Anna Fox mora sozinha numa casa que outrora abrigara também a sua família. Ela está separada do marido e de sua filha Olívia, embora converse com eles. Conversas essas que podem ser amistosas ou estressantes.
O leitor notará logo no início da trama que ela sobre de uma fobia que a impede de circular por lugares abertos. Anna tem ágorafobia. Sua mãe já é falecida e seu pai faleceu logo depois de sua genitora (vitimado por um acidente vascular cerebral – AVC). Os dias de Anna passam com atividades que incluem observações dos vizinhos pela janela de sua casa, filmes que assiste aos montes, aconselhamentos que dá num site que reúne pessoas que tem algum tipo de fobia similar a que Anna possui (ela é psicóloga infantil), estudo de francês por ensino à distância e jogos de xadrez (online).
A observação inicial através da janela da residência, que dá início ao livro, remete a um caso de adultério praticado por Rita Miller. No entanto, não é essa vizinha quem toma a atenção total de Anna. Novos moradores chegam ao número 207, casa que fica localizada “do outro lado do parque”. Ali começam a morar Jane Russell, Alistair Russell e o filho do casal, Ethan. Eles é que despertam a curiosidade de Anna, que acompanha seus movimentos pela sua lente.
Certo dia, Anna recebe a visita inusitada de Jane Russell, que traz consigo uma garrafa de vinho (coisa que Anna adora). “Quer dizer então que a internet é tipo… sua janela para o mundo” – diz Jane para Anna, que retruca se referindo a janela da residência: “Não só a internet, mas essa outra aí também”.
A janela então, assume o papel de uma moldura pela qual fatos serão apresentados à protagonista da trama.
Em função de sua fobia e outros problemas que possui, Anna toma uma série de comprimidos como betabloqueadores, antipsicóticos, remédio contra depressão e incontinência urinária, além de drogas para dormir. Ela se atrapalha com os remédios que, combinados com a bebida alcoólica que consome, podem provocar estragos na percepção que Anna tem dos fatos.
Pela lente de sua máquina, através da janela, Anna vê uma cena terrível. Eis aqui todos os elementos necessários para o autor desenrolar a trama. Elementos que geram o enigma primordial da obra: O que Anna viu é uma paranoia ou realmente existiu?
Algumas impressões são dadas ao leitor, desde o início do livro. Informações essas que vão sendo deixadas para que o leitor interprete e analise o que aconteceu. O evento que Anna presencia pela janela faz com que ela acabe tentando se desvencilhar de sua ágorafobia, o que culmina numa crise de pânico “daquelas bem graves”.
O enigma proposto pelo autor perdura até o desfecho.
Os personagens Ethan, Jane, Alistair e David são enigmáticos. Sentimos na presença deles um ar de mistério em cena e uma dosagem de suspense que parece esconder-se em seus diálogos e ações. Como diria um dos personagens “nada é ‘necessariamente’ verdadeiro ou falso”. Mesmo Livy (Olívia) e Ed – filha e marido de Anna respectivamente – ensejam enigmas a serem desvendados pelo leitor ao longo da trama. Resumidamente poderíamos dizer que Ethan é um jovem solitário e aparentemente oprimido, Alistair é um homem durão e autoritário, Jane uma mulher estranha, David misterioso e com um passado que guarda segredos, Ed uma incógnita e Livy a preocupação de Anna. As pessoas com quem Anna se relaciona pelo site para dar conselhos também tem conversas enigmáticas e que guardam revelações.
A Mulher na Janela, livro de A. J. Finn, publicado no Brasil pela Editora Arqueiro (com tradução de Marcelo Mendes), é um thriller que prende a atenção do leitor desde a primeira página até a última. O desfecho é surpreendente e é possível ao leitor encontrar evidências sobre os acontecimentos nas páginas que o precedem.
Citando mais uma vez a frase do personagem que diz que “nada é ‘necessariamente’ verdadeiro ou falso”, podemos utilizá-la por completo, dizendo que no livro “nada é ‘necessariamente’ verdadeiro ou falso. Ou é verdadeiro ou não é. Ou é falso ou não é.” Parece confuso? Então, ficam algumas questões: O que Anna viu é falso ou verdadeiro? É verdadeiro e trata-se de um pedido de socorro? É falso, portanto fruto de sua imaginação ou do uso de remédios e bebida? Tem um pouco de falso e de verdadeiro, pois mescla realidade e imaginação? Bem, caro leitor, o que Anna viu e os impactos do que viu serão revelados.
No final do livro a trama se desenrola com mais agilidade, o que traz cenas rápidas, com muitos acontecimentos e fatos que podem pegar o leitor desavisado desprevenido. Mas não se assuste, pois tudo que ali está expresso se explica nas páginas do livro.
A. J. Finn, cujo nome real é Dan Mallory, construiu uma trama entrelaçada que nos faz mergulhar na mente da personagem que narra a história (Anna Fox). Ela é uma personagem complexa, com muitas nuances que podem gerar confusão em relação a seus atos, mas que ao mesmo tempo fascina. Há, sem dúvida, uma história cheia de mistérios que traz revelações nas entrelinhas, nos diálogos, nas referência cinematográficas que são citadas ao longo do livro (são várias, mais de quarenta) e a mescla de realidade e paranoia que parece rondá-la.
A Mulher na Janela é, sem dúvida, um livro surpreendente com uma escrita de tirar o fôlego.
Sobre o autor:
Formando em Oxford, A. J. Finn já foi crítico literário e escreveu para diversas publicações incluindo Los Angeles Times, The Washington Post e The Times Literary Supplement. A Mulher na Janela, seu primeiro romance, foi vendido para trinta e seis países e está sendo adaptado para o cinema numa grande produção da 20th Century Fox. Natural de Nova York, Finn viveu dez anos na Inglaterra antes de voltar para sua cidade natal, onde mora atualmente.
Ficha Técnica
Título: A Mulher na Janela
Escritor: A. J. Finn
Editora: Arqueiro
Edição: 1ª
ISBN: 978-8041-832-3
Número de Páginas: 352
Ano: 2018
Assunto: Ficção americana