Nascido em São Paulo/SP, em 17 de agosto de 1968. Formado em Medicina pela Instituição Lusíadas Santos/SP, em 1992. Com várias incursões na graduação – na busca de preencher suas lacunas -, em Letras (USP – 3 anos), Direito (Inst. Toledo -3 anos), e Filosofia (Unisinos 3 anos); atualmente exerce o Cargo de Diretor Técnico do Hospital de Pronto Socorro de Canoas/RS.
A literatura sempre esteve presente em sua vida, desde a juventude; leitor ávido e escritor independente até 2024, quando passou a integrar (por um período de 3 anos) a equipe da Editora Ases da Literatura.
É casado com Alexandra e é pai de 3 filhos: Ana, João e José.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
A. A. A. Fernandes: Na verdade meu meio sempre foi o literário, sou um leitor compulsivo, mas minha formação seguiu os padrões para a época, sou de 1968, e portanto, não tínhamos a liberdade de escolha que hoje vislumbramos. Segui a formação em medicina, depois que a família decidiu ser o caminho das ‘humanidades’ (letras e filosofia, a escolha originaria), ser nada ‘pragmático’. Mas segui no meu caminho, escrevendo sempre. Depois da Faculdade de Medicina, e já parcialmente independente nas escolhas, entrei para a FFLCH/USP -Letras, e segui por três anos, quando nasceu Beatriz, minha filha e luz. Voltei para a vida ‘prática’, e os baús foram se enchendo de manuscritos. Quando meu ultimo filho, José, se formou e começou a compartilhar as leituras, me incentivou a retomar a escritura em um nível mais, digamos, disciplinar. O ano de 2024 foi um ano de dificuldades, mas de grandes terminalizações: o livro, o resgate no hospital, e a ultimação da formação de meus filhos. Posso me dedicar aos próximos passos de minha vida retomada…
Conexão Literatura: Você é autor do livro “Errantes do Pensamento: O segredo de Poggio: Uma rapsódia Filosófica”. Poderia comentar?
A. A. A. Fernandes: Errantes é um projeto de escrita, onde tento retomar a importância do Leitor, não do leitor de fragmentos, não o leitor não comprometido, mas O Leitor, quero provocar, estimular a Leitura. O livro possui um enredo axial, onde coloco a Teoria atômica e do Acaso, materialista, de Epicuro retomada por Lucrécio e o achado deste texto, aleatoriamente, pelo personagem histórico, Poggio. No De rerum natura, de Lucrécio, que é um dos poemas-pedagógicos mais belos e instigantes da literatura, há um final, o livro 6, que trata da Praga de Atenas; é um final angustiante, que nunca aceitei, e sempre imaginei o Sétimo Livro; um livro de retomada, de ressurgimento; esse o fio condutor. No Romance, ‘meu’ Poggio é um paciente da Ala Mental de um hospital – O Santa Dedálica [a contradição da escolha deste nome será ampliada nos próximos textos] -; um paciente com uma suposta ‘esquizofrenia’- neste ponto teremos uma abordagem onde a esquizo-análise e a Esquizo-Rapsodia do volume 2 irá aprofundar. Pois bem, neste hospital trabalha o medico Urbano, um neurocirurgião que queria ser filosofo, ou um filosofo-literato cirurgião, que evoluiu para uma crise existencial e acabou por ser internado; vivenciando assim sua viragem (clinamen lucreciano) e uma nova abordagem da vida e, inclusive, dessa medicina de resultados (que não está indo nada bem – precisamos voltar para a beira-leito, para o contato com o corpo; isso será abordado no segundo volume, onde o personagem – o ‘corpo sem orgãos’ será Paracelso); O personagem Urbano traz em si sua própria narrativa, acompanhado de seus amigos de infância: J., o psiquiatra, e Asmin, o filosofo. Procurei seguir uma narrativa onde os fragmentos se interpenetram; onde as notas de rodapé (critica à nossa atividade acadêmica hiperreferenciada), façam da narrativa um conglomerado multi-fragmentado de cenas e focos, reunidos ao leitor em um único singular.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
A. A. A. Fernandes: Eu não diria ter um processo de criação. Tenho em mim um projeto narrativo; ideias que quero compartilhar e discutir; como em um campo aberto; imagino meus leitores a se questionarem, e sento para responder aos meus dilemas. Procuro seguir uma rotina de escrita diária: escrevo obrigatoriamente pelo menos uma hora por dia para escrever; reescrevo meus textos a modo de ‘cebola’, vou reescrevendo em cima de ideias; dos blocos de notas para as series de arquivos no Word; uma espécie de palimpsesto das ideias ruminadas.
Conexão Literatura: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
A. A. A. Fernandes: Prefiro deixar o leitor abrir o livro aleatoriamente e deixar-se captar por algum fragmento que o faça ter vontade de mergulhar em uma leitura individual.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
A. A. A. Fernandes: O Livro esta disponível na plataforma da Amazon. Tenho um perfil no Instagram totalmente voltado para a obra que se iniciou com o ‘Errantes’.
Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?
A. A. A. Fernandes: Este é um dos meus grandes temas também; tenho uma personagem: a Maria Q., da Biblioteca Randômica, ou biblioteca viva, que é alucinada pelo bibliotecário real Marrocos, e anti-Gutenberg, ou critica da ‘reprodutibilidade tecnica’ (um sentido de aura de Baudelaire e Benjamin da obra de arte); e a critica que tem que ser exposta é de que, na América Portuguesa (tenho um personagem; O Iluso, que é uma espécie de Mefisto-português); a leitura foi proibida por mais de 300 anos, assim como a prensa; dai o personagem e tal. Ao contrario da America espanhola, onde universidades e prensas existiam desde seus colonizamentos. Não que se justifique, mas ler é uma atividade complexa, exige um certo estado de estabilidade do povo; que está sempre em voltas de suas sobrevivência e existência. O que me incomoda é que, por ser uma nação continental, a cada autor brasileiro que surge poderíamos ter mais de 200 milhões de leitores, e alçarmo-nos em importância de língua e cultura. Precisamos urgentemente estimular a leitura, mas não a leitura de rolamento de paginas na internet, e sim de textos que fustiguem e incomodem o leitor, como queria Kafka; e com o Errantes eu tento valorizar este leitor hibernado de cada um nós, hibernado, mas ávido, tenho certeza.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
A. A. A. Fernandes: Sim, o volume 2 já está em fase de revisão: Arquillibristas do Pensamento: A Escolha de Oporino ou Outra Rapsodia Filosofica.
Perguntas rápidas:
Um livro: (muito difícil escolher) S. Beckett (Murphy, Watt, Malone Morre, Molloy, Inominado) (acompanhado da leitura de Deleuze); Osman Lins (Avalovara), Nietzsche (tudo); Lucrecio (Natureza das Coisas), Apuleio (Asno de Ouro); Dostoievski (Karamazov, Memorias do Subsolo); Hugo (Miseraveis); Musil (Homem sem qualidades); Albert Camus (tudo); Mia Couto (Terra Sonambula); Saramago (Ano da morte de R.Reis); Schelling e Espinosa; Joyce (Ulysses); etc… muito difícil esta escolha…
Um hobby: Leitura
Um dia especial: Dia 05 de maio de 2024, o resgate no hospital inundado, a publicação do Errantes; uma ‘viragem’.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado de Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo”, “Contos e Poemas Assombrosos” e outras. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com