Danielle Bassi nasceu e passou metade da sua vida no Brasil antes de embarcar em uma jornada que a levou à Itália. Depois de se formar em Ciências Políticas e Relações Internacionais, ela se mudou para o Reino Unido, onde iniciou sua breve carreira como jornalista freelance.
Danielle teve artigos publicados em veículos de destaque como The Guardian, The Global Post e The Geographical Magazine. Há cerca de nove anos, ela decidiu se dedicar ao seu primeiro romance, ‘O Bebê da Fotografia’. Hoje, ela mora na Itália com o marido e a filha.
ENTREVISTA:
Conexão Literatura: Poderia contar para os nossos leitores como foi o seu início no meio literário?
Danielle Bassi: Em 2012, após escrever um artigo sobre minha experiência como voluntária com uma minoria árabe no norte de Israel, decidi que queria me tornar jornalista. Era um período difícil; eu estava muito infeliz profissionalmente e à procura de uma profissão que me realizasse. De repente, descobri que escrever me dava muito prazer e decidi investir nisso. Fiz um curso de jornalismo e comecei a enviar propostas de artigos para vários jornais. Na época, eu morava na Inglaterra e meu primeiro artigo foi publicado no The Guardian. Consegui publicar mais alguns artigos, mas nada que me permitisse ganhar o suficiente para sobreviver. Fui obrigada a conseguir um emprego na área de Atendimento ao Cliente, dada minha vasta experiência, e decidi que, já que não conseguiria sobreviver como jornalista freelance, escreveria um livro.
Conexão Literatura: Você é autora do livro “O bebê da fotografia”. Poderia comentar?
Danielle Bassi: No final dos anos 90, fazíamos parte de um grupo de famílias que recebia e hospedava estudantes que participavam de um programa de intercâmbio no Brasil. Foi então que conheci uma estudante americana que havia nascido no Brasil e sido adotada ainda recém-nascida. Além de conhecer a cultura do país onde tinha nascido, ela queria muito encontrar sua família biológica. O único indício que ela tinha à disposição era uma foto. Eventualmente, ela encontrou a família.
Sinceramente, o contato que tive com essa garota foi muito esporádico. Nem mesmo me lembro de como ela se chamava. Anos mais tarde, quando decidi escrever um livro que realmente explorasse a realidade brasileira, a história de uma mulher que voltava ao Brasil em busca de suas raízes me pareceu perfeita.
Quando comecei a pesquisar a questão da adoção internacional no Brasil para dar um contexto à personagem, tive a certeza de que estava no caminho certo. Descobri um pedaço da nossa história recente, esquecido e ignorado: durante a ditadura brasileira, crianças carentes eram uma das ‘mercadorias’ que nosso país exportava. Esse ‘mercado’ alimentava uma rede de profissionais que lucrava com a desgraça alheia. Essa história precisava ser contada.
Conexão Literatura: Como é o seu processo de criação? Quais são as suas inspirações?
Danielle Bassi: Estou constantemente à procura de assuntos pouco conhecidos ou pouco discutidos. Foi o breve período em que trabalhei como jornalista freelance que me deixou essa marca. Uma vez que encontro esse nicho, tento criar personagens e situações que, da melhor maneira possível, transmitam a mensagem e quebrem tabus. A pesquisa também é um fator crucial quando se lida com temas delicados. De fato, enquanto escrevia ‘O Bebê da Fotografia’, li vários livros e assisti a horas de documentários sobre adoção internacional e fundamentalismo religioso, que são o cerne do meu livro. Também entrevistei juízes e pessoas que foram traficadas ilegalmente. Para mim, credibilidade e respeito pelo leitor são fundamentais.
Ana Rita de Calazans Perine: Poderia destacar um trecho do seu livro especialmente para os nossos leitores?
Ao olhar para cima, meu coração começou a bater forte instantaneamente. Por um bom momento, não dissemos nada um ao outro. Procurei os recursos que denunciaram meu amigo de infância: o tamanho de suas mãos e seu sorriso. Sim, era ele.
— Achei que você nunca voltaria.
Tentei esconder meus sentimentos, enxugando as lágrimas do rosto. Fiquei com vergonha de reagir dessa forma.
Eusébio me ofereceu a mão. Ele estava tremendo. Apesar de todos esses anos separados, parecia estranho agir formalmente, pelo menos para mim. A situação fez com que o longo abraço que trocamos há mais de trinta anos parecesse algo saído de um sonho.
— Nunca pensei que você ainda estaria aqui, no mesmo bar, fazendo a mesma coisa. — Eusébio parou por um segundo enquanto observava o último lugar que esteve antes de deixar a cidade. — Eu… eu me sinto mal, porque sempre prometemos um ao outro que sairíamos da cidade juntos. Eu sinto muito.
