elabora uma trama para despertar-se a sexualidade usando uma
playmate – a tal sensação de setembro) e uma empregada doméstica negra, Claudete,
que acaba incendiando o geniozinho, mas enfrenta a feroz resistência de todos.
partir da morte do empresário, a história se concentra na viúva, a gorda Duducha
e seu filho super-dotado, Rudi, cujo maior interesse é construir miniatura de
navios de guerra, que atiram de verdade. Como personagens secundários, o
psicólogo, preocupado com o fato de que o garoto não parece ter interesse pelo
sexo oposto (e que elabora uma trama para despertar-se a sexualidade usando uma
playmate – a tal sensação de setembro) e uma empregada doméstica negra, Claudete,
que acaba incendiando o geniozinho, mas enfrenta a feroz resistência de todos.
A
história lembra muito as pornochanchadas, gênero cinematográfico (famoso no
Brasil na década de 1980) do qual Marcos Rey foi um dos principais roteiristas.
Nas pornochanchadas o erotismo é sempre mais insinuado que mostrado e quase
sempre envolto com um toque de humor.
história lembra muito as pornochanchadas, gênero cinematográfico (famoso no
Brasil na década de 1980) do qual Marcos Rey foi um dos principais roteiristas.
Nas pornochanchadas o erotismo é sempre mais insinuado que mostrado e quase
sempre envolto com um toque de humor.
Marcos
Rey brinca com o texto, como um craque que faz o que quer com a bola. Faz
referências à linguagem de cinema e de quadrinhos (“balõezinhos de histórias em
quadrinhos, cheios de exclamações, erguiam-se das mesas vizinhas”) e até mesmo
com a auto-censura: “E depois de todo esse baixo calão, e muito mais, que a mãe
do autor aconselhou eliminar, a moça Bruna caiu num pranto desesperador”). É
esse “brincar com a linguagem” que segura o leitor, prendendo-o até a virada
que transforma o livro na comédia de erros já aludida anteriormente.
Rey brinca com o texto, como um craque que faz o que quer com a bola. Faz
referências à linguagem de cinema e de quadrinhos (“balõezinhos de histórias em
quadrinhos, cheios de exclamações, erguiam-se das mesas vizinhas”) e até mesmo
com a auto-censura: “E depois de todo esse baixo calão, e muito mais, que a mãe
do autor aconselhou eliminar, a moça Bruna caiu num pranto desesperador”). É
esse “brincar com a linguagem” que segura o leitor, prendendo-o até a virada
que transforma o livro na comédia de erros já aludida anteriormente.