— Onde você esteve todos esses anos? — Não consegui esconder minha felicidade. Na minha frente, não vi nenhum tele-evangelista famoso que construiu templos evangélicos por todo o país. Ele era meu amigo mais velho, que durante todos esses anos eu acreditava estar morto. Apesar da mudança drástica nele, não pude negar que o momento em que o vi de perto novamente foi um dos mais felizes da minha vida.
— É uma longa história, irmão. Eu nem sei por onde começar.
Conexão Literatura: Como analisa a questão da leitura no Brasil?
Danielle Bassi: A questão da leitura no Brasil foi essencial para que eu decidisse escrever minha primeira obra em inglês. Comecei a escrever ‘O Bebê da Fotografia’ ainda em 2015 e, na época, fui completamente desencorajada a escrever um livro em português. As editoras tradicionais eram praticamente inalcançáveis, e publicar um livro de forma independente também era muito árduo. Além disso, não pude ignorar o fato de que o livro ainda é um artigo de luxo para muitos em nosso país. Tampouco se cultiva o hábito da leitura, que acredito ser hereditário. O impacto de ter um adulto leitor em casa é muito encorajador para uma criança. Infelizmente, a leitura não é uma realidade na maioria das famílias brasileiras.
Conexão Literatura: Como o leitor interessado deve proceder para adquirir o seu livro e saber um pouco mais sobre você e o seu trabalho literário?
Danielle Bassi: ‘O Bebê da Fotografia’ está disponível na versão ebook na Amazon e, por enquanto, na versão física somente na Uiclap. Para saber mais sobre meu trabalho, acesse meu site daniellebassi.com. Lá, o leitor também terá acesso a todos os perfis sociais que mantenho.
Conexão Literatura: Existem novos projetos em pauta?
Danielle Bassi: Absolutamente sim, embora eu ainda esteja muito engajada na promoção e divulgação de ‘O Bebê da Fotografia’ neste momento. Nos próximos meses, espero publicá-lo aqui na Itália, então o trabalho de divulgação continua. Porém, não vejo a hora de encontrar tempo para sentar e escrever meu próximo romance. Aliás, já tenho em mente pelo menos outros cinco livros.
Perguntas rápidas:
Um livro: Só um? O Evangelho Secondo Jesus Cristo, José Saramago
Um ator ou atriz: Fernanda Montenegro
Um filme: Central do Brasil
Um hobby: Ler
Um dia especial: O dia do nascimento da minha filha
Conexão Literatura: Deseja encerrar com mais algum comentário?
Danielle Bassi: Meus livros preferidos deixaram uma marca que permanece dentro de mim mesmo anos depois de tê-los lido. Quero que meus livros não sejam apenas um passatempo agradável. Meu objetivo principal é questionar a interpretação que o leitor tem do mundo. Minha tarefa não é nada fácil, e foi por isso que demorei quase nove anos para publicar ‘O Bebê da Fotografia’. Felizmente, a maioria das avaliações que recebi desde a publicação do romance em inglês comprova que consegui atingir meu objetivo. Espero tocar o coração dos leitores brasileiros da mesma maneira. A opinião de vocês é muito importante para mim.
Paulista, escritor e ativista cultural, casado com a publicitária Elenir Alves e pai de dois meninos. Editor da Revista Conexão Literatura (https://www.revistaconexaoliteratura.com.br) e colunista da Revista Projeto AutoEstima (http://www.revistaprojetoautoestima.com.br). Fã de Edgar Allan Poe. Chanceler na Academia Brasileira de Escritores (Abresc). Associado da CBL (Câmara Brasileira do Livro). Participou em mais de 100 livros, tendo contos publicados no Brasil, México, China, Portugal e França. Publicou ao lado de Pedro Bandeira no livro “Nouvelles du Brésil” (França), com xilogravuras de José Costa Leite. Organizador do livro “Possessão Alienígena” (Editora Devir) e “Time Out – Os Viajantes do Tempo” (Editora Estronho). Fã n° 1 de Edgar Allan Poe, adora pizza, séries televisivas e HQs. Autor dos romances “Jornal em São Camilo da Maré” e “O Clube de Leitura de Edgar Allan Poe”. Entre a organização de suas antologias, estão os títulos “O Legado De Edgar Allan Poe”, “Histórias Para Ler e Morrer de Medo” e outros. Escreveu a introdução do livro “Bloody Mary – Lendas Inglesas” (Ed. Dark Books). Contato: ademirpascale@gmail.com